As manifestações foram demagogia... que é como "queijo na ratoeira" e apanharam um data de ratos! Muitos destes, temendo ser comidos pelo rato maior... apoiaram o gato!
Nas manifestações de sábado, além da impressionante participação de massas e da inédita fusão de esquerdas e direitas, um facto deve ser realçado. Desapareceram os argumentos favoráveis ao respeito pelo direito internacional e que faziam, das regras das Nações Unidas, o instrumento essencial de acção. Na verdade, passados os primeiros minutos, aquilo contra o que os manifestantes se exprimiam explicitamente era qualquer espécie de intervenção de força da comunidade internacional ou das Nações Unidas, mesmo com apoio do Conselho de Segurança. Foi um esclarecimento útil.
O gato, de Bagdad, afina deliciado os seus bigodes... não sem uma leve sensação de congestão — não é todos os dias que se come um milhão de ratos de pelo ocidental!
Enquanto isso, os hipócritas sabem que não há NATO sem USA, e que sem USA não há direito internacional. Não faltará muito tempo para que venha ao de cimo a sua hipocrisia ... e a fúria das multidões se volte para eles, os políticos... que virão a dar o dito por não dito!
... ou a chamar pelos americanos!
Aguardemos...
Sol Dado
Nota: Deixo-vos esta excelente reflexão:
Vésperas Sombrias
Por ANTÓNIO BARRETO
Domingo, 16 de Fevereiro de 2003
http://jornal.publico.pt/publico/2003/0 ... /ORET.html
Nas manifestações de sábado, além da impressionante participação de massas e da inédita fusão de esquerdas e direitas, um facto deve ser realçado. Desapareceram os argumentos favoráveis ao respeito pelo direito internacional e que faziam, das regras das Nações Unidas, o instrumento essencial de acção.
Há momentos assim, feitos de certezas definitivas, para uns, mas de incerteza e insegurança, para outros. São dias e meses de luta e de esperança, como são dias e meses de medo ou resignação. São tempos propícios à irracionalidade e à razão dominada pela profissão de fé. Os que tomam facilmente partido vivem de proclamações fáceis, de ideias feitas e de reflexos condicionados. Os outros, aqueles para quem as escolhas dependem de factos e de argumentos, procuram sinais entre as sombras da tempestade que se aproxima. Não hesitam, antes pretendem que as suas opções sejam o resultado da razão, o produto da consciência, não o tropismo que tão facilmente leva os homens e as mulheres a arrumarem-se em campos entrincheirados do bem e do mal, do preto e do branco, do rico e do pobre, do mestre e do lacaio. Os que querem escolher livremente sabem que os seus amigos cometem erros e os seus inimigos sofrem. Sabem que os que defendem a liberdade são frequentemente tentados pela arrogância e pelo despotismo.
Não se trata de uma ficção. Nem sequer de uma proposta. Mas de uma hipótese. Vale a pena supor que o governo americano reconsidera a sua participação na Aliança Atlântica e decide, com efeitos imediatos, abandonar as estruturas militares da NATO. Podendo até, recordando aliás uma fórmula utilizada por De Gaulle há quase quarenta anos, manter-se na aliança política. O seu pessoal militar abandonaria todos os órgãos actualmente em funções e as suas unidades de intervenção rápida regressariam a casa. As suas bases europeias seriam abandonadas, sendo desactivadas todas as forças que, do Mediterrâneo ao mar do Norte e ao Báltico, passando pelo Atlântico, asseguram a segurança europeia. De igual modo, as instalações de vigilância, observação e espionagem militar seriam encerradas e entregues aos europeus. A Europa deixaria de estar condicionada pelos Estados Unidos. Seria, finalmente, independente, como dirão muitos. Ficaria assim, por tempo indeterminado, sem protecção nuclear e sem capacidade efectiva de retaliação perante qualquer ataque ou ameaça. O veto franco-alemão e belga é um estímulo a esta política. Pense-se um pouco nas consequências desta hipotética decisão americana, que seria prontamente festejada por tantos europeus fartos da hegemonia americana e amantes do modelo social europeu e da paz europeia. Como disse, é só uma hipótese. Bem real.
Talvez tivesse sido possível evitar a guerra. Talvez ainda seja possível fazê-lo. Algumas condições, todavia, estão hoje ultrapassadas. Ou quase. Se a política externa americana não fosse tão condicionada por Ariel Sharon e seus amigos... Se o governo americano não usasse da arrogância que o seu poderio lhe permite... Se George W. Bush não tivesse tido um comportamento tão errático e confuso... Se a França e a Alemanha tivessem revelado desde o início uma disposição firme e um respeito sólido pela aliança atlântica... Se a União Europeia não tivesse dado sinais de encorajamento ao Iraque... Se os europeus tivessem percebido que não é possível fazer uma União contra ou à margem dos Estados Unidos... Se... Mas talvez seja tarde.
Pode discutir-se o que pretende o governo americano, o que, aliás, nem sempre é claro. O que, infelizmente, não se pode discutir é o que querem os seus opositores. Nem a União Europeia, a França ou a Alemanha, nem a Rússia ou a China, menos ainda os movimentos sociais e políticos que, por todo o lado, manifestam, sugerem objectivos, fazem propostas e tornam públicos planos de acção. Não sabem de todo o que fazer? Talvez saibam: nada. Deixar tudo conforme está. Até ao dia em que, se for preciso, chamam os americanos.
Só pela força o Iraque será contido, desarmado e neutralizado. Essa força poderia ter sido política e diplomática, como poderia ter sido a que resulta de uma ameaça inequívoca. E teria sido uma força não violenta. Mas depressa se percebeu que a ameaça não era firme. A União Europeia estava dividida. A França e a Alemanha decidiram aproveitar a oportunidade para marcar a sua posição seja dentro da União, seja perante o Leste europeu e a Rússia, seja finalmente diante do Iraque e do Islão petrolífero. Desde que o Iraque percebeu que a NATO e as Nações Unidas não conseguiriam ou dificilmente conseguiriam formular uma ameaça séria nem, caso fosse necessário, pô-la em prática, passou a desafiar abertamente a comunidade internacional.
Nas manifestações de sábado, além da impressionante participação de massas e da inédita fusão de esquerdas e direitas, um facto deve ser realçado. Desapareceram os argumentos favoráveis ao respeito pelo direito internacional e que faziam, das regras das Nações Unidas, o instrumento essencial de acção. Na verdade, passados os primeiros minutos, aquilo contra o que os manifestantes se exprimiam explicitamente era qualquer espécie de intervenção de força da comunidade internacional ou das Nações Unidas, mesmo com apoio do Conselho de Segurança. Foi um esclarecimento útil.
É tão fácil preferir a paz à guerra! É tão impecável declarar-se amante da paz! Tão moralmente imaculado repudiar a guerra! Quem, de consciência tranquila, o não faria? Não duvido da sinceridade de tantos quantos, neste sábado, por medo, convicção ou estratégia, mostraram os seus pacíficos sentimentos. Mas é bom que saibam que, como disse ontem Helena Matos neste jornal, não estão a escolher entre a paz e a guerra, mas sim entre a guerra e a chantagem. E ao preferir a chantagem, terão, tarde ou cedo, a guerra. Certamente em piores condições.