Guy Horta Peddy e Costa
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A PT apresentou ontem resultados acima da média das estimativas, mas isso já deixou de ser suficiente. O pessoal anda todo na onda dos dividendos extraordinários e dos «share buy back». Não se trata de uma moda inocente. É um coro que está montado, assente num apetite voraz e em argumentos muito frágeis.
E, o que é pior, condiciona os actos de gestão e as decisões dos conselhos de administração.
O senhor Alexandre Soares dos Santos já revelou publicamente a indignação por ter seguido o «consenso do mercado». Não havia analista ou casa de investimento, explicou, que, research após research, não «empurrasse» a Jerónimo Martins para o Brasil. Deu no que deu.
É um caso raro de confissão de arrependimento. Outro foi dado por Jardim Gonçalves. Neste caso não se pode falar em arrependimento. Mais de «aviso à navegação».
Uma vez que, sob a chuva de recriminações pelos pesados investimentos na Oni, recordou terem sido os mesmos analistas que o haviam «castigado» pelo facto de BCP ser, à época, dos poucos bancos sem estratégia para as telecoms.
Há duas conclusões importantes a tirar destas duas histórias. A primeira é que os analistas se enganam e mudam facilmente de opinião. A segunda é que os gestores também se enganam, só que gastam mais tempo e provavelmente muito dinheiro a corrigir o erro.
Isto está longe de ser um libelo contra os analistas de mercado. É verdade que a pressão que exercem sobre as decisões da empresa é um assunto sério. Mas é tão sério e tão sensível quanto a pressão que é igualmente exercida pela comunicação social.
A Portugal Telecom é, como dizem os brasileiros, a «bola da vez». Dos 31 analistas que seguem a maior empresa cotada nacional andam, praticamente em unanimidade, a exigir os tais dividendos extraordinários e o recorrente «share buy back».
Ou seja, dito de forma mais prosaica, querem massa. Acham que os níveis de endividamento da PT estão controlados. Dizem que o grande esforço de investimento está cumprido. Consideram que o essencial das amortizações e das provisões já foi feito. Logo: devolvam dinheiro aos accionistas.
É preciso dizer que a PT pode ser condenada por muita coisa. Não por falta de generosidade. O «pay-out ratio» de 2003 foi de 117%: ou seja, a empresa consumiu todos os lucros e ainda teve de ir às reservas para satisfazer os accionistas.
E, num programa iniciado ainda o ano passado, a empresa comprará, no total, mil milhões de euros em acções próprias, ou seja tem 10% do capital preparado para satisfazer o apetite de investidores e os prémios de desempenho das administrações.
A história recente provou, com consequências dramáticas, que o mercado é um assunto demasiado sério para ser deixado aos analistas. Tal como a liberdade de imprensa não é pretexto para os jornais publicarem disparates livremente.
Guy Peddy, analista do Deutsche Bank, aconselhou a PT a abandonar o Brasil e devolver o «cash» aos accionistas. O maior dos absurdos é inofensivo. O problema está nos pequenos. Continuam absurdos. Mas os «boards» levam-nos a sério.
fonte CN