Este fórum dá azo a umas grandes gargalhadas de "vês" em quando. Bem pregava Frei Tomás...
Este e outros fóruns são pródigos em calinadas, sendo umas mais graves que outras. Desde os erros "normais" de ortografia, passando pelo desconhecimento total do que é a sintaxe, há (existe) de tudo. Atendendo à situação constatada, por apenas 4 acções da Portugal Telecom ou 19 acções da EDP (sem comissões, claro), está à disposição de quem quer saber mais ou relembrar assuntos olvidados uma boa gramática:
Cunha, C. e Cintra, L. (1984).
Nova Gramática do Português Contemporâneo (11ª Ed., 1995). Lisboa, Edições João Sá da Costa, Lda. ISBN 972-9230-00-5.
A questão concreta está bem explicitada nas páginas 532 a 535, pelo que gostaria de reproduzir parte do seu conteúdo:
"4. Emprega-se como IMPESSOAL, isto é, sem sujeito, quando significa «existir», ou quando indica tempo decorrido. Nestes casos, em qualquer tempo, conjuga-se tão-somente na 3ª pessoa do singular:
Há trovoadas em toda a parte... (Miguel Torga,
V, 158.)
Havia simples marinheiros;
havia inferiores;
havia escreventes e operários de bordo. (Lima Barreto,
TFPQ, 279.)
Tinha adoecido,
havia quinze dias. (Miguel Torga,
NCM, 16.)
-
Há dois dias que não vem trabalhar! (Luandino Vieira,
NM, 129.)"
Estou convencido que esta explicação ajudará a perceber melhor questão tão complexa.
Aproveito esta oportunidade para tecer alguns comentários a um post que tantas reacções provocou sobre a idade dos 40. Bom, eu pertenço à geração nascida na década de 70 do século passado. Sim, século passado. Ainda por cima nasci numa grande cidade que dá pelo nome de Lisboa. Vão desculpar-me os mais velhos, mas eu que sou da geração do ZX Spectrum com os célebres Chuckie Egg, Manic Miner, Flight Simulator, Football Manager, entre outros, da geração dos primeiros jogos electrónicos da Nintendo (Snoopy a jogar ténis, por exemplo), do aparecimento da televisão a cores em Portugal, das séries televisivas e desenhos animados intemporais como Sandokan, Heidi, Conan (desenhos animados japoneses futurísticos), Escrava Isaura, Zé Gato, Duarte e Companhia, Cornélia, Tarzan entre outros tantos, não foi por tudo isso que deixei de gozar e bastante com as brincadeiras de rua. Era o jogo de futebol na estrada inclinada com o portão da garagem do laboratório farmacêutico como baliza, era a sessão de pugilato infantil quando nos chateávamos, eram os canudos pontiagudos de papel soprados de um tubo de polietileno com uns 25cm, era a ***** cega, era a apanhada, eram as escondidas, era o bate-o-pé, era o jogo das caricas no bordo do passeio, eram as corridas de carrinhos no passeio, eram as competições de skate (aqueles primeiros que custavam 500$00), eram os pára-quedistas de plástico que se lançava do 4º andar com uma pedrinha nas costas para descer mais depressa e não ser levado pelo vento, eram os aviões de papel atirados da janela, eram os sacos de água atirados para a rua para molhar quem passava, eram as tendas montadas em casa, as pistolas com fulminantes!, as bombas de mau cheiro, as pastilhas elásticas Pirata que davam cromos de comboios e aviões, era o bitoque, era o Apolo 70, o Imaviz, o Petzi, eram as paixões de verão, os mata-ratos fumados às escondidas (vulgo Kentucky), etc etc etc... Tanta coisa que poderia aqui ser dita!
Mudou assim tanta coisa? Isto passou-se nas décadas de 70 e 80. Ainda hoje isto acontece nalgumas regiões de Lisboa e noutras cidades do país onde a paranóia e o sistema de vida impessoal ainda não se instalou. Mais do que os putos, quem mudou foram aqueles que agora na casa dos 40, para cima e/ou para baixo, deixaram de ter tempo para os putos, de sair com eles à rua e refugiam-se no conforto protector de um Nintendo ou algo de similar. Alguém diz hoje, como nos diziam a nós na segunda metade da década de 80 do século passado, "ó, o que estais a fazer em casa? Ide passear, ide passear! Está um tempo dos diabos e vocês em casa." E nós íamos. Invadíamos os quintais, saltávamos muros, íamos roubar peras e maçãs ao padre, fugíamos à noite da polícia pela cidade fora só porque tínhamos arrancado umas maçãs de umas árvores num quintal particular. Confesso que hoje, há cada vez menos quintais com árvores de fruto nas cidades...
Termino agradecendo igualmente à Pata-Hari a sua amabilidade em manter-nos actualizados com as cotações.
Provedor