- GOE - Escreveu:Caro Midas, relativamente ao VIX este índice consiste basicamente no quê? É um índice que "mede" a volatilidade e tendência das praças Americanas ? ..
Bons negócios

GOE, o VIX é um indicador de volatilidade implícita (baseado nas opções de activos do S&P) que serve de indicador de sentimento de mercado (medindo níveis de medo/pânico e optimismo/complacência).
Deixo-te um texto antigo meu sobre este indicador que te poderá esclarecer sobre bastantes coisas relativamente ao indicador e como pode ser utilizado para "ler" o momento do mercado em termos de sentimento de mercado:
Volatilidade - A soma de todos os medos...
13 Abr 2003
Volatilidade - A soma de todos os medos...
Indicadores como o VIX, VXN e VDAX por vezes interpretados genericamente como indicadores de volatilidade, consistem na realidade mais precisamente em indicadores de sentimento de mercado. A razão de ocasionalmente serem mal interpretados reside no seu próprio nome. O termo volatility que surge no nome destes indicadores não se refere à volatilidade como medida estatística e objectiva, como normalmente é entendida mas a um outro conceito associado. Isto porque existem dois tipos distintos de volatilidade: a volatilidade histórica e a volatilidade ímplicita.
Enquanto a primeira pode ser aplicada a qualquer activo e medida/analisada graficamente através de indicadores técnicos como o desvio padrão (standard deviation), o ATR (average true range) ou as Bandas de Bollinger, a segundo surge apenas nos activos para os quais existem opções, warrants ou futuros associados. Uma outra consequência e que deriva dos métodos utilizados para o seu cálculo e respectivos pressupostos é a de que este indicador/parâmetro é considerado fiável apenas em mercados/activos bastante líquidos. Passo a estabelecer as diferenças entre os dois tipos de volatilidade:
> A volatilidade histórica é um conceito simples e objectivo: é entendido como sendo a variabilidade - amplitude de variação - do preço de uma activo num dado lapso de tempo. O método de cálculo mais simples é o do desvio padrão que consiste basicamente em calcular o desvio médio da variável em relação a uma sua média móvel ao longo de um determinado período de tempo. Assim sendo, o desvio padrão tem tendência a aumentar com a amplitude dos desvios para o mesmo lapso de tempo o que está de acordo com o conceito de volatilidade atrás descrito.
> A volatilidade implícita é entendida como sendo a forma como o mercado avalia e percepciona a volatilidade histórica e o respectivo risco inerente (sendo ainda defendido que possa incorporar outros tipos de riscos). A volatilidade histórica tende a ser elevada quer nos momentos de euforia quer nos momentos de pânico, no entanto, o mercado não avalia no primeiro caso a volatilidade como um (grande) risco o que é traduzido por valores baixos de volatilidade implícita; já no segundo caso, o mercado avalia a volatilidade implícita como sendo um factor de alto risco. O primeiro sentimento assenta obviamente num excesso de optimismo; o segundo num excesso de pessimismo. O cálculo da volatilidade ímplicita é mais complexo que o da volatilidade histórica e depende de várias variáveis como a maturidade, o strike, o valor do subjacente, etc...
Ora, tomando com exemplo o VIX que consiste numa média de volatilidades implícitas de um basket de opções de títulos muito líquidos do S&P500, obtemos um indicador de sentimento de mercado, capaz de quantificar o nível de optimismo/pessimismo existente no mercado. Sendo óbvio que o optimismo impera no bull market e o pessimismo no bear market, para que necessitamos nós de um indicador que nos diga que estamos optimista se vemos à vista desarmada que o mercado sobe e que estamos tão mais optimistas quanto mais o mercado sobe?
A utilidade é simples e para a explicar há que recorrer ao Pensamento Contrário (Contrarian Theory), ao qual o VIX e seus semelhantes assentam como uma luva. O Pensamento Contrário afirma que nos momentos de inversão (picos e fundos) o mercado encontra-se errado no seu sentimento/opinião: no auge do bull a euforia encontra-se ela igualmente no auge e o sentimento bull domina a generalidade dos investidores o que sem grande exercício mental nos leva a concluir que essa generalidade de investidores está errada pois daí para a frente o que o mercado terá são descidas; e no «fundo do poço» o mercado encontra-se num pico de pessimismo - a generalidade dos investidores está bear - o que mais uma vez e recorrendo à mesma linha de raciocínio nos leva a concluir que mais uma vez a maioria está errada pois esse é o melhor momento para investir: daí para a frente o que o mercado verá a dominar são as subidas.
Ora como pessimismo, optimismo e demais sentimentos associados (euforia, frustração, etc) padecem de carácter subjectivo e de difícil quantificação, se disposermos de um indicador que nos seja capaz de quantificar esse sentimento e de estabelecer paralelismos entre diferentes momentos e respectivos sentimentos, então dispomos de uma ferramenta extremamente útil para a aplicação prática do Pensamento Contrário.
Nota: inseri o ATR junto do gráfico do SPX para que se possa comparar as diferentes leituras do indicador de volatilidade histórica (ATR neste caso) e o VIX (no gráfico anterior) no mesmo período. Chamo especial atenção para a quebra brusca do VIX após o «fundo» da semana passada quando a volatilidade histórica continua sensivelmente ao mesmo nível. A volatilidade é sensivelmente a mesma, o que mudou bruscamente foi o sentimento dos investidores!
Pois claro que o início do bull não é anunciado nos mídia ou pelas casas de investimento, nem a generalidade dos investidores se dá conta da oportunidade do momento (até porque o mercado encontra-se nessa altura desacreditado). Mas os indicadores de sentimento «podem» anunciar...
O recurso ao «podem» não é inocente: digo «podem» porque sendo um indicador de sentimento, exige cautela na avaliação do que é o «extremamente» ou o «demasiado»: valores superiores a 30/40 são por norma considerados nestes indicadores como sendo reveladores de excesso de optimismo. No entanto, o indicador, em picos de pessimismo tanto pode atingir níveis na casa dos 50/60 pontos (como no crash de 1997 ou em Setembro de 2001) como pode ultrapassar os 100 pontos, caso do VIX no crash de 1987 - aproveito para referir que naquela data o VIX não existia pois só foi criado em 1993.
São estes aspectos que estão na base destes indicadores virem a ser referidos recorrentemente: acontece que o VIX por exemplo, atingiu nos últimos 15 dias valores da ordem dos 50 pontos, valores esses equiparáveis aos do crash de 1997 ou aos de Setembro de 2001 como já antes referido traduzindo assim um excesso de pessimismo o que seria propício a uma forte correcção técnica, possivelmente a uma inversão de médio-prazo. O pico do VIX acaba por coincidir com os sinais de exaustão que descrevi no meu artigo da semana passada.
Convém no entanto ressalvar que o facto do pico do VIX coincidir com essa sessão, não estamos perante o Santo-Graal! O pico do VIX é quase tão imprevisível quanto o fundo do índice. O indicador pode atingir sempre valores mais elevados tal como o mercado pode atingir sempre valores mais baixos. A utilidade reside no facto de, com este indicador, conseguirmos estabelecer um paralelismo no sentimento e condições de mercado apesar do índice se encontrar a valores hipoteticamente diferentes dos do momento que serve de comparação.
Por outro lado e visto noutra perspectiva, para aqueles que têm acesso a posições curtas ou equivalente (warrants put, por exemplo), altos valores do VIX revelam um alto risco em deter posições curtas que poderá estar a ser descurado (probabilidade elevada de ocorrer um panic-buy, um rallye de short-covering, etc.) da mesma forma que um excesso de euforia num bull market pode levar o investidor a descurar o risco inerente (o perigo de um crash ou de uma forte correcção técnica, por exemplo).
Uma outra leitura que poderá ser considerada neste indicador de sentimento de mercado relaciona-se com o alcance da inversão: os grandes picos tendem a reflectir-se em inversões de longo-prazo; os picos mais modestos, de médio-prazo; e assim sucessivamente. Quanto mais elevado o pico, provavelmente mais radical e prolongada será a viragem.
Por Marco António