Dívida Pública
Portugal está no 'top 20' dos países mais endividados do mundo
Pedro Duarte
11/04/09 16:30
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O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, estima que a dívida portuguesa deverá situar-se nos 70,5% do PIB em 2010, abaixo da previsão da OCDE.
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A crise financeira tem estado a colocar pressão sobre os orçamentos de todos os países. Saiba quais são as nações mais endividadas do planeta.
O título de país mais endividado do mundo em 2008 pertence ao Zimbabué, uma nação africana empobrecida pelo isolamento internacional e cuja dívida ascendeu em 2008 aos 241% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Já em segundo lugar surge o Japão, sendo que a segunda maior economia do mundo deve 170% do seu PIB devido às despesas decorrentes dos vários pacotes de estímulo económico lançados desde os anos 90 para tentar reanimar a economia do país.
Entre os dez países mais endividados destaque também para a Itália na sexta posição, uma vez que deve 103% do seu Produto Interno Bruto, enquanto a Grécia aparece no oitavo lugar, com uma dívida que ascende aos 90,10% do PIB, segundo um 'ranking' da CIA com estimativas para 2008.
Portugal surge na 19ª posição, sendo que o Governo estima que o país devia em 2008 o equivalente a 65,9% da riqueza total produzida durante um ano, embora a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aponte para um valor superior, de 70,2%.
Ainda assim, a dívida portuguesa está ao nível da alemã e em melhor situação do que a francesa.
Este ano, os planos de estímulo económico, combinados com os apoios às empresas e ao sector financeiro anunciados pelos vários governos, criaram fortes pressões sobre os orçamentos nacionais, ao aumentarem de modo considerável as despesas e, por conseguinte, a dívida que os países contraem para se financiar.
Os analistas têm alertado em particular para os riscos existentes em alguns países da zona euro, nomeadamente a Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal, que viram todos a avaliação da sua dívida ser revista em baixa pela agência de notação internacional Standard & Poor’s.
Recentemente, altos responsáveis alemães revelaram mesmo que a União Europeia se encontra a planear um plano de auxílio económico à Grécia e à Irlanda para evitar que estas nações entrem em bancarrota, ameaçando a estabilidade do euro. Para evitar este desfecho, o Governo irlandês anunciou esta semana um orçamento de emergência, com aumento dos impostos e contenção das despesas, combatendo o que classificou de "grave situação orçamental".
A situação portuguesa
Portugal, contudo, não está numa situação tão dramática como as dos outros países mais endividados. Embora a OCDE estime que a dívida pública nacional venha a atingir os 85,9% do PIB em 2010, os especialistas consideram que as contas nacionais “ainda estão longe dos níveis” das irlandesas, gregas ou mesmo das italianas.
Para Paula Carvalho, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, “a dívida portuguesa ainda não se aproxima dos 100% do PIB”, valor em que o endividamento de uma nação começa a ser realmente preocupante, tendo o país “alguns fundamentos económicos positivos”.
O problema das finanças portuguesas, frisa esta perita, é de que o país está “a ser arrastado pelo exterior”, não existindo o risco de Portugal entrar em incumprimento. Uma prova disso é o facto do ‘spread’ da dívida pública portuguesa ter vindo a cair, sendo que esta semana o país conseguiu mesmo emitir dívida ao preço mais baixo dos últimos quatro anos.
“O risco das outras nações baseia-se mais na exposição cambial. Portugal tem um risco mais pequeno, por ter dívida emitida em euros", ao mesmo tempo que "os portugueses são conservadores” no seu endividamento, nota Paula Carvalho.
Diferenças face aos outros países
Apesar de ser um dos países com que Portugal se tem comparado, a Grécia apresenta uma diferença crucial que se prende com “a falta de clareza” que as contas deste país sempre apresentaram. “Não se percebiam bem as coisas. Com a crise, as verdades vêm ao de cima”, nota a mesma especialista.
Relativamente à Irlanda, país apontado várias vezes como um modelo a seguir por Portugal, e frequentemente referido em anos passados como o "Tigre Celta" devido ao dinamismo da sua economia, as diferenças são ainda maiores. O modelo de desenvolvimento irlandês, valendo-se do facto da língua inglesa estar profundamente difundida no país "baseia-se em altos níveis de investimento directo estrangeiro, combinados com baixos impostos e elevado endividamento", explica Paula Carvalho. É um modelo que, embora tenha sido tentado em Portugal, nunca se enraizou na sociedade nacional.
Já a Itália tem um perfil de risco mais semelhante ao português, apesar de ter uma dívida superior aos 100% do PIB, mas beneficia do facto do país ter “mais vantagens” do que Portugal, em particular devido à sua dimensão, população, cultura financeira e de estar fisicamente próximo das grandes potências europeias.
Os peritos sublinham também que um ponto importante a ter em conta ao analisar o nível de endividamento de um país é o de verificar não só quanto é que este país deve, mas também quanto é que outras nações lhe devem a ele. Por isso é que o Japão, que tem de longe a maior dívida entre dos países desenvolvidos, não se encontra na mesma situação do Zimbabué – os juros que o Japão recebe pela dívida dos outros países (em particular dos EUA) contrabalançam os pagamentos que tem que fazer pela sua própria dívida