Um país de «trade-offs»

Um país de «trade-offs»
sf@mediafin.pt
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Pedro Queiroz Pereira é dos melhores empresários do país. Chegou onde chegou sem favores nem ajudas. Até progrediu estes anos todos a remar contra a maré. Um «enfant terrible», quase um anti-sistema. A culpa não é sua, mas, vai lá saber-se porquê, a verdade é que o Estado decidiu dar-lhe de mão beijada o que sempre negara a Belmiro de Azevedo: o controlo da Portucel.
Já na fase final, depois de ter garantido a vitória na privatização, depois de ter assegurado o controlo da gestão da empresa, o Governo anterior facilitou, decidindo não vender na OPA e poupando-o a um esforço financeiro considerável.
Os mercados aplaudiram. Os analistas reviram em alta os price-targets. Consideraram um bom negócio para a Semapa. O que significa um mau negócio para o Estado.
Pois, vai lá saber-se porquê, o mesmo Estado que não quis vender agora a 1,55 / acção foi o que, meses antes, festejara o grande sucesso de uma privatização a 1,35.
Isto vem a propósito de dois factos importantes. A saída da Sonae da Portucel, que marca o abandono da aposta num sector e o fecho de um ciclo para o grupo de Belmiro de Azevedo.
O outro facto, hoje noticiado, é a desistência de Queiroz Pereira numa guerra jurídica que mantinha contra o Estado, devido ao «caso Cimpor». E, vai lá saber-se porquê, esta estranha decisão de PQP faz-nos recordar o processo da Portucel.
Factos são factos e a coincidência é tremenda. Os anglo-saxões chamam a isto «trade-off». É distinto. Transportado para a nossa língua fica com um aspecto mais vulgar: toma lá, dá cá.
A autoria da tradução não é minha, mas de António de Almeida que, há uns anos, numa coluna regular, mas a torto e a direito, se entretinha a escrever sobre os «trade-offs» desta pátria.
E este acerto de contas entre PQP e o Estado tem todo o ar de se tratar de «trade-off».
Senão vejamos. A Semapa recorreu a Bruxelas quando o Governo PS travou a OPA lançada com a Holderbank sobre a Cimpor. A Comissão Europeia deu-lhe razão, considerando o veto do Estado Português ilegal. Este apresenta recurso ao Tribunal Europeu de Justiça, que recusa.
E é precisamente no momento em que estava com renovadas forças litigantes, que a Semapa abdica da sua razão. Nos negócios não há altruísmo. Há interesses. Legítimos. E a Semapa, como grupo privado, sabe da sua vida e só tem de prestar contas aos seus accionistas.
Não venham, no entanto, é queixar-se depois de que o Estado não é pessoa de bem. Ou evocar questões de princípio. Porque as questões de princípio, se as são de facto, têm de chegar ao fim.
Porque também a Sonae, também por causa da Portucel, já tinha ganho no Supremo uma acção contra o Estado, em Julho de 2002, acabou posteriormente por abdicar da indemnização pedida.
Porque o Banco Finantia, que recorreu da privatização do BFE, que viu o Supremo dar-lhe razão e «anular» o próprio concurso, anda seis anos depois a discutir o valor mais apropriado para exigir ao Estado.
Conclusão: não há PQP a menos, continua a haver ainda é Estado a mais. E «trade-offs»...
CN
sf@mediafin.pt
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Pedro Queiroz Pereira é dos melhores empresários do país. Chegou onde chegou sem favores nem ajudas. Até progrediu estes anos todos a remar contra a maré. Um «enfant terrible», quase um anti-sistema. A culpa não é sua, mas, vai lá saber-se porquê, a verdade é que o Estado decidiu dar-lhe de mão beijada o que sempre negara a Belmiro de Azevedo: o controlo da Portucel.
Já na fase final, depois de ter garantido a vitória na privatização, depois de ter assegurado o controlo da gestão da empresa, o Governo anterior facilitou, decidindo não vender na OPA e poupando-o a um esforço financeiro considerável.
Os mercados aplaudiram. Os analistas reviram em alta os price-targets. Consideraram um bom negócio para a Semapa. O que significa um mau negócio para o Estado.
Pois, vai lá saber-se porquê, o mesmo Estado que não quis vender agora a 1,55 / acção foi o que, meses antes, festejara o grande sucesso de uma privatização a 1,35.
Isto vem a propósito de dois factos importantes. A saída da Sonae da Portucel, que marca o abandono da aposta num sector e o fecho de um ciclo para o grupo de Belmiro de Azevedo.
O outro facto, hoje noticiado, é a desistência de Queiroz Pereira numa guerra jurídica que mantinha contra o Estado, devido ao «caso Cimpor». E, vai lá saber-se porquê, esta estranha decisão de PQP faz-nos recordar o processo da Portucel.
Factos são factos e a coincidência é tremenda. Os anglo-saxões chamam a isto «trade-off». É distinto. Transportado para a nossa língua fica com um aspecto mais vulgar: toma lá, dá cá.
A autoria da tradução não é minha, mas de António de Almeida que, há uns anos, numa coluna regular, mas a torto e a direito, se entretinha a escrever sobre os «trade-offs» desta pátria.
E este acerto de contas entre PQP e o Estado tem todo o ar de se tratar de «trade-off».
Senão vejamos. A Semapa recorreu a Bruxelas quando o Governo PS travou a OPA lançada com a Holderbank sobre a Cimpor. A Comissão Europeia deu-lhe razão, considerando o veto do Estado Português ilegal. Este apresenta recurso ao Tribunal Europeu de Justiça, que recusa.
E é precisamente no momento em que estava com renovadas forças litigantes, que a Semapa abdica da sua razão. Nos negócios não há altruísmo. Há interesses. Legítimos. E a Semapa, como grupo privado, sabe da sua vida e só tem de prestar contas aos seus accionistas.
Não venham, no entanto, é queixar-se depois de que o Estado não é pessoa de bem. Ou evocar questões de princípio. Porque as questões de princípio, se as são de facto, têm de chegar ao fim.
Porque também a Sonae, também por causa da Portucel, já tinha ganho no Supremo uma acção contra o Estado, em Julho de 2002, acabou posteriormente por abdicar da indemnização pedida.
Porque o Banco Finantia, que recorreu da privatização do BFE, que viu o Supremo dar-lhe razão e «anular» o próprio concurso, anda seis anos depois a discutir o valor mais apropriado para exigir ao Estado.
Conclusão: não há PQP a menos, continua a haver ainda é Estado a mais. E «trade-offs»...
CN