Eu tenho muitas dúvidas face ao momento actual do ciclo económico e a minha opinião vai-se adaptando á medida da minha aprendizagem e do desenvolvimento de vários factores condicionantes... não me posso esquecer que vivemos na bolsa ainda no período pós bolha de 2000 e que se houve dúvidas na altura por parte da maioria dos investidores da existência de tal bolha hoje é praticamente aceite por todos como resultado das enormes correcções sofridas durante 3 anos... e assim sendo e considerando a existência dos ciclos longos identificados por Kondratiev torna-se difícil imaginar que não iremos passar por momentos de muita indefinição e dificuldades económicas nos próximos anos mas... esperamos todos que as entidades responsáveis tenham a sorte necessária e o saber para levar o barco a bom porto...
A situação na bolsa no momento actual conforme já referido por muitos é de incertezas e de empata (não ata nem desata) embora nos últimos tempos com ligeiro pendor negativo aparentemente em resposta ás preocupações com a
inflação nos USA e á subida de
taxas de juro por parte do FED que já subiu a taxa de 1 para 3% desde 30 junho do ano passado em 8 decisões de +0.25% e os analistas esperam ver ainda as taxas crescer até aprox. aos 4 a 5%. De referir que o FED manteve sempre nos seus discursos durante este período que a inflação estava controlada e só na 7ª decisão de subida de taxas recentemente em 22 de Março a inflação passa a ser um problema ..... Segundo o discurso que o FED manteve durante bastante tempo tivemos “crescimento da economia, inflação controlada, subida medida (measured) de taxa de juros, melhora do mercado de trabalho, riscos equilibrados para crescimento e controle de preços”... parecia uma cassete gravada...
Entretanto, a subida da inflação leva normalmente á subida das taxas de juro e esta é uma das medidas restritivas mencionadas acima na Fase II do Ciclo Económico... e com ela pressupõe-se que a bolsa deva cair...
Mas... há já muita gente a desconfiar e a queixar-se de manipulação de dados por parte das entidades responsáveis... Para além dos dados relacionados com a inflação desconfia-se já de outros indicadores entre os quais os relativos ao
emprego ... ou seja, com base nesse pressuposto, hoje em dia poucas pessoas podem estar certas em tempo adequado da real situação económica para fazer as devidas previsões ...
Com a vinda a público das preocupações do Fed no que respeita á inflação temos aí outros problemas como é o caso do
mercado de renda fixa... Recentemente em 2 de Março Greenspan disse não compreender porque é que sobem as Bonds... Se ele tem dúvidas que poderemos pensar nós... Diria eu que se sobem contra o entendimento do presidente do FED só vejo 2 hipóteses: uma é que possivelmente os intervenientes estarão a apostar em qualquer cenário contra o que diz Greenspan; a outra é que se trata mesmo de mais um exagero e então temos uma bolha nas Bonds...Que venha o diabo e escolha...
Relativamente ainda á conjuntura económica temos hoje como certezas algumas situações muito complexas nos USA com relevo para o
duplo défice de que a FED já vem fazendo menção há bastante tempo e do qual diz que... “é insustentável”... Também aqui não nos podemos esquecer que para a economia, hoje globalizada, o consumidor americano tem sido indispensável para o andamento da carroça... Assim sendo, se abranda o consumo prejudica o crescimento da economia, se continua a consumir a este nível aumenta o défice... Complicado...
Realce também para a bolha do
sector imobiliário com origem sobretudo nas historicamente baixas taxas de juro no após bolha da bolsa e da qual o FED vem há bastante tempo a fazer vista grossa... Só recentemente o FED se preocupou com problemas relacionados nomeadamente com a Fannie Mae e a Freddie Mac... Note-se entretanto que o poder de compra do consumidor americano, bastante endividado, hoje em dia depende muito do alto valor da hipoteca da sua habitação e dos baixos valores das taxas...
Outra bolha estará aí no desenfreado crescimento do mercado de
fundos de alto risco (hedge funds)... Levantam-se questões nomeadamente com as posições alavancadas em derivados (parece que existe aí uma bomba relógio pronta a explodir) mas... quando é a própria FED que vem fazer os avisos de perigo eu fico desconfiado... Não é que não acredite no fundamento desses avisos mas sim do timing...
Relativamente a tempos desajustados de “avisos” da FED lembro-me neste momento daqueles mais escandalosos:
Na 2ª metade da década de 90 Greenspan diz que a bolsa segue em exuberância irracional (ou seja que a bolsa estava excessivamente cara) e no entanto seguiram-se anos de maior irracionalidade com subidas de bolsa espectaculares...
Em 2001 fartaram-se de negar a possibilidade da economia seguir em recessão que estava tudo sobre controle, blá, blá, blá.... Entretanto a bolsa depois de um período de clara “distribuição” caiu que se fartou para desgosto de muito pequeno investidor...Só então finalmente no final do ano 2001 veio a FED confirmar a recessão para o período em questão e entretanto já os mercados haviam recuperado relativamente... deu-se tempo então para mais um período de forte “distribuição” para voltarem depois a uma queda ainda mais violenta que rebentou com os últimos “moicanos”...
Eu, como disse já noutras alturas, acredito que teremos correcções (as denominadas saudáveis) e não catástrofes. Digamos que para uma catástrofe atribuo uma percentagem inferior a 10%, talvez até abaixo de 5%...Acredito que uma correcção mais violenta quando muito levaria os índices até valores próximos de Março/2003.
Para os tempos que correm penso que os topos e fundos poderão ser definidos por valores médios dos fundamentais tais como Market Yield, Price/Dividend ratio e Price/Earnings ratio que conjugados são um dos indicadores mais fiáveis para o efeito.
Qualquer coisa similar ao que se passou nas décadas de 60 e 70 embora hoje com muitos mais riscos do que naqueles anos. Por diversas razões não excluo nenhuma das hipóteses por mais impossíveis que se apresentem... hoje infelizmente nem por valores da micro economia podemos pôr a mão no fogo... o PER do mercado deve andar bastante adulterado com a influência da contabilidade moderna por muitos já denominada de “criativa”...
Segundo dados que recolhi na net o Market Yield geralmente move-se entre os 3% (mercado sobre valorizado) e os 6% (mercado sub valorizado). O P/D ratio abaixo de 18 indica que as acções estão baratas e acima de 30 que estão caras. O P/E ratio como regra geral é aceitável na média de 14, a 10 ou abaixo indica um mercado sub valorizado, entre 17 e 19 é aconselhada precaução e a 20 ou acima indica que o mercado está sobre valorizado.
Valores actuais para o S&P 500
Market Yield .................aprox. 1,85%
P/D ratio.........................aprox. 60
Per ................................ aprox.18,8 % (???)
Estes valores, a estarem correctos, mostram que a situação actual não está nada, nada fácil... e se os mercados atingirem no curto /médio prazo valores mais altos maior será a irracionalidade...
http://bigcharts.marketwatch.com/quickc ... &x=36&y=18
http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q= ... 5%22&meta=
Ainda uma última achega para o facto de que analisar no longo prazo um índice é muito diferente da análise que se pode fazer ás empresas individualmente pois com o passar dos anos as empresas que “fraquejam” são substituídas e os índices reflectem apenas as acções que e quando estão no seu melhor... por isso quando olhamos para um índice muitas vezes pensamos que na bolsa no longo prazo é sempre para cima mas não é... alguns exemplos são os lançamentos em bolsa de acções sobre valorizadas que logo entram para os índices e passados alguns anos são opadas e retiradas de bolsa por valores bastante inferiores... Ainda as empresas de sectores que saem de moda ou deixam de ser lucrativas com o passar dos anos... Alguém se lembra das empresas portuguesas cotadas em bolsa no ano de 1987... Alguns investidores ainda forram paredes com esse papel e no entanto o PSI está muito acima de valores relativos a essa época de apogeu... Veja-se também o caso de empresas como a GM e a Ford, á partida de grandeza incontestável e intocáveis, e agora a incerteza do futuro de quem nelas meteu o seu dinheiro...