
Fevereiro de 2009
Título: The Complete TurtleTrader: The Legend, the Lessons, the Results
Autor: Michael W. Covel
Editora: Collins
Ano: 2007
O livro de Fevereiro tem uma particularidade interessante: provavelmente nunca o teria comprado e lido se não fossem alguns comentários que surgiram (não exclusivamente aqui) ao livro de Janeiro, "Way of the turtle" do Curtis Faith.
Em virtude desses comentários resolvi explorar um pouco melhor a experiência das tartarugas para esclarecer algumas questões. Foi assim que descobri o "The Complete TurtleTrader" do Micheel W. Covel, o qual é também autor do bestseller "Trend Follwing".
Uma das questões mais controversas está, provavelmente, relacionada com o autor do "Way of the turtle". O mês passado escrevi que "Faith foi o melhor aluno de Richard Dennis". Efectivamente Curtis Faith foi descrito pelo Wall Street Journal, em 1989, como "the most successful Turtle".
Acontece, contudo, que a questão não é assim tão linear. O WSJ noticiou que Curtis fez aproximadamente $31.5 milhões durante a experiência das tartarugas. Independentemente da questão relativamente à existência ou não de registos que comprovem esta performance, a questão fundamental é que o montante que o Curtis chegou a gerir era muito superior (chegou a ser cerca de 20 vezes superior) ao dos outros colegas. Isto depois da afectação de recursos decidida por Richard Dennis porque, inicialmente, todas as tartarugas começaram por gerir o mesmo montante.
Evidentemente que, muito mais do que o valor absoluto, interessava saber o valor relativo e, também, o risco da estratégia. E é precisamente aqui que as vozes mais criticas se voltam novamente contra Curtis acusando-o de não obedecer às regras básicas que lhes foram ensinadas e de correr um risco excessivo. Mas se Curtis Faith corre um risco excessivo com o dinheiro de Richard Dennis (o mentor desta experiência) e nem sempre cumpre as regras que lhe foram ensinadas por este e pelo seu sócio, William Eckhardt, porque razão é que no ano seguinte Curtis vê o saldo da sua conta consideravelmente aumentado e outros colegas com estratégias de menor risco e cumpridores das regras vêem, pelo contrário, reduzida a sua conta?
Nesta fase é muito importante notar o seguinte: as tartarugas eram remuneradas, exclusivamente, com uma percentagem dos seus resultados. Portanto, mesmo perante a mesma rentabilidade anual, uma conta 20 vezes maior representa uma remuneração anual também 20 vezes maior. A percepção por parte das outras tartarugas de uma enorme injustiça no processo de distribuição do dinheiro acende o rastilho de uma inveja explosiva. A racionalidade, indispensável ao sucesso nos mercados, começa a dar lugar aos sentimentos e emoções mais profundos. Chegando-se a dizer que Curtis Faith era o preferido de Richard Dennis.
E embora o processo de distribuição do dinheiro permaneça um mistério o certo é que a tese de que Richard Dennis estava a fazer uma experiência dentro da experiência é, pura e simplesmente, genial. Imagine-se, precisamente ao contrário do que seria esperado, premiar a tartaruga que menos cumpria as regras e que mais risco corria? A influência psicológica que tudo isto tem (ou pode ter se os traders se deixarem afectar pela emoção em vez da razão) é fenomenal. E a influência não é só nos outros (teoricamente os alvos da injustiça) mas também no próprio Curtis Faith que vê o incumprimento das regras e o elevado risco altamente premiados. Qual a influência psicológica que isto terá nele próprio e nos outros, ou melhor, nas suas performances e na percepção e gestão do risco?
Se Richard Dennis o fez com esta intenção oculta, só tenho uma palavra para descrever: genial!
Mas será sensato colocar grande parte da sua fortuna em risco? Sobretudo aumentado a conta sob gestão do trader Curtis? Bem, o autor defende a possibilidade de Richard Dennis ter assumido posições contrárias às de algumas das tartarugas em alguns momentos. Uma elementar questão de bom senso que vem demonstrar como é possível testar, experimentar, sem correr riscos insensatos.
Curiosamente riscos insensatos correu Richard Dennis durante longos anos sem sequer o saber. E porquê?
Porque Dennis construiu toda a sua estratégia assente exclusivamente no conhecimento comum, aquele que decorre da experiência prática. Ele era um seguidor de David Hume e John Locke, os quais advogam uma forma relativamente simples de ver o mundo. Hume pensava que a mente funcionava como uma espécie de tabula rasa na qual a experiência podia ser escrita. Dennis, defensor desta filosofia, aplicou-a durante alguns anos com sucesso no trading pit.
Um dia, durante aqueles longos períodos de espera por uma nova tendência, um grupo de quatro tartarugas (Tom Shanks, Paul Rabar, Erle Keefer e Jiri Svoboda) organizaram-se para fazer trading research. Basicamente o seu objectivo era validar (cientificamente, entenda-se!) as regras que lhes tinham sido ensinadas e pelas quais eles próprios "jogavam".
Enquanto o resto das tartarugas liam jornais desportivos ou jogavam ping-pong nas mesas disponibilizadas para o efeito na empresa, este grupo de quatro estudou, testou e chegou a resultados concretos que chocaram a experiência. Eles concluíram que estavam a correr um risco excessivo e para lá do que todos imaginavam.
Mesmo cumprindo escrupulosamente todas as regras este alunos descobriram, e provaram, que em vez de uma perda máxima de 50% no pior cenário estavam, efectivamente, a correr um risco de perda de 80%! Comunicar isto aos mestres não era fácil pois, segundo Cover, e passo a citar, «Dale Dellutri had somewhat arrongantly said to the Turtle «"If you guys ever invent anything bring it to us"».
Mas foi o que veio a acontecer, tal como em muitos outros casos, os alunos ultrapassaram os seus próprios professores que tinham a atitude, algo arrogante de, e passo novamente a citar o autor, "we know this trading cave, and we know better than anyone else".
Conclusão, foi distribuído a todas as tartarugas um memorando oficial do próprio Richar Dennis dizendo para reduzir em 50% todas as posições. "Egos must have been bruised when those four turtles beat Dennis and Eckhardt at their own game", concluí Michael W. Covel no final do sétimo capítulo do "The Complete TurtleTrader".
Um abraço,
Tiago
Outras leituras
edit: 1. itálico em tabula rasa 2. mês 3. erro gramatical
Título: The Complete TurtleTrader: The Legend, the Lessons, the Results
Autor: Michael W. Covel
Editora: Collins
Ano: 2007
O livro de Fevereiro tem uma particularidade interessante: provavelmente nunca o teria comprado e lido se não fossem alguns comentários que surgiram (não exclusivamente aqui) ao livro de Janeiro, "Way of the turtle" do Curtis Faith.
Em virtude desses comentários resolvi explorar um pouco melhor a experiência das tartarugas para esclarecer algumas questões. Foi assim que descobri o "The Complete TurtleTrader" do Micheel W. Covel, o qual é também autor do bestseller "Trend Follwing".
Uma das questões mais controversas está, provavelmente, relacionada com o autor do "Way of the turtle". O mês passado escrevi que "Faith foi o melhor aluno de Richard Dennis". Efectivamente Curtis Faith foi descrito pelo Wall Street Journal, em 1989, como "the most successful Turtle".
Acontece, contudo, que a questão não é assim tão linear. O WSJ noticiou que Curtis fez aproximadamente $31.5 milhões durante a experiência das tartarugas. Independentemente da questão relativamente à existência ou não de registos que comprovem esta performance, a questão fundamental é que o montante que o Curtis chegou a gerir era muito superior (chegou a ser cerca de 20 vezes superior) ao dos outros colegas. Isto depois da afectação de recursos decidida por Richard Dennis porque, inicialmente, todas as tartarugas começaram por gerir o mesmo montante.
Evidentemente que, muito mais do que o valor absoluto, interessava saber o valor relativo e, também, o risco da estratégia. E é precisamente aqui que as vozes mais criticas se voltam novamente contra Curtis acusando-o de não obedecer às regras básicas que lhes foram ensinadas e de correr um risco excessivo. Mas se Curtis Faith corre um risco excessivo com o dinheiro de Richard Dennis (o mentor desta experiência) e nem sempre cumpre as regras que lhe foram ensinadas por este e pelo seu sócio, William Eckhardt, porque razão é que no ano seguinte Curtis vê o saldo da sua conta consideravelmente aumentado e outros colegas com estratégias de menor risco e cumpridores das regras vêem, pelo contrário, reduzida a sua conta?
Nesta fase é muito importante notar o seguinte: as tartarugas eram remuneradas, exclusivamente, com uma percentagem dos seus resultados. Portanto, mesmo perante a mesma rentabilidade anual, uma conta 20 vezes maior representa uma remuneração anual também 20 vezes maior. A percepção por parte das outras tartarugas de uma enorme injustiça no processo de distribuição do dinheiro acende o rastilho de uma inveja explosiva. A racionalidade, indispensável ao sucesso nos mercados, começa a dar lugar aos sentimentos e emoções mais profundos. Chegando-se a dizer que Curtis Faith era o preferido de Richard Dennis.
E embora o processo de distribuição do dinheiro permaneça um mistério o certo é que a tese de que Richard Dennis estava a fazer uma experiência dentro da experiência é, pura e simplesmente, genial. Imagine-se, precisamente ao contrário do que seria esperado, premiar a tartaruga que menos cumpria as regras e que mais risco corria? A influência psicológica que tudo isto tem (ou pode ter se os traders se deixarem afectar pela emoção em vez da razão) é fenomenal. E a influência não é só nos outros (teoricamente os alvos da injustiça) mas também no próprio Curtis Faith que vê o incumprimento das regras e o elevado risco altamente premiados. Qual a influência psicológica que isto terá nele próprio e nos outros, ou melhor, nas suas performances e na percepção e gestão do risco?
Se Richard Dennis o fez com esta intenção oculta, só tenho uma palavra para descrever: genial!
Mas será sensato colocar grande parte da sua fortuna em risco? Sobretudo aumentado a conta sob gestão do trader Curtis? Bem, o autor defende a possibilidade de Richard Dennis ter assumido posições contrárias às de algumas das tartarugas em alguns momentos. Uma elementar questão de bom senso que vem demonstrar como é possível testar, experimentar, sem correr riscos insensatos.
Curiosamente riscos insensatos correu Richard Dennis durante longos anos sem sequer o saber. E porquê?
Porque Dennis construiu toda a sua estratégia assente exclusivamente no conhecimento comum, aquele que decorre da experiência prática. Ele era um seguidor de David Hume e John Locke, os quais advogam uma forma relativamente simples de ver o mundo. Hume pensava que a mente funcionava como uma espécie de tabula rasa na qual a experiência podia ser escrita. Dennis, defensor desta filosofia, aplicou-a durante alguns anos com sucesso no trading pit.
Um dia, durante aqueles longos períodos de espera por uma nova tendência, um grupo de quatro tartarugas (Tom Shanks, Paul Rabar, Erle Keefer e Jiri Svoboda) organizaram-se para fazer trading research. Basicamente o seu objectivo era validar (cientificamente, entenda-se!) as regras que lhes tinham sido ensinadas e pelas quais eles próprios "jogavam".
Enquanto o resto das tartarugas liam jornais desportivos ou jogavam ping-pong nas mesas disponibilizadas para o efeito na empresa, este grupo de quatro estudou, testou e chegou a resultados concretos que chocaram a experiência. Eles concluíram que estavam a correr um risco excessivo e para lá do que todos imaginavam.
Mesmo cumprindo escrupulosamente todas as regras este alunos descobriram, e provaram, que em vez de uma perda máxima de 50% no pior cenário estavam, efectivamente, a correr um risco de perda de 80%! Comunicar isto aos mestres não era fácil pois, segundo Cover, e passo a citar, «Dale Dellutri had somewhat arrongantly said to the Turtle «"If you guys ever invent anything bring it to us"».
Mas foi o que veio a acontecer, tal como em muitos outros casos, os alunos ultrapassaram os seus próprios professores que tinham a atitude, algo arrogante de, e passo novamente a citar o autor, "we know this trading cave, and we know better than anyone else".
Conclusão, foi distribuído a todas as tartarugas um memorando oficial do próprio Richar Dennis dizendo para reduzir em 50% todas as posições. "Egos must have been bruised when those four turtles beat Dennis and Eckhardt at their own game", concluí Michael W. Covel no final do sétimo capítulo do "The Complete TurtleTrader".
Um abraço,
Tiago
Outras leituras
edit: 1. itálico em tabula rasa 2. mês 3. erro gramatical