Analistas prevêem subida dos preços do petróleo no longo prazo
Os preços do petróleo estão longe dos máximos históricos de 11 de Julho do ano passado, quando se fixaram acima dos 147 dólares por barril em Londres e Nova Iorque. Acontece que, ultimamente, está a observar-se uma forte subida. Nas últimas três semanas, o petróleo subiu 32% em Nova Iorque e 13% em Londres. E os analistas contactados pelo Negócios prevêem novos picos para o mais longo prazo.
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Carla Pedro
cpedro@negocios.pt
Os preços do petróleo estão longe dos máximos histórico de 11 de Julho do ano passado, quando se fixaram acima dos 147 dólares por barril em Londres e Nova Iorque. Acontece que, ultimamente, está a observar-se uma forte subida. Nas últimas três semanas, o petróleo subiu 32% em Nova Iorque e 13% em Londres.
E são cada vez mais as vozes de analistas que consideram que a era do petróleo mais barato está a terminar. Um estudo realizado por Ronald-Peter Stöferle, analista do Erste Bank AG/Austria, salienta que as cotações do crude deverão recuperar este ano. No entanto, não será ainda em 2009 que entrarão numa fase de forte retoma, salienta o estudo a que o Negócios teve acesso. Mas assim que a economia mundial recupere, o cenário vai mudar.
Segundo as estimativas de 21 casas de investimento inquiridas pela Bloomberg, a cotação média do Brent do Mar do Norte, crude de referência para a Europa, será de 55 dólares este ano, 70 dólares em 2010, 82,5 dólares em 2011 e 96 dólares em 2012.
Os analistas contactados pelo Negócios são unânimes. Os preços subirão novamente. No entanto, dividem-se quanto à amplitude dessa valorização. Leia as suas respostas às três perguntas colocadas pelo Negócios. São eles Marc Faber (que antecipou o “crash” bolsista de 1987), Fadel Gheit (analista da Oppenheimer), James Williams (presidente da WTRG Economics), Peter A. Sorrentino (gestor de carteira da Huntington Asset Advisors) e Nader Naeimi (estratega de investimento da AMP Capital Investors).
Os preços podem regressar aos níveis anteriores à crise?
Marc Faber - Não no futuro previsível, uma vez que a procura diminuiu e também porque há
Marc Faber
menos especulação. No longo prazo, e dependendo da quantidade de moeda que o governo norte-americano vai emitir, então são possíveis novos máximos históricos.
Fadel Gheit - Não creio que os preços voltem a atingir os recordes de 2008. As cotações do petróleo estavam inflacionadas pela especulação excessiva devido à falta de regulação governamental. O mundo está a passar pela pior crise económica desde a Grande Depressão e a procura de crude irá cair ao ritmo mais acelerado das últimas décadas, o que torna muito improvável que os máximos históricos de há seis meses se repitam.
James Williams
James Williams - Penso que demorará muitos anos antes de voltarmos a ver o petróleo perto dos 150 dólares por barril. A única coisa que poderia fazer os preços voltarem a esse patamar seria um grande conflito ou revolução no país membro da OPEP e mesmo assim poderia não ser o suficiente, a menos que se tratasse da Arábia Saudita.
Peter Sorrentino - Não no curto prazo. Esses níveis foram levados ao extremo pela forte alavancagem a que recorreram os “hedge funds”, “private equity” e especuladores em geral. Descobrir esse tipo de crédito no futuro previsível não é muito provável. Tem havido alguma destruição da procura e os consumidores estão a procurar carros mais pequenos e mais eficientes em termos de combustível, de par com uma redução dos quilómetros percorridos. Além disso, há também uma incerteza que poderá afectar o crescimento da procura durante algum tempo: o aparecimento do imposto sobre o carbono, com base nas emissões de CO2.
Nader Naeimi – Bom, o nível dos 147 dólares por barril é agora uma memória distante. Mas creio que a destruição da procura está agora na sua máxima força e que os preços do petróleo poderão já ter atingido um fundo. Por isso, penso que as cotações poderão atingir novos máximos históricos nos próximos anos. Quanto ao curto prazo, acho que deverão subir para cerca de 70 dólares ao longo dos próximos meses.
Os factores estruturais que levaram à subida do preço continuam a existir? Que factores são esses?
Marc Faber - A procura por parte da China e da Índia continuará a crescer, uma vez que o consumo per capita na China é inferior a um oitavo do consumo nos EUA e na Índia é inferior a 1/16.
Fadel Gheit - Os preços do petróleo subiram mais pela especulação do que devido a
Fadel Gheit
fundamentais da oferta e da procura. Não houve cortes de produção e a oferta estava mais do que adequada para satisfazer a procura. Não houve mudanças estruturais.
James Williams - Alguns existem, outros não. O potencial de maior crescimento da procura chinesa existe, mas não se concretizará enquanto os EUA e outros países da OCDE não estiverem na via de uma sólida recuperação. Muitos segmentos da economia chinesa estão com excesso de capacidade e com a queda de 27% nas exportações da China qualquer aumento da procura deste país seria mínimo. As “royalties” e impostos excepcionalmente elevados, aplicados - desde a subida dos preços - às petrolíferas internacionais que operam em países exportadores, começarão a desaparecer. E isso reduzirá o custo para os consumidores.
Peter Sorrentino - Acabaram os depósitos de hidrocarbonetos facilmente acessíveis e baratos. Os novos campos são mais pequenos, é mais dispendioso explorá-los e têm vidas produtivas mais curtas. Tendem também a ser descobertos em regiões que são politicamente menos estáveis. O crescimento da produção não-OPEP, que foi substancial nas décadas de 70 e 80, já não é evidente no actual ciclo. Assim, a quota da OPEP na produção global está e continuará a estar a subir. Como ainda não há um substituto lógico para o petróleo na qualidade de combustível para transportes e como a China já suplantou os EUA como maior mercado automóvel, o crescimento orgânico da procura está assegurado.
Nader Naeimi
Nader Naeimi – O crescimento da China está a dar mostras de estabilizar e os agressivos investimentos do governo em infraestruturas implicam, inerentemente, um vasto recurso a “commodities”. Além disso, já assistimos a uma forte queda da produção.
Fala-se muito nos riscos do preço baixo actual no preço futuro, nomeadamente a falta de investimento em nova produção. Isso pode agravar o desequilíbrio na procura?
Marc Faber - Exacto. Com estes preços, haverá menos exploração. Quando a economia mundial recuperar, os preços do petróleo e de outras matérias-primas irão disparar.
Fadel Gheit - Sim, os baixos preços do petróleo são tão insustentáveis como os altos preços. As baixas cotações reduzirão os investimentos e mesmo que a procura não aumente, a oferta cairá entre 5% e 7% ao ano em resultado de um declínio dos campos naturais, o que criará uma escassez e levará a outra bolha nos preços do crude. É por isso que as nações consumidoras de petróleo devem reagir, no sentido de diversificarem, manterem e criarem novas fontes de energia.
James Williams - Tem certamente potencial para provocar uma situação dessas. Igualmente ameaçadores são os impostos sobre o carbono emitido pelo petróleo. No entanto, muitas petrolíferas internacionais têm uma boa posição financeira e os países exportadores que não estão em boa forma poderão melhorá-la através do reforço das condições relativas ao “leasing” e aos impostos, de forma a encorajarem o investimento nos seus países. Se o fizerem, poderá resultar em mais petróleo, porque - com muito poucas excepções – as petrolíferas internacionais são melhores a descobrir e a produzir crude do que as suas congéneres nacionais (NOC – National Oil Companies).
Peter Sorrentino - Foi isso que aconteceu no ciclo da década de 70, terminado na primeira
Peter Sorrentino
metade dos anos 80. Destinou-se tanto investimento de capital à exploração e produção que demorou mais de 20 anos até a procura finalmente atingir o nível da oferta e superá-la. A localização das novas descobertas promissoras – “offshore” brasileiro, Faixa de Orinoco na Venezuela e a região polar do Ártico – são de desenvolvimento muito mais dispendioso e demorará até estarem em produção. Mesmo as areias betuminosas do Canadá precisam que o petróleo esteja em torno dos 55 dólares por barril para a sua exploração ser economicamente viável. Tem havido uma forte acumulação de inventários de crude em todo o mundo, que terá de ser utilizado antes de os preços do petróleo poderem sustentar um movimento materialmente mais elevado.
Nader Naeimi – Estruturalmente, o “bull market” dos activos financeiros pós-1982, com a queda da inflação e das taxas de juro, levou a um forte desinvestimento em activos físicos. Na actual recessão, continuamos confrontados com mais de 100 países emergentes a crescerem mais de 5% ao ano. E isto deverá pressionar fortemente os preços das matérias-primas.
JN