mandachuva Escreveu:Ultimamente tem-se ouvido falar bastante da crise dos mercados financeiros e das intervenções dos bancos centrais para a conter. Por não ser da área económica, tenho andado a pesquisar na net mas ainda não entendi isto das injecções de liquidez nos mercados. Qual a diferença de uma injecção de liquidez e um abaixamento da taxa de juro de referência? Não têm as duas o mesmo efeito?
Já agora, algum recomenda um bom livro (simples e objectivo) sobre o sistema monetário pra ler nas férias de natal?
Não sou, nem de perto, um entendido em economia. O meu background é mais informática mas sou um curioso e tento sempre aprender mais um pouco portanto, aqui vai besteira.
No meu entender são duas ferramentes com diferentes objectivos. A taxa de juro serve de pêndulo da balança (em termos gerais) entre crescimento económico facilitado por uma baixa taxa de juro (através de acesso ao crédito para investimento e/ou consumo) e o combate à inflacção através das taxas altas (limitando o tal consumo).
Uma injecção de liquidez pretende disponibilizar no mercado quantidades suficientes de dinheiro em tempos conturbados em que ninguém está disposto a emprestar dinheiro a ninguém. Quando existe esta crise de liquidez os bancos centrais chegam-se à frente e emprestam o dinheiro contra colateral apresentado pelas instituições financeiras que seja credível (cada banco central tem as suas regras para defenir "credível").
O nível da crise de liquidez pode medir-se através do spread que existe entre a taxa directora e as taxas de mercado (e.g. EURIBOR) e como disse os bancos centrais chegam-se à frente para emprestar o dinheiro normalmente a uma taxa normalment acima da taxa directora mas abaixo da "discount window" que é considerado o ultimo recurso para os empréstimos que o banco central faz (quando uma instituição financeira esteja tão apertada que esta é a unica hipótese, as vias normais serão pedir emprestado a outros bancos à taxa EURIBOR). Normalmente o aspecto de "desespero" associado à "discount window" faz com que os bancos não a usem para não mostrar fraquezas ao mercado.
A taxa de juro final destas "injecções" são determinadas em leilão. Normalmente há uma quantia de dinheiro a disponibilizar que irá ser distribuida por aqueles que apresentaram melhores condições (estão dispostos a pagar uma taxa maior).
Portanto, penso que a tua pergunta irá no sentido de: "Então mas se o BCE baixar a taxa de juro de referência, por tabela baixam também a EURIBOR e a discount window e os bancos poderão fazer um emprestimo a uma taxa de juro mais baixa como o fazem para o caso das cash injections".
Sendo verdade, uma baixa na taxa de juro tem, por norma, um caracter mais permanente. Os bancos centrais não andam a descer a taxa num mês para a subir no mês seguinte, gostam de ser consistentes pois é essa uma forma também de dar confiança aos mercados que existe um caminho a seguir e que não se anda à deriva pelos caminhos que qualquer índice aponte. Uma das medidas que vimos a serem usadas pelo FED no principio desta crise foi a descida da taxa de juro da "discount window" e a manutenção da taxa de referência tendo um efeito realmente parecido com o de injecções de dinheiro no mercado mas pelas razões psicológicas que mencionei acima as instituições financeiras preferem não recorrer a ela.
Note-se que a discount window é fixa contrapondo aos leilões pelo capital disponibilizado pelos bancos centrais, o que faz toda a diferença quando as aparências também contam.
Acima de tudo, a atitude de ontem do BCE diz ao mercado "estamos atentos e vamos combater esta instabilidade de mercado mas vamos continuar atentos a outros factores como a inflacção". Baixar a taxa de juro enviaria uma mensagem completamente diferente: "isto está com ar de recessão, vamos baixar a taxa de juro para que haja uma almofada de conforto no mercado e a inflacção há-de diminuir se entrarmos em recessão... se não entrarmos logo se sobe novamente a taxa".
Quanto a livros não tenho nada muito especifico de economia que te possa recomendar. Gostei de ler
A era da turbulência de Alan Greenspan (o ex-presidente da FED) que não sendo um livro teorico de economia tem muita informação interessante sobre as opções que ele tomou e porque é que na altura ele achou que eram as melhores para a economia dos EUA. Lê-se muito bem, nada enfadonho e dá para abrir o apetite em relação a estas questões.
Espero ter feito algum sentido, e obviamente, havendo pessoas que percebem muito mais de economia do que eu aqui no Caldeirão pediria que me corrigissem qualquer erro, sempre serve para eu aprender mais qualquer coisa.