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MensagemEnviado: 27/3/2004 12:31
por Ming
Vamos ver... :mrgreen:

Portucel

MensagemEnviado: 27/3/2004 12:20
por jarc
Bem...o desfecho era mais ou menos esperado. O comportamento da Cimpor reflecte a pouca convicção do mercado noutra solução. A possível "guerrinha" pela Cimpor tranforma-se, a ser este a decisão final, numa grande cachimbada pela paz. Como sabemos, nesta coisa dos mercados, "peace and love" só resulta mais actrctiva, comparando com "amor e uma cabana".

Expresso: "Tudo sobre a Portucel"

MensagemEnviado: 27/3/2004 3:23
por Ulisses Pereira
"Tudo sobre a Portucel "

"A poucos dias da decisão, os dados estão jogados. Já não há alterações. A Semapa é a mais que provável vencedora

A PAZ na Portucel, com a saída da Sonae e a entrada de um novo accionista nacional capaz de redireccionar interesses estratégicos, é o activo mais importante que a Semapa entrega no concurso de privatização da empresa.

Delicada é a vontade de dominar a Portucel sem um parceiro estratégico. A Semapa reconhece a importância de encontrar um sócio do sector, mas não abre mão de dois pontos: não quer ser pressionada a fazer escolhas à força nem parece disponível para abrir mão de 51% da companhia.

O Governo terá de fazer um trabalho pedagógico para explicar a Pedro Queiroz Pereira a dificuldade política de substituir um accionista maioritário nacional (Sonae) por outro em idêntica situação (Semapa). O posicionamento da Semapa na dianteira da corrida já terá levado a Domtar a tentar uma aproximação.

Os relatórios da Portucel SGPS e da SA estão prontos e as opiniões convergem na interpretação das propostas. Quem coloca condições contraditórias com o caderno de encargos fica posto de parte, mesmo que em termos puramente industriais pudesse trazer vantagens à Portucel. É o caso da Mondi, cuja proposta mereceu destaque pelas oportunidades que abriria. Mas, à semelhança da Domtar, da Lecta e da própria Cofina, a proposta tem condicionantes.

A Mondi não esconde que a Portucel lhe interessa se integrada no grupo sul-africano, o que não garante a independência da empresa portuguesa. A Domtar, embora com um discurso bastante mais conciliador e mostrando abertura para firmar parcerias com sócios nacionais, terá plasmado a mesma intenção de controlo. O problema da Lecta é outro, pois condiciona o concurso ao querer que, dentro de cinco anos, a Portucel compre os seus próprios activos.

A corrida poderia ficar dividida entre os dois candidatos portugueses, mas Paulo Fernandes terá sido pouco hábil, condicionando a proposta à entrega dos activos da Caima. De tal forma a questão é relevante, que Paulo Fernandes sentiu necessidade de vir a público explicar que pagaria a Portucel em dinheiro e que os activos apenas seriam comprados pela «holding» do Estado numa segunda fase. A questão é tão delicada que, esta semana, o líder do grupo Cofina enviou uma carta à Portucel SGPS, propondo-se recomprar a fábrica da Caima se, ao fim de um ano, a «performance» da unidade não agradasse. A carta foi reencaminhada para o júri, mas não tem influência na decisão final.

O empenho de Paulo Fernandes neste dossiê é tal que já se questiona como o empresário reagirá caso se confirme a derrota, sobretudo depois de ter sido o vencedor no modelo anterior. Um dos temas mais delicados é o destino que o empresário dará à floresta da Caima. Rentável e estratégica, com capacidade de influenciar o preço da madeira no mercado interno, seria negativo para a Portucel caso o activo caísse nas mãos de um concorrente como a espanhola Ence.

Uma escolha política?


A outra dúvida vai para a forma como o Governo conseguirá explicar a escolha da Semapa aos dois grupos portugueses interessados em controlar a Portucel (Sonae e Cofina). A falta de «know-how» de Pedro Queiroz Pereira no sector e a incapacidade que terá sido demonstrada pelo empresário para resolver o desafio do cimento - onde a Secil não conseguiu afirmar-se no plano internacional, assumindo apenas a manutenção do duopólio com a Cimpor - são já invocados como arma de arremesso. Questiona-se ainda o que mais PêQuêPê terá de vender para financiar os quase €800 milhões que terá de pagar, considerando-se apenas as participações do Estado e da Sonae. A empresa de energias renováveis Enersis, avaliada no mínimo em €162 milhões, e os 9% da Cimpor, avaliados em €250 milhões de euros, são as melhores hipóteses. Mas o apoio da CGD no financiamento da operação é considerado um sinal do apoio discreto do Estado e, seja qual for a solução, o título já está colado: escolha política.

Belmiro de Azevedo vai sair deixando em aberto questões fundamentais. Algumas são claras: por que nunca apresentou uma proposta para conquistar a Portucel através dos concursos de privatização? Qual a importância estratégica da Portucel para o futuro da Sonae? Porque é que a parceria com os brasileiros da Suzano foi rompida? Porque é que a Sonae tem direito a receber mais 10 cêntimos por acção da Portucel do que o Estado? Usou ou não de concertação para bloquear a privatização?

As duas próximas semanas serão vividas com muita pressão nos bastidores sobre o Governo, de forma a tentar influenciar o Conselho de Ministros, a quem cabe a decisão final. Uma palavra de bom senso, convencendo a Semapa a não assumir a participação que o BES e a CGD comprarão à Sonae durante o prazo de cinco anos, poderá caber mesmo ao primeiro-ministro.

Christiana Martins"

(in www.expresso.pt)