4. Previsões de mercados e motivos
4.1. S&P 500
4.1.1. Gráfico
4.1.2. Previsão
Mínimo do ano entre Abril e Junho, em valores no intervalo 550 - 650. Máximo do ano entre Setembro e Dezembro, no intervalo 800 - 900 pontos, com 2003 a terminar perto da variação neutra, ligeiramente negativa ou positiva.
4.1.3. Motivos
Motivos macroeconómicos:
- O comportamento previsto para o PIB, com uma quebra acentuada do Consumo a levar a taxa de variação ao vermelho no 1º semestre. Nessa altura, esperam-se ténues sinais positivos do Investimento, principalmente por acção do FED, o que proporcionará a recuperação do mercado no 2º semestre.
- Na 1ª metade do ano o mercado deverá forçar o FED a fazer o que disse que faria se houvesse um elevado risco de deflação. Quando isso acontecer o mercado automaticamente saberá que vai haver uma massiva injecção de liquidez no sistema, sem precedentes, e vai subir no 2º semestre por causa disso.
- A oferta de moeda que deverá aumentar substancialmente no final do 1º semestre, mas só se o mercado cair até lá.
- A inflação que terá meses negativos no 1º semestre poderá reviver na 2ª metade do ano por intervenção especial do FED.
Em suma, a chave deste ano está na novidade do comportamento do FED. Que as taxas de juro não têm tido efeito e provavelmente cortes adicionais também não terão, já toda a gente sabe. Mas, e que tal compra directa de obrigações do tesouro de longo prazo (garantindo uma yield mínima), compra de obrigações de empresas com risco diminuto, compra de acções de blue chips? Por exemplo, o Banco Central de Hong Kong, a determinada altura e depois do Hang Seng ter caído uns 70%, entrou no mercado a comprar acções, provocando um enorme short squeeze que fez o mercado subir 100%. No final, o Estado possuia 10% do mercado accionista privado. Mas, e isso foi em 98, o mercado ainda não voltou aqueles mínimos.
Portanto, temos uma pescadinha de rabo na boca no S&P. Se não cair, não sobe porque não tem estímulo nem motivos fundamentais. Se cair, como espero, subirá a seguir, por acção directa do FED e descontando os efeitos macroeconómicos de uma intervenção de política monetária sem precedentes, com medidas inovadoras.
Sentimento de Mercado:
Esta situação em termos de Sentimento de Mercado é extremamente bearish. Entramos em 2003 com uma larga maioria de bulls, e como sabemos nestas questões de mercados, especialmente de fundos, a maioria está sempre errada. Nestes últimos dias tenho estado atento à CNBC, e apareceu um estudo que analisava a opinião média para 2003 de mais de 200 analistas. A conclusão foi que o S&P iria subir 20% e o Nasdaq 26%. Nem sei para quê que fazem isto, a conclusão é sempre a mesma, a receita dos 20% hehehe (quase sempre errada, note-se).
Ora, para que o mercado atinja um mínimo convincente (e para mim esse mínimo não foi ainda atingido em 2002), é necessário que exista de forma consistente e sistemática uma maioria de Bears. Vou estar sempre atento a este indicador de sentimento, e quando a linha verde estiver por umas semanas abaixo da linha vermelha, saberei que chegou a altura de procurar um sítio para comprar para médio prazo. Agora, neste momento? É altura de procurar um sítio para shortar, segundo o sentimento de mercado.
Rácios Fundamentais:
O S&P encontra-se ainda bastante sobrevalorizado em termos históricos, qualquer que seja a medida de Análise Fundamental que se utilize:
No início do anterior Bull Market, em 1982, o Dividend Yield era de cerca de 6,5%, o PER cerca de 8 e o Price to Book Value andava pela unidade, tal como é preconizado no livro Ganhar em Bolsa e no artigo
18 factores para o início do Bull Market.
Actualmente, estamos assim:
PER de 35 e Dividend Yield de 1,7%. São valores que fazem pouco sentido num Bull Market, quanto mais num Bear Market. Consequências da bolha. Isto justifica que o mercado caia, comprar acções nesta altura, a estes preços, não é atractivo do ponto de vista fundamental.
Antes de avançarmos mais, vejamos mais uns gráficos que ilustram, em termos históricos de muito longo prazo, porquê que esta é uma das alturas na História menos apetecíveis para comprar acções, em termos de atractividade fundamental ou racional:
Enfim, não vale a pena bater mais no ceguinho das valorizações. Mas vamos lá ver uma coisa, então, eu defendo que o mercado vai cair também porque está caro numa tendência descendente, mas, e depois, na 2ª metade do ano, vai subir porque estará barato?
Não ! Reparem até onde é que o S&P tinha de ir para ficar barato em termos fundamentais históricos (considerando exclusivamente o Dividend Yield):
Teria de ir a qualquer coisa entre os 300 e os 400 pontos, se tudo se mantivésse como até aqui em termos de dividendos. Mas têm havido mudanças nas empresas, e a política é agora a favor de dividendos (o Congresso prepara-se para aprovar uma Lei que termina com a dupla taxação dos dividendos) e valor para o accionista. Podemos pensar que o Dividend Yield do S&P atinja os tais 4% por volta dos 500 pontos, não sabemos.
Mas a questão fulcral é que a subida que prevejo no 2º semestre nada tem a ver com o facto destes rácios fundamentais ficarem atractivos, porque não ficarão, isso deverá demorar bastante mais tempo. A subida acontecerá porque, como disse atrás, existirá uma massiva intervenção por parte das autoridades monetárias, que inevitavelmente terá reflexos no mercado, pelo menos de médio prazo, depois logo se vê se a economia e o crescimento dos lucros ganham tracção nessas políticas.
Outro motivo fundamental consiste na ainda diminuta apetência dos grandes para oparem os pequenos. Têm havido muito poucas OPA´s, penso que quando houver o big sell off este ano se vai notar uma maior actividade por parte dos grandes, que possivelmente durará até ao final de 2003.
Motivos técnicos:
A tendência de longo prazo é descendente, dada pelo facto da MM 200 dias (a azul) exibir inclinação descendente e do indíce estar abaixo da média móvel.
Por outro lado, utilizando o indicador Zig Zag para contagem de Elliot Waves, com um nível de retracção de 20%, vemos claramente que falta uma onda 5 que terminará este ciclo, que atirará o S&P para novos mínimos bastante abaixo do mínimo de 2002 nos 768 pontos.
Defendo a inversão algures nos 550 - 650 pontos do S&P, em termos técnicos, devido à existência desta LT ascendente de longo prazo, sustentáculo do maior Bull Market na história dos EUA:
A inclinação da linha é de apenas 0.0976 pontos por dia, logo num trimestre sobe cerca de 6 pontos.
Motivos geo-políticos:
Eu atribuo menos de 10% de peso na evolução dos mercados a esta questão. Porém, convém referir que pode estar, em alguma medida, a funcionar o sell the rumor (em relação à intervenção no Iraque), para depois acontecer o «buy the fact» pouco depois da Guerra ter início.
4.2. Nasdaq Composite
4.2.1. Gráfico
4.2.2. Previsão
Mínimo entre os 800 e os 1.000 pontos, novamente entre Abril e Junho. Máximo entre Setembro e Dezembro, em torno dos 1.400 - 1600 pontos. Penso que o Nasdaq vai subir em 2003, e que o maior potencial de crescimento de longo prazo está no sector tecnológico. As valorizações é que ainda não são atractivas, mas com uma queda até aos 800-1.000 ficarão apetecíveis, e nessa altura, comprar qualquer coisa como Cisco, Intel, Microsoft, Dell ou Sun Microsystems, por exemplo, pode revelar-se um excelente investimento, pelo menos até ao início de 2004.
Irei sempre favorecer as grandes blue chips, as líderes em cada sector, pois com Shumpeter morrem os fracos e prosperam os fortes, e é esse o caminho que os grandes líderes estão a desejar para a economia, como meio de sobrevivência de longo prazo do Capitalismo.
4.3. Dow Jones
4.3.1. Gráfico
4.3.2. Previsão
Mínimo no intervalo 5.000 - 6.000 pontos, na mesma altura do S&P. Máximo nos 7.500 - 9.000, no final do ano. Espero sensivelmente o mesmo para o Dow Jones que para o S&P, como seria de esperar, aliás, todos os 30 componentes do Dow Jones pertencem também ao S&P 500.
4.4. DAX Xetra
4.4.1. Gráfico
4.4.2. Previsão
Para o DAX vou arriscar um intervalo target apertado, os 1.800 - 2.000 pontos, por se ter tratado de uma área de importante suporte no passado, como podemos ver no gráfico. Provavelmente o «momento em que a esperança deixou de existir» acontecerá em torno dos 1.800 - 1.900, e penso que residirá aqui uma boa oportunidade de compra.
De longe o DAX foi o que mais caiu desde o máximo (entre o máximo histórico e o mínimo de 2002 o DAX perdeu 69% do seu valor), representa a 3ª maior economia do Mundo e está a ser extremamente penalizado pela expectativa (já parcialmente confirmada), de deflação, a doença japonesa. Porém, é no DAX que a dicotomia deflação/inflação deverá ter um maior efeito de elástico, e com o processo de reflação do FED (ao qual o BCE deverá ajudar, e muito, com vários cortes de taxas no decorrer do 1º semestre de 2003) deverá impulsionar o DAX para uma subida no 2º semestre. Porém, este efeito de reflação na Alemanha será combatido pela subida do Euro, que será deflacionista e trará grandes dificuldades à economia alemã, essencialmente exportadora. Se não fosse este efeito de subida do Euro, esperaria o DAX entre os 3.500 e os 4.000 no final de 2003, mas assim devo temperar o optimismo e ficar-me por uma previsão de fecho no intervalo 3.000 - 3.500.
4.5. PSI 20
4.5.1. Gráfico
4.5.2. Previsão
O PSI 20 desceu 25,6% em 2002, e está 61% abaixo do máximo histórico, fixado em 9 de Março de 2000 nos 15.081 pontos. Não é visível neste gráfico, mas o índice PSI 20 teve início em 2 Janeiro de 1993 nos 3.000 pontos, logo ainda está a subir 94% nos últimos 10 anos. Para voltar ao máximo histórico teria de subir 159%.
Tendo descido «apenas» 25% em 2002, o PSI nem foi dos piores a nível mundial, e afirmo com clareza que Portugal tem um dos mercados accionistas menos sobre-valorizados do Mundo nesta altura (mas ainda não está «barato», está quase).
Desta forma é fácil prever que o PSI não tenha uma queda tão exacerbada como os principais mercados mundiais no 1º semestre e sinceramente já não encontro motivos para andar a shortar este mercado, está morto, e da morte não se pode piorar. Penso que o mínimo de 2003 será um pouco abaixo de 2002 (que foi nos 5.038 pontos), e que será encontrado no intervalo 4.250 - 4.750 pontos.
Na 2ª metade do ano espero uma recuperação, para um fecho positivo a subir uns 10 a 15%, nos 6.100 - 6.700 pontos, portanto. Do PSI 20, penso que a maior subida do ano vai ser a PT Multimédia, o que aliás já aconteceu este ano, em que a PTM subiu 27%. Mas títulos como PT, BCP, BPI, Cofina e Novabase também deverão ter recuperações interessantes no 2º semestre. A Sonae SGPS é uma incógnita para mim, prefiro abster-me neste momento.
Não me quero imiscuir na política portuguesa, nem sequer na política económica, para não ferir susceptibilidades. Mas se me desafiarem sou capaz de, noutro artigo, investigar e aprofundar a situação, pois este jardim à beira mar plantado tem para mim um significado muito especial.
4.6. Ouro
4.6.1. História do Ouro
Ouro a preços reais de 1999 (1344 - 1999):
Verificamos neste gráfico com 650 anos de história do Ouro (a preços de 1999) que na época anterior aos Descobrimentos a cotação era extremamente elevada, na ordem dos 2.000$ por onça. Porém, por volta de 1500 e até 1650, as Descobertas de portugueses e espanhóis, e mais tarde de outros povos, inundaram o mercado de oferta trazida das novas terras, descendo o preço do ouro para valores em torno dos 400-600 $ por onça. Esta mudança estrutural profunda no mercado, com uma grande expansão da oferta sem aumento correspondente na procura, foi um acontecimento único na História, e a situação anterior aos Descobrimentos naturalmente nunca será recuperada. Por isso, as cotações anteriores a 1650 não servem para efeitos de previsão futura, pois respeitam a determinadas condições que nunca mais foram repetidas nem serão no futuro.
Portanto, olhe-mos para a evolução a partir de 1650, altura em que as moedas em circulação eram de Ouro e Prata (depois abandonou-se o bimetalismo, passando a vigorar exclusivamente o Ouro). Tirando duas quedas por volta de 1800 (não foram quedas do valor do metal, mas sim de subida da inflação, e como o gráfico está a preços reais, subindo a inflação o gráfico desce, mesmo mantendo-se mais ou menos inalterado o valor do Ouro).
Nesta altura estava em vigor o Padrão-Ouro, e já existiam notas em circulação, que poderiam ser trocadas no banco por Ouro. Estava assegurada a convertibilidade da moeda em Ouro. O Padrão Ouro durou até 1933, quando foi revogado por Roosevelt. Entre 1800 e 1933, enquanto vigorava o padrão-ouro, praticamente não existiu inflação, segundo Alan Greenspan no seu discurso de 19 de Dezembro, onde pela primeira vez referiu o Ouro, e logo no início da sua intervenção:
«Although the gold standard could hardly be portrayed as having produced a period of price tranquility, it was the case that the price level in 1929 was not much different, on net, from that of 1800. But in the two decades following the abandonment of the gold standard in 1933, the Consumer Price Index in the United States was doubled. And, in the four decades after that, prices quadrupled. Monetary policy, unleashed from the constraint of domestic gold convertibility, had allowed a persistent over-issuance of money".
Em 1933, depois do Grande Crash de 1929 e enquanto durava a Grande Depressão, o Governo fixou a cotação do Ouro nos 35$. E assim ficou, apenas com ligeiras oscilações, até 1971:
Poderá argumentar-se o seguinte: na época do padrão-ouro não existiu inflação, logo era natural que a cotação não subisse, que se mantivésse com pouca oscilação ao longo das décadas, em termos reais. Porém, quando se abandonou o padrão-ouro em 1933, a inflação começou a subir no século 20, e até 1953 o CPI duplicou, e de 1953 até 1993, quadruplicou. Logo, o Ouro deveria ter subido a partir de 1933, caso fosse deixado livre perante as forças da procura e da oferta. Mas estava fixo nos 35$. Quando finalmente libertaram a cotação em 1971, aconteceu o óbvio, o Ouro catapultou-se para os 850$ em 1980.
De 1980 para cá, com as expectativas e a própria inflação a diminuir, o ouro caiu dos 850 para um mínimo nos 251$ em 2001. Em Agosto desse ano, estava o ouro nos 273$, escrevi um
artigo a prever o início de uma nova subida de longo prazo no Ouro, que na altura gerou interesse e polémica, mas a pouco e pouco o Ouro, e as acções de empresas relacionadas, foi sendo considerado pelos investidores nacionais como uma alternativa viável e potencialmente muito lucrativa.
Fechou 2002 nos 347,5$, a subir 24%. Vejamos o aspecto de um novo Bull Market:
4.6.2. Motivos Técnicos e Fundamentais para a subida do Ouro
Tecnicamente a defesa é óbvia, tem uma tendência ascendente de longo prazo e foi um dos melhores activos do Mundo em 2002. Será possível que, neste tempo em que o Ouro responde apenas às forças da oferta e da procura, que a tendência de muito longo prazo seja ascendente, e que o Ouro vá passar neste Bull dos 850$? Acredito que sim, embora entenda o facto como uma nova bolha especulativa, pois o Ouro é fundamentalmente aquilo que sempre foi, uma reserva de valor, não um canal de investimento.
Em relação aos motivos fundamentais, destaco 4 principais:
1) Queda vertiginosa do Dólar nos próximos 2 anos. Pensemos que 75% das reservas dos Bancos Centrais do Mundo são em US$. Pensemos nos últimos discursos de Alan Greenspan e Ben Bernanke, dizendo que no caso de double dip e ameaça de deflação nos EUA vão imprimir notas a torto e a direito injectando uma quantidade massiva de dólares na economia e no Mundo, reparem:
«In mid-November, Greenspan stated that, "there’s virtually no meaningful limit to what we could inject into the system were that necessary". He commented that he would release unlimited dollars into our banking system by acquiring among other things, long term Treasuries if he deemed it advisable. About a week later, Governor Bernanke confirmed and reinforced Greenspan’s testimony. He stated that, "the U.S. government has a technology, called a printing press (or, today, its electronic equivalent), that allows it to produce as many U.S. dollars as it wishes at essentially no cost. By increasing the number of U.S. dollars in circulation, or even by credibly threatening to do so, the U.S. government can also reduce the value of a dollar in terms of goods and services, which is equivalent to raising the prices in dollars of those goods and services." He went on to say that, "If we do fall into deflation, however, we can take comfort that the logic of the printing press example must assert itself, and sufficient injections of money will ultimately always reverse a deflation". »
Se a oferta de dólares vai aumentar desta forma, o que vai acontecer ao seu preço, ou seja, a taxa de câmbio? Vai cair de forma drástica. Como o Ouro é medido em US$, o Ouro vai subir derivado deste efeito (mais do que a queda do dólar).
2) Expectativa inflacionista na 2ª metade de 2003
Já falamos sobre isto no ponto 3.9. Inflação. Uma subida da inflação favorece a subida da cotação do Ouro.
3) Não existem alternativas de longo prazo ao Ouro e commodities
As taxas de juro dos depósitos a prazo não são atractivas, e podem potencialmente envolver risco, no caso de uma grave crise financeira. As obrigações também já não dão nada. As acções continuam sobre-avaliadas em termos fundamentais históricos, como vimos. O imobiliário vai começar a descer. Todos os países do Mundo desejam ter uma moeda fraca (situação impossível), as taxas de juro em todo o Mundo são baixas.
O Ouro é a melhor reserva de valor, e se a pouco e pouco todos começarem a pensar assim o Ouro vai ser também um bom investimento na bolha dos próximos anos.
4) A posição short no Ouro
No último Bull do Ouro, entre 1971 e 1980, apareceram imensas novas empresas mineiras. Como sabemos, montar uma mina não é coisa que se faça da noite para o dia, é coisa para demorar anos, entre estudos, perfurações, testes, instalações, produção, etc. Isto foi assim de tal forma que, apesar da queda da cotação, apenas em 1995 se inverteu a tendência de aumento da produção de ouro no Mundo. Para sobreviver à queda da cotação, as próprias empresas de exploração começaram a shortar ouro, e chegaram a 2002 com uma grande posição short, algumas estão short em mais de 4 anos de produção anual das suas minas (venderam em avanço a sua produção, pois pensaram que os preços iriam continuar a cair).
Aqui está principalmente a Barrick Gold, mas há bastantes mais ...
Os Bancos Centrais desde 1980 que emprestam Ouro a taxas bastante baixas, em torno de 1% ao ano. Nestes últimos 20 anos, muitos bancos de investimento e comerciais fizeram a «gold carry trade», que consistia em pedir ouro emprestado aos bancos centrais a taxas de 1%, vendiam o ouro no mercado e punham a render nas obrigações entre 5% e 10% estava aqui um esquema seguro de ganhar dinheiro. Porém, isso fez com que se construísse uma enorme posição short no ouro (muitas vezes off-the market), que segundo estimativas de reputados analistas ascende a 4 anos de produção global do metal.
Ou seja, são precisos 4 anos de extracção de ouro para que a oferta consiga corresponder ao buy to cover dos shorts existentes. Estão criadas as condições para um grande short covering rally, que fomentará e tem fomentado esta bolha especulativa. Até porque o FED já não parece estar a apoiar os especuladores short no Ouro, até porque os Bancos Centrais do Mundo já deixaram de vender Ouro, e quem sabe se não passarão a compradores, substituindo pelo menos uma parte das suas reservas em dólares por ouro?
4.6.3. Previsão
Penso que o Ouro vai terminar 2003 nos 500-600 $. Acho que vai ter alguma retracção algures entre Fevereiro e Maio, e que a maior subida acontecerá, como em 2002, na parte final do ano.
No longo prazo não sei onde pode ir parar, tenho apenas consciência que é uma bolha especulativa que está no seu início, e que quando estoirar vai dar um bom short, mas só a preços substancialmente superiores, pelo menos acima dos 850$. E que até lá, a atitude correcta é admitir que a tendência é nossa amiga, e deixar rolar o Bull e os lucros dourados.
4.6.4. Formas de comprar barras e moedas de Ouro
Em Portugal existem 8 empresas (curiosamente todas no Norte do país) que vendem (e compram) barras de Ouro. Se alguém quiser os contactos que envie um e-mail para
capablanca2003@hotmail.com.
No
www.kitco.com também vendem barras, mas com um spread de 20 $ entre a compra e a venda. Talvez a melhor forma seja comprar futuros do Ouro, deixá-los ir até à expiração e aí adquirir as barras.
Tudo isto com dois tipos de consciência: o ouro serve de reserva de valor, não de canal de investimento. Por isso, a subida será especulativa e terminará algures com um estoiro (a preços muito acima dos actuais, segundo a minha análise), como acontece a todas as bolhas especulativas.
4.7. HUI
4.7.1. Gráfico
O HUI é o pincipal índice de acções de empresas unhedged do Ouro, se bem que o principal e mais reconhecido índice de todas as empresas mineiras seja o XAU, prefiro este HUI por não incluir empresas que apostam contra a evolução do ouro.
A tendência é ascendente, estamos num Bull Market, o HUI subiu 122% em 2002. Espero que esta tendência continue em 2003, com a subida do Ouro em si as empresas extractivas do metal deverão beneficiar.
4.7.2. Previsão
Embora o caminho possa vir a ser bastante turtuoso, espero para 2003 novamente uma grande subida deste índice, digamos, uns 100% para os 290 pontos. Vamos apontar para um fecho nos 280 - 320 pontos, mas tudo pode acontecer, apenas tenho a convicção de que irá subir bastante. O motivo é exclusivamente a subida da cotação do Ouro, que catapultará os lucros destas empresas. E também a passagem de pelo menos um bocadinho dos fundos especulativos que estão alocados às techs para este sector. Basta 1% para as fazer voar, não nos esqueçamos que todas as empresas mineiras do Mundo juntas ainda valem menos que a Cisco, não nos esqueçamos disso.
4.7.2. Acções preferidas
Gosto das blue chips que estejam unhedged, a lista é muito longa, vocês sabem quais são, Goldcorp, Royal Gold, GoldFields, Durban Roodepoort Deep (perdi a aposta dos 6$, apesar do Ouro ter arrancado no final do ano para novos máximos, ela não conseguiu lá chegar em 2002 - penso que em 2003 serão mais do que ultrapassados), Harmony Gold Mining, há muitas mais, outras mais pequenas como a Silverado Gold Mines ou a Caledonia Mining também prometem fazer as delícias dos investidores.
A propósito, a BIG tem muito boa vontade e ajudou muita gente a entrar e lucrar com estas acções, mas eu acho que mais para a frente vão arrancar muitas penny stocks assim 50% ao dia, e eu quero poder lá estar, e por isso abri conta numa corretora online sediada no Luxemburgo, a
www.internaxx.lu . Aqui posso comprar todas as acções dos mercados americanos, para aproveitar tudo o que este Bull tiver para dar, saltando de umas para as outras de acordo com o momentum (mais para a frente, essa euforia final, em que se faz 50% da subida em 10% do tempo do Bull, ainda deve demorar talvez uns 2 anos).
4.8. CRB Index
4.8.1. Gráfico
As commodities estão a entrar em Bull Market (depois de um Bear de 22 anos), antecipando a inflação que aí vem. Coisas como o milho, cobre, algodão, sumo de laranja, grãos de soja, café, etc são para ter em atenção nesta altura. Depois se me virar para aí escrevo um artigo com informações mais detalhadas, para já o que fixo é que o CRB Index (o índice do preço das commodities) subiu 20% este ano e está Bull:
4.9. Dolar Index - Euro/Dolar
4.9.1. Gráficos
Temos um topo de longo prazo no Dólar, e o início de uma tendência descendente de longo prazo. Prevejo nova grande queda do dólar em 2003, na ordem dos 20-25% face às principais moedas (pelos motivos que já enunciei ao longo do texto).
O Euro deverá ter uma grande subida em 2003, penso mesmo para um novo máximo histórico, entre o 1.20 e 1.30 dólares por euro no final do ano. Isto é contrário aos interesses europeus, especialmente alemães, mas andaram tanto tempo e tentar que o Euro subisse, que agora ele vai subir demais, como sempre os mercados exageram as tendências quando têm condições para isso. As taxas de juro mais elevadas na Europa, mas principalmente o retorno de capitais à sua origem, deverá estar na base deste movimento da taxa de câmbio.
Também a forma como o FED poderá lidar com o double dip/deflação, assunto sobre o qual já falamos exaustivamente (e depois de dias a escrever isto, embora me tenha dado um gozo enorme, estou cansado), será motivador da subida do Euro face ao Dólar. O Iene também deverá subir face ao Dólar. Parece que as autoridades monetárias nos EUA estão a dar imensos ouvidos e razão ao Stephen Roach, que há muito afirma que um dos problemas da economia global é ser centrada nos EUA. Todos os países querem exportar para os states, o grande consumidor mundial. Com a queda do dolar, os americanos vão forçar zonas económicas como o Japão, a China e principalmente a Europa, a recentrar as suas políticas no crescimento da sua procura interna, e não nas exportações para os EUA, pois apesar da economia norte americana ser uma locomotiva muito forte, está cansada ao longo de tantos anos a puxar pela expansão do mundo capitalista.
A estratégia é clara, equilibrar o Mundo em termos económicos, com cada país a procurar as suas soluções e a resolver os seus problemas internos. Os capitais retornarão cada vez mais à sua origem, sob ameaça (e efectiva acção nos mercados, que já está a acontecer fortemente), de grande desvalorização do dolar, uma moeda inflada por mais de 20 anos de atracção de capitais muitas vezes especulativos.
5. Conclusão
Depois de vários dias de investigação e escrita, chego ao fim do artigo. Não sei se as coisas realmente se vão passar assim, ou se serão ao contrário, mas, ficou escrito aquilo que actualmente penso acerca de 2003 nos mercados. Espero que o texto seja útil para alguém, nem que seja para balizar as grandes tendências e ver aquilo que potencialmente poderá interessar em 2003. Em termos de alocação de capital eu vou fazer assim, mas cada um terá a sua estratégia: 50% em Cash ou equivalentes, 25% nestas tendências de longo prazo e 25% em day trading nos futuros do DAX :-)
A todos desejo um excelente ano, com muita paz, amor e prosperidade !
César Borja