<b>Correndo contra o vento - A desvantagem do investidor...</b>
Não é pouco vulgar ouvir-se dizer que a probabilidade de acertar num trade, à partida para esse trade, é de 50%. Uma das razões que faz com que esse pressuposto não seja necessariamente verdadeiro no mundo real prende-se com os diversos factores que penalizam o investidor assim que este resolve assumir uma posição. O investidor joga sempre contra o vento...
De seguida enumerarei algumas das potenciais desvantagens competetivas do investidor. Não me ficarei pelos custos associados ao <i>trading</i>, tentarei ir mais longe e enumerar desvantagens competitivas num sentido mais lato, umas mais consensuais outras menos, presumo...

<b>Comissões e Taxas</b>
Não poderia deixar de enumerar os custos associados às comissões e taxas que recaiem sobre cada movimento em primeiro lugar - é o mais evidente custo e mais evidente desvantagem. Se poucos se esquecerão destes custos, mais do que esses considerarão apenas estes - um erro comum.
As comissões variam de investidor para investidor e de produto financeiro para produto financeiro. Afectam a performance do investidor tanto mais quanto mais intensivo for o ritmo de <i>trading</i>. Se a estratégia for intensiva, agressiva, recorrendo a um número elevado de <i>trades</i>, a questão das comissões e taxas ganha relevo. As formas de contornar esta desvantagem são fáceis de enumerar, mais difíceis de executar: aumentar a taxa de acerto; aumentar o rácio valor_médio_dos_ganhos <i>versus</i> valor_médio_das_perdas. Em qualquer dos casos o objectivo é o mesmo - aumentar o ganho médio por <i>trade</i>. Este ganho médio tem de superar claramente o custo médio do <i>trade</i>. Não pode superar marginalmente pois existem outros custos para além deste, como veremos mais adiante.
Mais ainda, não é pouco comum o custo associado às comissões e taxas não ser sequer o custo mais significativo. Pode ser superado por outros custos isoladamente ou pelo conjunto dos restantes custos, dependendo da estratégia, do tipo de investimento e produto financeiro e da intensidade/frequência do <i>trade</i>.
Para uma dada estratégia com um determinado rácio de ganhos <i>versus</i> perdas, uma das formas de reduzir o impacto das comissões é o de recorrer a produtos alavancados, mais arriscados e que só se justificam caso a estratégia esteja apurada. Por si, os produtos alavancados não garantem maior sucesso ou maior rentabilidade. Apenas garantem... maior risco!

<b>Spreads Bid/Ask</b>
Talvez o segundo mais evidente e ainda entre os <i>menos esquecidos</i>. O Spread Bid/Ask pode ser gerado naturalmente quer pelo mercado (compradores/vendedores) quer por Market Makers em produtos financeiros cuja liquidez seja assegurada parcial ou totalmente por Market Makers (casos de CFD's e Warrants por exemplo). O Spread reflecte nestes casos o risco que este assume e os custos em que este incorre no decorrer da sua actividade de forma que se torna usual vermos os Spreads aumentarem em certos produtos quando o mercado se encontra em condições anormais representando um risco acrescido - estas condições anormais tanto podem ser um incremento de volatilidade no mercado como por exemplo o Market Maker lidar em determinado momento ou em determinado produto com investidores bem informados - neste caso a desvantagem competitiva passa para o lado do Market Maker e este vê-se obrigado a aumentar o Bid/Ask para cobrir o risco e custos adicionais da sua actividade.
Num mercado sem Market Maker estas flutuações podem ocorrer e reflectir-se na própria actividade «global» do mercado - por exemplo, é normal assistirmos a spreads bid/ask maiores quando o mercado está mais volátil e instável e menores em fase de consolidação ou de elevada «certeza» quanto ao valor do activo. Ou ainda, spreads maiores em activos de menor liquidez e menores em activos bastante líquidos dado que um activo menos líquido involve um risco superior a um activo mais líquido se igualarmos as restantes características dos activos.
O que se disse atrás face às comissões aplica-se de igual modo aos Spreads. Se a estratégia é consistente mas não promove os ganhos suficientes para cobrir os custos do <i>trading</i>, a alavancagem pode transformar a estratégia perdedora numa estratégia ganhadora. Mantém-se no entanto a ressalva: o risco acrescido é garantido... quanto ao sucesso depende da estratégia em causa.

<b>Taxa de Juro / Inflacção</b>
Este custo é, na maioria dos casos, <i>invisível</i>. Isto é, a maioria dos investidores não se dão conta dele. Noutros casos é mais evidente - por exemplo no caso de certos produtos alavancados ou investimento com recurso ao crédito. Não basta que o <i>trade</i> seja positivo, tem de bater quer a inflacção, quer a taxa de juro <i>sem risco</i> para ser considerado rentável. Se assumimos um <i>risco</i> ao investir no mercado de acções por exemplo, temos, do ponto de vista económico, exigir a nós próprios, batermos a performance de produtos financeiros de risco (praticamente) nulo - não basta não perdermos dinheiro. Quanto maior o risco, mais elevado deverá ser o retorno expectável. De outra forma não faz sentido incorrermos em riscos maiores, de um ponto de vista puramente económico e pragmático. Se encaramos o mercado como um entrenimento, um jogo ou um hobbie... bem, nesse caso talvez cedamos um pouco nesta regra pois todo o entretenimento tem um preço. Se encaramos o investimento um negócio ou uma fonte de rendimento, temos de bater aqueles valores, caso contrário o negócio não é realmente rentável.

<b>Custo de Oportunidade</b>
O Custo de Oportunidade é, por vezes, ignorado ou substimado - existe um custo real de oportunidade - não comprar no momento certo quer por <i>ineficiência</i> do <i>trader</i> (hesitar, por exemplo) quer por impossibilidade (capital <i>preso</i> em determinado <i>trade</i>). Se suposermos que determinado investidor identificou correctamente o sentido futuro do activo quer seja com base numa avaliação técnica quer seja porque determinou que o título estava sub-avaliado ou sobre-avaliado face aos seus fundamentais, se o investidor hesitar ou não estiver momentaneamente disponível para abrir a posição, o investidor pode assistir ao evoluir da cotação vendo o ganho esperado reduzir-se ou mesmo assistir à perda por completo da oportunidade. Se é certo que o investidor não é humanamente capaz de aproveitar todas as oportunidades que o mercado dá, também é verdade que o mercado dá ao investidor um número limitado de oportunidades que não podem ser constantemente desperdiçadas.
Para tornar claro o custo de oportunidade, imaginemos uma estratégia baseada numa situação rara de mercado, rara mas bastante rentável. O investidor abre uma posição ao julgar iminente uma oportunidade num determinado título. Não estabeleceu uma <i>time-line</i> e embora considerasse iminente a oportunidade, acaba aguardando sessão após sessão sem que a situação ocorra. O capital está preso no título bem como a atenção do investidor quando a situação ocorre num outro título... A rara oportunidade foi desperdiçada. Uma regra comum do <i>trading</i> é largar a posição quando as condições que nos levaram a abrir a posição deixaram de ser válidas. Tal regra deriva precisamente do custo de oportunidade. Nada, do ponto de vista lógico, nos deve levar a manter uma posição aberta quando a oportunidade que pretendemos aproveitar deixou de ser expectável nesse título.
O custo de oportunidade é particularmente penalizante em estratégias que se baseiem num baixo rácio de acertos <i>versus</i> falhas mas em que os acertos apresentem em média um valor bastante mais elevado do que as falhas. Este género de estratégia reflecte-se normalmente em longos períodos fora do mercado dado que se baseiam em poucas oportunidades que não podem ser desperdiçadas. Assim que o <i>trader</i> identifica a falha, o <i>trader</i> salta fora para estar disponível para a oportunidade que vai cobrir o custo dos vários falhanços.

<b>Volatilidade</b>
O aumento de volatilidade reflecte o aumento de grau de incerteza e por essa via o aumento do risco reflectindo-se de forma indirecta nos spreads por exemplo. Não vale a pena explorar aqui essa faceta pois já é referida noutros pontos.
No entanto existem produtos financeiros em que a volatilidade reflecte-se directamente como um custo adicional (leia-se neste caso <i>prémio</i>) e uma desvantagem competitiva clara - em warrants e opções por exemplo. O aumento da volatilidade reflecte-se num aumento da volatilidade implícita o que obriga o investidor a pagar um <i>prémio</i> superior pelo produto (devido ao aumento do valor temporal). No dia da maturidade esse valor é zero e a sua tendência é de queda embora no percurso haja momentos em que o valor temporal valorize. No entanto, é um parametro bastante imprevisível (talvez mais imprevisível até do que o sentido do mercado) e dificilmente poderá ser utilizado como uma vantagem competitiva. A maior parte do tempo funciona como uma desvantagem e como um custo.

<b>Informação</b>
A Informação em si não é uma desvantagem competitiva, obviamente. O que pode ser uma desvantagem competitiva para um investidor e um custo indirecto, por essa via, é a falta de informação, o excesso de informação ou a falta de qualidade da informação. Sou levado a considerar, pela experiência que tenho do mercado, que a informação que normalmente está disponível ao grande público nas condições em que está disponível, funciona mais como uma desvantagem - a informação é muitas vezes de má qualidade, inoportuna (para o investidor) ou oportunista (para o <i>fazedor</i> de informação). Aliás, a informação se está acessível ao grande público e portanto à maioria dos investidores, dificilmente pode ser considerada por definição uma vantagem competitiva. Se o termo <i>informação</i> nos pode levar intituitivamente a pensar em <i>vantagem</i> já o facto de estar acessível à <i>grande maioria</i> desfaz qualquer ilusão - não há qualquer vantagem em saber o que a maioria já sabe. É preciso saber mais que ou mais cedo que...
Em conclusão, a informação é na maioria dos casos, pela forma como chega ao pequeno investidor e pela forma como este a utiliza uma desvantagem competitiva. Não quer dizer que o pequeno investidor não possa utilizar a informação como ferramenta de trabalho - simplesmente não pode ficar-se pelo superficial.

<b>Impacto no Preço / Liquidez</b>
Esta desvantagem pode ser considerada um custo <i>real</i> sendo evidente quando a dimensão da carteira/posição é tal face à liquidez do mercado/activo que um dado movimento afecta o valor do activo. Este impacto no valor do activo pode transformar uma estratégia de investimento vencedora <i>no papel</i> numa estratégia de investimento perdedora no <i>mercado real</i>. O pequeno investidor pode senti-lo em papéis particularmente ilíquidos. O grande <i>player</i> sabe-lo mesmo quando mexe em papéis líquidos.
Em qualquer dos casos, quanto maior a carteira, mais difícil se torna <i>fazer dinheiro</i>, mantendo todos os restantes custos fixos, pois o impacto cresce com a dimensão da carteira e das posições que se tomam. O crescimento da carteira leva de forma natural a uma mudança de estratégia por forma a contornar este custo - por exemplo, a forma como se tomam posições e se desfazem posições (o que nos faz recordar neste momento as famosas acumulações/distribuições que foram objecto de um artigo anterior).

<b>Risco</b>
O próprio risco é uma desvantagem competitiva. Como já foi atrás referido, quanto maior o risco, maior o retorno exigível e maior o retorno médio necessário para cobrir o risco. Este aspecto já se reflectiu em diversos items atrás referidos pelo que enumero agora o risco em sentido lato, ou seja, como sendo todas as formas de risco ou o conjunto de componentes que integram o grau de risco de cada <i>trade</i>. Quanto maior o risco associado a um <i>trade</i>, mais alta a fasquia é colocada, mais forte é o vento que sopra a desfavor do investidor... Mais se exige deste quer ao nível físico quer ao nível psicológico. <i>Trading</i> intensivo e agressivo é também mais desgastante e <i>stressante</i>. Um indivíduo cansado, desgastado, desmotivado e frustrado está obviamente mais susceptível ao erro.
<b>Notas finais:</b>
O investidor mais ingénuo e inexperiente é levado a pensar (por vezes incutido a pensar pela publicidade e por outras entidades directa ou indirectamente ligadas à gestão do seu capital) que investir no mercado é lucro (quase) garantido - que o investidor tem como único obstáculo o rumo do mercado. O rumo do mercado está longe de ser o único obstáculo que o investidor tem a bater.
É possível e até provável que me tenha esquecido de alguns neste artigo... E é ainda bem possível e provável que estes ou outros pontos merecessem uma abordagem mais exaustiva. Mas para isso o forum tem uma solucção!... O botãozinho <i>responder</i>...
