A economia vudu
sf@mediafin.pt
--------------------------------------------------------------------------------
A retoma económica já foi anunciada para 2003, para 2004, para 2005. E agora já ninguém afirma com segurança aquilo que nos pode realmente acontecer em 2006. No estertor da última recessão, há dez anos, o prudente Catroga avisou que a retoma iria ser lenta e difícil. O tempo deu-lhe razão.
A retoma económica já foi anunciada para 2003, para 2004, para 2005. E agora já ninguém afirma com segurança aquilo que nos pode realmente acontecer em 2006.
No estertor da última recessão, há dez anos, o prudente Catroga avisou que a retoma iria ser lenta e difícil. O tempo deu-lhe razão.
O crescimento de 1994 foi quase inexpressivo. No ano seguinte já se viu alguma dinâmica de jeito, nas exportações primeiro, investimento depois e só no final consumo interno.
Entretanto o PSD perdeu as eleições, chegou a fase alta do ciclo, a descida histórica dos juros, a exuberância dos mercados internacionais e os socialistas acabaram por fazer o caminho para o euro na crista da onda.
Sempre foi assim, para falar à vontade de economia, só sobre o passado. As previsões nunca foram mais do que exercícios, mais ou menos científicos, de aproximação ao futuro.
Mas hoje tornaram-se autênticos rituais de vudu. E se a saída da recessão é um dado adquirido desde o quarto trimestre do ano passado, sobre a recuperação, sobre o seu ritmo e o seu vigor, apenas se arrisca um prognóstico: há-de chegar.
Acontece que há instituições, nacionais e internacionais, que estão obrigadas a cumprir rituais regulares. Publicar previsões económicas é um deles. É o que o FMI faz nesta fase do ano.
E foi o que voltou a fazer ontem, ao actualizar o «outlook» para o mundo, para a Europa e para Portugal. Dando uma notícia boa, outra decepcionante e uma outra surpreendente. Por esta ordem.
O mundo parece estar a libertar-se e o crescimento global é revisto em alta. Esta é a parte boa do relatório.
A má notícia é que toda a gente, menos a Europa, vai contribuir para um futuro mais risonho.
E a surpresa, neste caso, rima com portuguesa. O Fundo Monetário foge à sua fama de conservador e coloca Portugal a convergir para a média europeia já no próximo ano.
Trata-se de um cenário mais optimista do que o de Bruxelas e, o que é formidável, ultrapassa até as melhores expectativas do Governo português.
É difícil perceber a base de um modelo que admite Portugal a crescer mais, com a Europa estagnada. Mais incompreensível, ainda, quando se confirma que a estagnação europeia tem origem numa Alemanha (que está doente) e numa Itália (que não está mais saudável).
Ainda assim, o FMI acredita que 2005 é o ano oficial da retoma em Portugal. O que pressupõe duas coisas: uma alteração de políticas internas e que o FMI acerte a primeira das quatro recuperações que toda a gente já viu na nossa economia.
Se a retoma de Catroga foi lenta e difícil, o que dizer desta retoma em curso? Nem é lenta, nem é difícil. Até ver não é sequer uma retoma. É uma recuperação estranha.
Um percurso instável e sinuoso. Com uma tendência indecifrável.
E, o que é ainda mais irritante, assim parece que irá continuar sabe-se lá por mais quanto tempo. Há quem continue a dizer que a culpa é de Durão Barroso, devido à «tanga».
Não tem sido verdade. Mas se começar o eleitoralismo passa a ser
negocios-pt