Gato escaldado...
pferreira@mediafin.pt
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Por pouco que a Media Capital não era fintada pelos ataques terroristas de Madrid e pela alteração do “mood” dos investidores que se deu nessa altura. Mas acabou por correr tudo bem. E aí temos a primeira debutante em bolsa (tirando o caso especial da Gescartão), após um longuíssimo jejum de quatro anos. É verdade que esta colocação da Media Capital podia ter corrido melhor.
Por pouco que a Media Capital não era fintada pelos ataques terroristas de Madrid e pela alteração do “mood” dos investidores que se deu nessa altura. Mas acabou por correr tudo bem.
E aí temos a primeira debutante em bolsa (tirando o caso especial da Gescartão), após um longuíssimo jejum de quatro anos. É verdade que esta colocação da Media Capital podia ter corrido melhor. A tranche reservada aos pequenos investidores, já de si reduzida, acabou por ser colocada apenas em 40%.
E o preço da operação encostou ao limite inferior do intervalo proposto pelo emitente. Mas na hora decisiva lá estavam os investidores institucionais, mais batidos e com sangue mais frio, para “limpar” toda a oferta de acções.
O filme desta operação é, afinal, um digno retrato do sentimento que o mercado experimenta por estes dias. Houve o frenesi dos dois primeiros meses do ano. Os índices treparam 17% e começaram a aparecer sintomas típicos da entrada pouco selectiva no mercado: o importante é estar lá dentro.
Com o 11 deMarço os investidores foram chamados à terra e iniciou-se um saudável movimento de correcção que pode ainda não ter acabado. E agora volta a fazer-se contas, a olhar para os dados fundamentais das empresas, a não entrar a qualquer preço.
A operação do grupo de Paes do Amaral foi apanhada no contrapé destes movimentos. Foi aprovada e anunciada no fervilhar da subida e acabou por realizar-se já no fresco do refluxo. E a isto os investidores mais pequenos disseram um “sim, mas...”.
Sim, querem estar presentes, porque os lugares mais confortáveis tomam-se quando o comboio arranca. Mas não com a exposição máxima. Nem a qualquer preço.
Este comportamento avisado pode até nem ser o que melhor serve os interesses próprios de cada emitente, que quer para si a maior procura possível para os títulos que coloca no mercado.
Mas é, seguramente, o que melhor defende o interesse geral do mercado, que se quer mais sustentado e de longo prazo do que especulativo e para entrar de manhã e sair à tarde.
Não é preciso sair do sector dos media para ilustrar as diferenças. Há quase quatro anos, já no estertor da “bolha dotcom” a Impresa dispersou capital a 10,25 euros por acção e a procura dos particulares foi 50 vezes a oferta. Cinquenta vezes!
Hoje a empresa de Balsemão vale um terço daquele preço, mas chegou a cotar a 1,5 euros. Experiências destas servem para pouco mais do que para afastar investidores do mercado. Agora os tempos são outros. E não são necessariamente piores.
É quase impossível que a Media Capital provoque um“escaldão” daquela amplitude aos novos accionistas. Mesmo que a avaliação tenha sido “esticada”, os danos colaterais serão mais limitados. E isso é positivo para a consolidação do mercado, que não se faz com investidores mal dispostos e divorciados das acções.
Ao recém chegado à bolsa cabe agora provar que merece a confiança dos que investiram. Chegar aos lucros em 2005, como prometido, é um passo decisivo para isso.
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