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A fotografia 'retocada' do BCP - Artigo de opinião

MensagemEnviado: 27/1/2003 12:04
por Flying Turtle
Encontrei no Sábado passado, no Diário de Notícias, um artigo sobre o BCP que achei excelente. Só hoje aqui dou nota deste artigo porque o site do DN - aliás da própria Lusomundo - esteve em baixo todo o fim de semana. Consequência dos ataques de Sábado :?: :shock:

Falando de fotografia "retocada", este artigo retrata bem o que se tem passado com este Banco e com a sua atitude face à adversidade. E mostra por que razão desta vez eu errei ao apostar em que a tradição ainda é o que era, ao contar com uma inversão do movimento da cotação a seguir à divulgação dos resultados.

A Administração do BCP trocou-me as voltas, agora trata-se de cortar as perdas... :cry:

Um abraço
FT
Francisco Ferreira da Silva Escreveu:O BCP surpreendeu tudo e todos ao apresentar as suas contas de 2002. Comparar um resultado que não aparece nas contas de 2001 (480,8 milhões de euros) com o resultado operacional de 2002 (472,7 milhões), o que, diz o banco, representa um decréscimo de resultados de 1,7% é uma mistificação. Em seguida, o banco compara os lucros líquidos consolidados de 2001 (571,672 milhões de euros) com os lucros correntes de 2002 (472,721 milhões), o que, afirma, representa um decréscimo de 17,3%. O pior é que, ainda assim, a comparação não está correcta. Lucros correntes comparam-se com lucros correntes (637,674 milhões em 2001 versus 472,721 milhões em 2002) ou lucros líquidos com lucros líquidos(571,672 milhões em 2001 contra os 272,721 milhões em 2003), verificando-se um quebra de lucros líquidos de 52,3%.

Por que razão não assume o banco este resultado, que ainda por cima está à vista de todos no próprio site do BCP, para quem quiser consultar a demonstração de resultados consolidados? Sabe-se que a actividade correu mal a um grande número de empresas em 2002 e que os resultados não serão famosos. Além disso, é natural que num banco cuja cotação caiu quase 50% em 2002, quando o Índice Dow Jones para a Banca Europeia caiu apenas 26,9%, os resultados sejam menos bons.

Os responsáveis do BCP esquecem-se que os portugueses e, sobretudo os accionistas do banco, sabem 'ler', pelo menos, os grandes números da instituição. A aversão do BCP à divulgação de notícias desagradáveis relativas às contas do banco tem-se manifestado em diversas ocasiões, designadamente quando são noticiados os resultados apresentados na Bolsa de Nova Iorque, de acordo com os princípios de contabilidade norte-americanos. Situação que tantos engulhos têm causado à administração do banco e que, a fazer fé nas declarações do presidente do BCP, poderá ser uma das principais razões pelas quais o banco pretende deixar de estar cotado em Wall Street. Decisão que todos devemos lamentar, por se tratar de uma perda para o país.

Como nota final deve realçar-se que é pela transparência de atitudes que os países e as empresas evoluem, acatando as críticas construtivas e sabendo corrigir o que pode, eventualmente, estar mal. Não é, por hipótese, menosprezando os researches de reputados analistas internacionais ou de observadores nacionais que se resolvem os problemas, mas actuando com clareza e sem receios sobre os problemas concretos. Ultrapassar dificuldades representa uma vitória. 'Retocar' fotos, mesmo que seja só na apresentação de resultados, é um mau princípio e não leva a lado nenhum.

francis@dn.pt


In Diário de Notícias - 2003/01/25