CALDEIRÃO DE BOLSA

Francisco Magalhães Carneiro
O efeito de Janeiro
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Estatisticamente, o melhor mês para se estar investido em acções é o mês de Janeiro, seguido do mês de Dezembro. Este ano, a situação não está fácil pois Dezembro foi mau e Janeiro está a ser o pior de sempre. Diz-se que a economia americana já está em recessão, que os bancos a nivel mundial têm tido problemas com a situação do ‘subprime’, os bancos centrais estão a começar a descer as taxas, enfim, a situação não parece boa.
Assim, o que é que um investidor particular deve fazer com as suas poupanças? No passado, a melhor classe para se investir tem sido as acções ou fundos de acções. As acções deram mais que os depósitos, inflação, imobiliário ou que os certificados de aforro. Claro que as acções têm anos positivos e anos negativos, mas, no médio prazo, não há outra classe melhor para se ganhar dinheiro.

Ter acções é o mesmo que ser patrão. E ter depósitos é igual a ser empregado. Claro que é muito bom receber um ordenado fixo todos os meses, sabe-se com o que se conta e é por isso que a maior parte das pessoas são empregados. Nos investimentos, quando se recebe todos os meses um montante fixo tem que se ser depositante. É seguro, é estável, mas dá muito pouco. Ser patrão é o mesmo que ser accionista. Não se sabe o que vai acontecer mês a mês, mas a médio prazo pode-se ficar rico. Eu, na minha vida, sou empregado, mas nos investimentos quero ser patrão e, por isso, tenho acções.

Estes resultados das acções foram obtidos apesar de ter havido guerras, grandes inflações, choques petrolíferos, atentados e depressões. De facto, nem tudo correu bem e, apesar disso, as acções deram sempre muito mais do que tudo o resto.

E para o futuro o que se deve fazer? Se olharmos para daqui a 10 anos, a classe de acções continuará seguramente a apresentar as melhores valorizações. É verdade que as acções tiveram um mês de Janeiro particularmente mau, o mercado americano está a ter uma rentabilidade inferior à média nos últimos 10 anos, os jornais estão cheios de más notícias. Mas isso faz do momento actual um momento muito aceitável para se meter o pé na água. E, assim, para as pessoas que não passam o dia a olhar permanentemente para o valor das acções, a minha recomendação é a de que comecem a ter uma parte das suas poupanças em acções ou em fundos de acções.

Em Portugal, os fundos de acções representam 11% do total dos FIM (fundos de investimento mobiliário), enquanto na Grécia o peso é de 26% e em Espanha de 38%. Os portugueses ainda não têm uma mentalidade de patrão, mas penso que isso vai mudar. E embora não seja possível prever, neste momento, o que vai acontecer nos próximos meses, acredito que este não é um momento mau para se pensar em acções. Para quem não tem a certeza de que este é o momento, um plano de investimento mensal em fundos de acções é uma alternativa muito válida para resolver o problema do ‘timing’: vamos ter que estar em acções, mas não sabemos qual o melhor momento para entrar. Então, por que não entrar progressivamente, todos os meses?

Boa sorte e bons investimentos.

Francisco Magalhães Carneiro é administrador da BPI Gestão de Activos