"Cimpor à beira da OPA "
"O capital da Cimpor encobre situações pouco claras e todas as participações são relevantes
O MERCADO há muito que desistiu de esperar pelo lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a Cimpor, mas, mesmo depois de dois anos de investigação, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) continua a observar atentamente a estrutura accionista da empresa.
A polícia do mercado de capitais explica que, sempre que um accionista se encontra no limiar dos 33% que obriga ao lançamento de OPA, tem de ser acompanhado muito de perto. É o caso da Teixeira Duarte que detém directamente 32,3% da Cimpor.
No capital da maior cimenteira nacional existem ainda situações consideradas pouco claras de accionistas cujas ligações a outros accionistas não são fáceis de perceber, pelo que a CMVM observa com toda a atenção as tendências de voto nas assembleias-gerais. Nesta categoria aparece, por exemplo, o fundo de pensões do Banco Comercial Português, apontado como aliado da Teixeira Duarte. O caso mais complexo, contudo, parece ser o da empresa C+PA, que tem 5% da Cimpor. Anteriormente designada TDCIM (sociedade do universo Teixeira Duarte), a empresa - que se dedica à comercialização de cinzas da Central Térmica de Sines - é detida pela própria Cimpor (48%), por uma outra sociedade de accionistas individuais, designada Sacimop (36%), e pela Particim (16%), que remete para a Holcim, a qual chegou a apresentar-se para controlar a Cimpor, em conjunto com a Semapa.
Confrontada pelo EXPRESSO, a Cimpor responde que «a participação que cada um dos accionistas detém no capital social da empresa não influencia, através do Conselho de Administração, o seu normal funcionamento, porque os administradores foram propostos eeleitos em assembleia geral a título individual, não exercendo, assim, as suas funções em representação de qualquer accionista particular». A Cimpor afirma ainda que o conselho decide «tendo em conta, para além dos accionistas com participações qualificadas, um universo de outros cerca de 64 mil pequenos accionistas». Quanto às esferas de influência, a Cimpor considera que os accionistas são independentes, não podendo as suas participações ser somadas. Até porque «não se conhece qualquer acordo parassocial».
Este é justamente o ponto que separa a Cimpor da Portucel. Segundo a CMVM, no caso da empresa de pasta e papel, foi possível avançar com a obrigação de lançamento pela Semapa de uma OPA por existirem documentos que comprovam a ligação entre os accionistas. Na Cimpor tal não foi encontrado, «até hoje».
Na categoria de accionistas cujo alinhamento não é claro insere-se a empresa espanhola de metalurgia Bipadosa. Também o interesse de Joe Berardo numa sociedade sem grande liquidez como a Cimpor é questionado e as participações de bancos como o ING ou Pastor/Cartera Lusitana são interpretadas no mercado como sendo posições compradas em nome de clientes. Por conhecer está também a zona de influência actual da Lafarge, que, em conjunto com o Crédit Agricole, controlará mais de 17% da Cimpor. Nos bastidores do sector indaga-se qual o grau de concordância do grupo francês face à posição da Teixeira Duarte na Cimpor.
Indiferente às polémicas, a Cimpor mantém o crescimento. Este mês inaugura a ampliação da cimenteira egípcia, transformado-a no maior complexo fabril do grupo, e sob observação estão oportunidades de aquisições na Índia, Argentina e Líbia.
Christiana Martins"
(in
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