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MensagemEnviado: 20/1/2003 8:31
por Pata-Hari
Excelente exemplo do que a net permite. E é um exemplo de uma coisa que se pode implementar com facilidade em portugal. Reunir um grupo relevante de accionistas de uma empresa não me parece que seja terefa impossivel com a ajuda da net e dos meios já dísponiveis. Temos relativamente aos states a facilidade de sermos geográficamente mais pequenos e que contactos iniciados por este meio sejam mais facilmente concretizaveis num contacto mais pessoal e consequentemente numa acção conjunta.

Só nos States ... eRaider!

MensagemEnviado: 20/1/2003 6:20
por Kurioso
http://jornal.publico.pt/2003/01/20/Computadores/TIDYSON.html

Investidores de Todo o Mundo, Uni-vos!

Quando se fala em comunidades "on-line", tende-se a pensar, sem apelo nem agravo, em "chat rooms" dedicados à ultima estrela da música pop ou em grupos sérios de pessoas unidas por uma preocupação comum - o cancro ou o alcoolismo, por exemplo. Os homens de negócios sempre tendem a desprezar estas comunidades. "Não se consegue ganhar dinheiro" é a observação mais comum.

Mas existe um aspecto de negócio nestas comunidades; só que não é aquele que a maioria do que os capitalistas de risco esperavam. À medida que a gestão empresarial se vai tornando um tema glosado tanto nos conselhos de administração como nos "chat rooms", tanto as empresas como os investidores deveriam prestar mais atenção ao que se passa.

Muitos daqueles que, como nós, enaltecemos a noção de comunidades "on-line" imaginaram-nas como algo inspirador não apenas de comunidades de espírito passivo mas de comunidades dedicadas à acção. Ora uma das áreas em que isso está agora a acontecer é nas comunidades viradas para o investimento. Elas não se limitam a divulgar documentos oficiais; muitas vezes, dão a conhecer quem não está satisfeito com a gestão da empresa. E, nalguns casos bem documentados, os accionistas acabaram por se juntar "on-line" e substituir os gestores - algo que poderá vir a repetir-se.

O primeiro exemplo digno de nota foi com a United Companies Financial, uma modesta empresa de crédito em dificuldades e que acabou por declarar falência em 1999. Dois professores de gestão - Aaron Brown, da Yeshiva University, e Martin Stoller, da Northwestern University - tinham comprado acções da empresa pensando que se tratava de um negócio interessante. Mas, quando começaram a tentar contactar a empresa após as dificuldades se tornarem evidentes, não obtiveram qualquer resposta. Algum tempo depois, souberam da existência de um grupo de outros descontentes investidores na mesma empresa através de uma lista de mensagens da Yahoo! - acabando por estabelecer um contacto organizado entre os detentores de cerca de 40 por cento das acções da empresa que haviam sido vendidas em bolsa.

Nasceu assim o eRaider, um fundo destinado a recuperar empresas subvalorizadas, e organizaram formalmente um grupo chamado UC Shareholders Alliance (com todas as chatices legais que isso implica). A batalha ainda não está ganha, diz Aaron Brown, "mas já conseguimos algumas vitórias morais importantes". "Obrigámos a que fosse feita uma divulgação total das circunstâncias que conduziram ao desastre e evitámos uma venda de activos que teria deixado os accionistas de mãos a abanar. E acabámos por assegurar o direito exclusivo a apresentar um plano de reorganização".

"No plano financeiro, os resultados foram menos espectaculares. Conseguimos cerca de 90 cêntimos em dinheiro por acção, para além de um montante entre zero e 6 dólares dentro dos próximos cinco anos ou mais", acrescenta Brown. "Isso será um retorno jeitoso para os 'abutres' que, como eu e Martin Stoller, compraram a menos de 50 cêntimos; mas de pouco servirá às verdadeiras vítimas, às pessoas que compraram as acções a 20 dólares ou mais."

Mais ou menos na mesma altura, os accionistas da rede de cafés Luby's começaram a contactar entre si "on-line". Felizmente para eles, tudo começou antes de esta cadeia de estabelecimentos com sede no Texas se ter tornado insolvente. O grupo de accionistas, entre os quais se contavam alguns antigos gestores da Luby's, aliou-se a uns quantos ex-empregados da empresa. E, apesar de estes dissidentes não terem granjeado o apoio da maioria dos accionistas no que toca à eleição de membros da administração e a outros assuntos na assembleia anual de 2001, o que é certo é que conseguiram o apoio de uns impressionantes 25 por cento dos votos às suas posições.

A empresa diz que este levantamento dos accionistas não teve consequências mas, desde então, foram já dois os CEO que se demitiram. A empresa está agora a ser dirigida por um ex-gestor de cafetaria e um seu irmão, que injectaram 10 milhões de dólares e são agora detentores de 6 por cento das acções.

"A Luby's é o melhor exemplo de uma campanha essencialmente desenvolvida na Internet, numa iniciativa ao estilo de 'Mickey-Rooney: Hey-kids-let's-put-on-a-proxy-fight!'", diz Con Hitchcock, um anónimo advogado que foi colega de Ralph Nader. "Considerando que tais iniciativas intermediadas podem custar, no mínimo, centenas de milhares de dólares a uma pequena empresa, trata-se de um exemplo impressionante do potencial da Internet."

Os accionistas e as suas alternativas
Embora haja sobreposições consideráveis, quase todas as empresas têm a sua própria comunidade. Muitas estão nas listas de mensagens da Yahoo!; outras estão nas listas associadas ao "site" do Motley Fool na Web. E agora há o eRaider.com, por iniciativa das pessoas que lançaram a United Companies.

É certo que comprar através dos fundos de investimento permite evitar muitos dos problemas judiciais que podem pôr-se aos investidores individuais. Mas isso também inibe o gozo de organizar um grupo em torno da empresa em que se decidiu investir. E um fundo pode também não corresponder como se esperaria. Nell Minow pensava que os grandes investidores institucionais - como os fundos de pensões ou os fundos mútuos - estariam em condições de acompanhar as questões de gestão das grandes empresas.

Ora Nell Minow, fundadora de Thecorporatelibrary.com, uma entidade "on-line" dedicada à pesquisa e análise de multinacionais, diz que chegou à conclusão de que isso raramente se verifica. "Eles não querem dar a cara mas dispõem-se a apoiar quem esteja disposto a fazê-lo", explica Minow. "Sem a Internet, seria impossível a indivíduo fazer frente de forma significativa a uma empresa."

Antes de o leitor deitar mãos à tarefa de organizar o seu próprio colectivo, convirá, no entanto, considerar uns quantos aspectos. É fácil ter razões de queixa da gestão de uma empresa, embora haja certamente casos de fraude manifesta. Mas o mais frequente é que, se a gestão não é lá muito boa, o conselho de administração também não é melhor e nenhuma das partes consegue dar um contributo decisivo para melhorar as coisas. Noutros casos, tudo radica num mau momento da economia e nada parece resultar.

Os accionistas que pretendem agir - em vez de apenas se lamentarem - estão em condições morais e práticas de contribuir com alternativas credíveis, o que é mais fácil de dizer do que de fazer. E é também necessário ter em conta os regulamentos dos mercados financeiros. O ciberespaço poderá ser independente de qualquer jurisdição territorial mas, a partir do momento em que se começa a interferir na gestão de uma empresa, há regulamentos bem específicos a respeitar.

Sempre que mais de 5 por cento dos accionistas de uma empresa registada nos EUA começarem a agir em conjunto, eles terão que apresentar o chamado impresso 13D à Securities and Exchange Commission [a entidade reguladora dos mercados financeiros] e passar a respeitar regras muito específicas. Sim, há muita burocracia mas ela constitui uma barreira razoável destinada a proteger os directores e gestores das empresas das tropelias de quem queira simplesmente causar problemas - mas, espero eu, não tão inultrapassável que iniba as iniciativas razoáveis e persistentes.

É difícil discernir os problemas na gestão de grandes empresas e encontrar soluções para eles. O facto de se ter assento no conselho de administração de uma empresa não garante que se tenha resposta para todas as questões; mas também não se tem essas respostas só porque se trocou umas impressões com outros descontentes num "chat room". A Internet permite, agora, que ambas as partes digam de ,sua justiça... e depois deixarem a decisão aos restantes accionistas. (Mais informação disponível em thecorporatelibrary.com e eRaider.com).