ING avalia unidade não vida do BCP em 315 milhões de euros
"O ING avaliou a unidade não vida do Banco Comercial Português em 315 milhões de euros, numa altura em que a imprensa nacional aventa para a possibilidade da CGD poder avançar com a compra da unidade não vida da Seguros & Pensões. O Banco holandês prevê uma diminuição no nível de provisões do BCP, o que fará disparar os lucros do maior banco privado português.
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Pedro Carvalho
pc@mediafin.pt
O ING avaliou a unidade não vida do Banco Comercial Português em 315 milhões de euros, numa altura em que a imprensa nacional aventa para a possibilidade da CGD poder avançar com a compra da unidade não vida da Seguros & Pensões. O Banco holandês prevê uma diminuição no nível de provisões do BCP, o que fará disparar os lucros do maior banco privado português.
O banco holandês reviu em alta a avaliação para a S&P de 714 milhões de euros para os actuais 895 milhões de euros, calculando em 315 milhões o valor da unidade não vida e em 580 milhões de euros a unidade vida, citando a melhoria dos resultados.
No primeiro trimestre de 2004, o banco anunciou que a S&P atingiu lucros de 24,5 milhões de euros.
O banco de investimento alerta que o valor contabilístico da S&P no final de Março era de 614,7 milhões de euros e espera que a instituição liderada por Jardim Gonçalves consiga com a venda uma mais-valia que poderá rondar os 200 milhões de euros.
A edição do «Público» de sexta-feira avançava que o BCP deverá conservar o segmento vida da unidade S&P, incluindo na parte do «bancassurance», alienando ao banco estatal a componente não vida que poderá passar pela aquisição da Ocidental Seguros, da Seguros Directo, da Medis, da Império Comércio e Indústria (ICI) e da Autogere.
De fora ficariam o Fortis, a Eureko, a Mapfre, a CNP e a AXA, embora a equipa liderada por Ignacio Ulargui alerta para o facto da seguradora espanhola ter completado recentemente a operação de reforço de capital de 500 milhões de euros para financiar compras na Península Ibérica ou na América Latina.
Mais-valia aumenta rácio de solvabilidade em 0,4%
A alienação terá um impacto «positivo» nas acções do BCP, segundo o ING, «caso a unidade seja vendida a prémio face ao valor contabilístico». Uma mais-valia de 200 milhões de euros provocaria uma melhoria de 0,4% no rácio de solvabilidade «core» (que se encontra em 4,95%).
Os analistas do BPI, também a comentar o cenário da venda da unidade não vida à CGD, avançam que o impacto, caso se concretize a transacção, será «positivo» para o BCP. «Apesar de ainda não conhecermos os detalhes da operação, estamos convencidos que o BCP deverá realmente vender o segmento não vida à CGD».
Mercado avalia posição da CGD no BCP em 389 milhões de euros
Uma dos cenários traçados pela imprensa é a possibilidade do banco estatal pagar esta transacção com os 6,29% detidos no capital do BCP que não tem uma posição de relevo em acções próprias.
As 205 milhões de acções detidas pela CGD, a preços de mercado, estão avaliados em 389 milhões de euros, um valor acima dos 315 milhões de euros que o ING avalia a unidade não vida da S&P.
A casa holandesa sugere um preço alvo de 1,86 euros para as acções do BCP com uma recomendação de «manter».
Diluição do capital impede BCP de acompanhar recuperação em Portugal
No referido estudo, o ING diz não acreditar que o BCP «vá beneficiar da recuperação em Portugal devido à fraca posição em termos de estrutura de capital e ao efeito de diluição que será provocado pelas obrigações convertíveis».
O BCP no ano passado fez uma emissão de 700 milhões de euros de valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC) que segundo o ING deverá levar a uma emissão até à maturidade (final de 2005) de mais 330 milhões de acções, o que terá um impacto de diluição no valor dos lucros por acção (EPS). O banco desceu as estimativas de EPS de 0,14 euros para 0,13 euros em 2004 e de 0,17 euros para 0,15 euros em 2005.
O ING estima que o valor da emissão de 700 milhões de euros a contabilizar no capital seja de 528,2 milhões de euros, calculando em 171,8 milhões de euros o valor dos juros a serem suportados pelo banco.
Redução no esforço com provisões fará disparar lucros
De acordo com o ING, e dado o grau de alavancagem do BCP que classifica de «substancial», qualquer redução no esforço das provisões terá um impacto «enorme» na subida dos lucros do banco.
Nos primeiros três meses de 2004, e segundo o relatório de contas, as dotações para provisões para risco de crédito elevaram-se a 103,6 milhões de euros, montante que compara com 78,5 milhões de euros no período homólogo do ano anterior.
No trimestre, o BCP provisionou a uma taxa de 88 pontos base (valor das provisões sobre o montante dos empréstimo) e para 2005 o ING estima que este esforço poderá ser reduzido para 65 pb, o que conduzia a lucros anuais 562 de milhões de euros.
Caso o ritmo de esforço das provisões caísse para 35 pb, teria um impacto positivo de 28% nos lucros líquidos para 723 milhões de euros.
As acções do BCP encerraram hoje em queda de 0,52% para 1,91 euros."