EMPRESAS Publicado 21 Dezembro 2007
Edição Especial hoje nas bancas
Joe Berardo é o Homem do Ano
O Jornal de Negócios elegeu Joe Berardo como o Homem do Ano 2007. E escolheu ainda o negócio do ano, a companhia cotada do ano, o descalabro do ano...
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Pedro Santos Guerreiro
psg@mediafin.pt Berardo é um homem muito discutível mas é indiscutível que Joe Berardo foi o homem do ano 2007. Pelo que fez, pelo que não fez e pelo que desfez, ninguém teve tanta intervenção em tantos palcos e em tantas primeiras páginas de jornais como o madeirense comendador empresário investidor raider ou, como dizem os que o abominam (e são muitos), cidadão Berardo.
Declaração de interesses: também no Jornal de Negócios a eleição deste "homem do ano" não foi fácil. Afinal, foi este jornal em que, em Editoriais recentes, Berardo foi chamado de "caimão", "inimputável", "incendiário", "especulador", "tubarão" e outras coisas. Foi também este o jornal que, em Maio, publicou uma investigação aos negócios que faz em Bolsa, que entretanto evoluiu para uma investigação na CMVM. Mas foi também a este jornal que Joe Berardo deu uma entrevista incrível em Julho, a Anabela Mota Ribeiro. E é este mesmo jornal que o noticia diariamente: este ano, aqui foram publicados mais de 500 artigos com a palavra "Berardo" - e "Berardo" não há outro. Da parte dos leitores, a popularidade (a curiosidade?) prova-se com outro recorde: foi o homem mais pesquisado este ano no Jornal de Negócios Online, mais de mil, muito à frente do segundo, Sócrates.
Edição Especial nas bancas este fim-de-semana
Leia o texto na íntegra na edição de hoje nas bancas do Jornal de Negócios. Uma edição de balanço do ano que distingue ainda dez outras personalidades deste ano económico e que que elege a empresa cotada do ano (Galp), o negócio do ano (compra da Horizon pela EDP), o mercado do ano (telecomunicações) e muitas outras rubricas numa banca perto de si.
É este jornal que, mesmo engolindo em seco mas votando convictamente, elege Joe Berardo como Homem do Ano 2007. Relatório de actividades: BCP, PT, PT Multimédia, Sogrape, Benfica, Papelaria Fernandes, Fundação, Centro Cultural de Belém, uma mediatização desenfreada e supõe-se que uns mil milhões de euros em acções.
Joe já era uma figura decana no mundo empresarial, alastrou essa fama à cultura com a sua colecção de arte mas só este ano se tornou fenómeno social. O momento simbólico dessa amplificação foi a Assembleia Geral da PT que matou a OPA, em Fevereiro, quando à entrada Berardo foi abraçado pelos trabalhadores da empresa. O paradoxo de ver o capitalista puro-sangue ser ovacionado como salvador dos trabalhadores do fim da cadeia alimentar foi premonitório. Joe Berardo tornou-se adorado entre multidões, que lhe perdoam o "fuck him" sobre Rui Costa porque lhe dão o benefício de ser um estouvado; é um Robin dos Bosques, que tira aos ricos mesmo que não redistribua pelos pobres; é espécime único de activismo accionista, um gestor de si mesmo, magnata dos negócios de outros, pois nada produz nem cria; é um agente que está no meio dessa lei de Lavoisier aplicada aos mercados financeiros.
Desde esse episódio da assembleia geral da PT, tornou-se "spin doctor" de si mesmo, lançou uma OPA-fantochada ao Benfica, abriu a sua colecção no CCB com o país intelectual e político a seus pés, num evento em que, ao contrário do habitual, pôs gravata em cima de camisa branca, leu papel de discurso e saiu-se nervoso nisso.
Tomou uma posição hostil na Sogrape, de onde só deixará de perturbar a família Guedes se lhe pagarem, e bem, para sair. Disse que ia analisar a Papelaria Fernandes (frase suficiente para que as acções subissem), num padrão de comportamento que mexe com os mercados e com os nervos da "cê-vê-éme". E assim termina o ano sob investigação do regulador.
Mas é sobretudo no caso BCP que Joe Berardo mais se revela tenaz, incómodo, destemido, perseverante. A partir da Assembleia Geral de Maio no Porto, a tal de onde saiu de braços no ar e dedos em vê de vitória, Berardo tornou-se o mais feroz opositor a Jardim Gonçalves, tirando do armário os esqueletos das remunerações e regalias dos administradores do banco. Não mais parou, como gazua a abrir portas blindadas, levando os administradores do BCP à CMVM, ao Banco de Portugal, ao procurador-geral da República. O processo termina o ano já no DIAP. Joe é o Joker do ano: é trunfo, é desmancha-prazeres, é gozão, é vencedor, é Berardo. E não fica por aqui. Como disse a Anabela Mota Ribeiro, "sou um portuguese dream".