Banco cortou 636 empregos
Lucros do BCP sobem 10% com corte de custos e crescimento crédito (act)
Os resultados líquidos do BCP ascenderam a 346,5 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano, mais 10% que no mesmo período do ano passado, em linha com as previsões dos analistas e impulsionados pelo corte de empregos e o crescimento do crédito.
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Nuno Carregueiro
nc@mediafin.pt
Os resultados líquidos do BCP ascenderam a 346,5 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano, mais 10% que no mesmo período do ano passado, em linha com as previsões dos analistas e impulsionados pelo corte de empregos e o crescimento do crédito.
Entre Janeiro e Setembro do ano passado o banco de Jardim Gonçalves tinha apurado um lucro de 315,3 milhões de euros e os analistas contactados pela Reuters aguardavam em média, para os primeiros três trimestres deste ano, resultados líquidos de 349,5 milhões de euros. As previsões oscilaram entre 324 e 369 milhões de euros.
Segundo o BCP, o aumento dos resultados líquidos proporcionou uma rendibilidade dos capitais próprios (ROE) de 16,6% e uma rendibilidade do activo médio (ROA) de 0,7%.
A margem financeira cifrou-se em 1,059 mil milhões de euros nos primeiros nove meses de 2004, menos 3,5% que os 1,098 mil milhões de euros obtidos em igual período de 2003.
Em comunicado o BCP diz que «a persistência de baixos níveis das taxas de juro de mercado determinou a evolução da taxa de margem financeira ao atingir 2,46% face aos 2,68% relevados no período homólogo de 2003». Analisando apenas o terceiro trimestre a margem financeira aumentou 2,4% para 354,1 milhões de euros.
As dotações para provisões para riscos de crédito desceram 10,7% para 336,3 milhões de euros de Janeiro a Setembro de 2004 e a cobertura do crédito com incumprimento por provisões para riscos de crédito ascendeu a 151,1%, acima dos 111,7% registados em 30 de Setembro de 2003, «reflectindo a continuação de uma política de prudência no controlo de risco de crédito».
As comissões líquidas aumentaram 8,5% para 463,6 milhões de euros no mesmo período de 2004, uma subida que atribui ao «desempenho favorável de proveitos relacionados com a gestão de activos e corretagem, com operações de crédito e com cartões».
Os resultados em operações financeiras aumentaram 44% para 156,3 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, «beneficiando da contabilização, no trimestre anterior, de mais valia apurada pelo Bank Millennium na alienação de uma carteira de crédito ao consumo gerada em pontos de venda».
Acções do BCP em seis meses
Custos baixam com corte de 636 postos de trabalho em Portugal
A determinar ainda a subida de lucros do BCP esteve a redução de custos do banco liderado por Jardim Gonçalves. Os custos de transformação - custos com pessoal, outros gastos administrativos e amortizações – desceram 2,9% para 1,21 mil milhões de euros, implicando a descida do rácio de eficiência da actividade em Portugal em dois pontos percentuais, passando de 55% em Setembro de 2003, para 53%.
Os custos com pessoal desceram 2% para 639,1 milhões de euros, «não obstante o impacto da contabilização de ajustamentos decorrentes da actualização da tabela salarial, processados no trimestre em análise».
É que, entre Setembro de 2003 e Setembro de 2004, o quadro de colaboradores em Portugal desceu de 13.970 para 13.334, a que corresponde o corte de 636 postos de trabalho, ou cerca de 4,5% do total.
Os outros gastos administrativos apresentaram um decréscimo de 2,3%, para 435,4 milhões de euros, «suportado pelos ganhos de eficiência nas operações internacionais e pela contenção e racionalização de custos dos serviços prestados por terceiros a nível doméstico, no quadro do programa de melhoria de eficiência operativa em curso, que se reflectiram em poupanças em rubricas como despesas com publicidade, conservação, comunicações, rendas e economato», segundo a mesma fonte.
Jardim Gonçalves:
«A actividade do Banco registou uma evolução bastante positiva nos primeiros nove meses do exercício, com um crescimento de 10% dos resultados líquidos, e melhoria da rendibilidade da generalidade das áreas de negócio, em especial na Banca de Retalho em Portugal, que apresentou uma rendibilidade de 24% sobre o capital afecto, e em Corporate e Banca de Investimento, cujo retorno se cifrou em 23%. Tratam-se de níveis bastante atractivos, sendo o seu contributo ampliado por se tratarem de negócios "core" a que o Banco afecta maiores volumes de capital.
Também as operações internacionais registaram uma melhoria dos resultados líquidos, reforçando as nossas expectativas favoráveis sobre a evolução desses mercados. Pensamos, pois, que os resultados agora apresentados são a confirmação da adequação das medidas tomadas, tendo em vista a melhoria sustentada da rendibilidade do Grupo e a gestão adequada do capital.
Neste âmbito, pareceu-nos oportuno proceder à distribuição de um dividendo antecipado, intercalar, correspondente a 50% do valor do último dividendo pago, como forma de assegurar uma adequada remuneração do capital investido pelos Accionistas, através da distribuição mais frequente dos resultados gerados. Assim, será distribuído, já no mês de Novembro, um dividendo de € 0,03 por acção. Esta distribuição não afecta os rácios de solvabilidade, uma vez que o Banco já deduz, para esse efeito, o valor periodificado do dividendo estimado. Esta é uma medida importante, que se adopta pela primeira vez, em conformidade com o regime legal e estatutário aplicável ao Banco, sendo inédita no universo das empresas nacionais cotadas, que, pensamos, constitui uma mensagem de confiança na rendibilidade e desenvolvimento da Instituição».
«Em simultâneo o Banco prossegue a política de desinvestimento de activos não estratégicos, sejam sociedades ou unidades de negócio que não se enquadram no nosso "core-business", e nesse sentido decorrem trabalhos de avaliação e negociação, de que daremos notícia em tempo oportuno. Prossegue também a tramitação junto das autoridades competentes dos acordos de venda da Seguros e Pensões, que, ao que sabemos, decorre de forma muito acompanhada, aguardando o Banco a respectiva conclusão»
Crédito à habitação cresce 22% e rácios melhoram
O crédito total aumentou 2,8% para 53,483 mil milhões de euros, sendo que «o crédito à habitação manteve-se como o principal impulsionador de aumento do crédito sobre clientes, ao registar um crescimento de 22,0%, face ao período homólogo, contribuindo para a melhoria do perfil de risco da carteira e permitindo preservar a liderança do mercado em termos de produção de crédito à habitação», diz o BCP.
O crédito com incumprimento situou-se em 1,4% do crédito total, abaixo dos 2,2% verificados em 30 de Setembro de 2003. O crédito vencido há mais de 90 dias registou uma diminuição de 801,0 milhões de euros no final de Setembro de 2003 para 509,6 milhões de euros em 30 de Setembro de 2004.
Os recursos totais de clientes evidenciaram um crescimento de 3,1% para 52,729 milhões de euros.
O rácio de solvabilidade consolidado de acordo com as normas do Banco de Portugal situou-se em 11,3% em 30 de Setembro de 2004, contra os 10,7% de 2003 tendo-se cifrado em 12,2% de acordo com as regras de cálculo do BIS, face aos 11,5% de 2003.
O Tier I, muito olhado pelos analistas para apurar a capacidade de solvabilidade do banco, permaneceu inalterado nos 7,2%. O Tier II aumentou de 4,3% para 5%.
As acções do BCP fecharam a descer 0,57% para os 1,75 euros.