Da Competição e da Produtividade à Estratégia do confronto e
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Da Competição e da Produtividade à Estratégia do confronto e
Da Competição e da Produtividade à Estratégia do confronto e a qualidade
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Manuel Pedroso Marques
Competitividade sem produtividade é igual a mão-de-obra barata. Excluídas as variáveis cambiais deste binómio, só uma política de salários baixos consegue tornar competitivo um país de estruturas produtivas obsoletas, sem processos de inovação implantados.
Competitividade sem produtividade é igual a mão-de-obra barata. Excluídas as variáveis cambiais deste binómio, só uma política de salários baixos consegue tornar competitivo um país de estruturas produtivas obsoletas, sem processos de inovação implantados.
A reunião de quinhentos empresários e gestores no Convento do Beato, em Lisboa, que se denominou “Compromisso Portugal”, sobre assuntos relacionados com o desenvolvimento económico do país, originou afirmações e comentários que focam as relações entre os conceitos de competição e de produtividade, por um lado e das incumbências da chamada classe política, por outro.
Em primeiro lugar, pretende-se que o desenvolvimento do país, nesta época de globalização e liberalização, signifique capacidade de competição de Portugal ou das empresas portuguesas com o estrangeiro. Associado a este conceito surge, nem sempre apropriadamente, deve dizer-se, a ideia de produtividade.
No tempo do “Estado Novo” achava-se que a concorrência desenfreada constituía um mal a esconjurar. A funesta Lei do Condicionamento Industrial era um dos mecanismos contra a conjura e em prol do favoritismo político, económico e pessoal, tão do agrado da ditadura dominante.
Todavia, ao confundir-se, hoje, competitividade com produtividade pode cometer-se um erro tão grave como aquele em que Salazar persistiu desde o início da década de 30.
Isto porque a produtividade define um objectivo a adquirir em todas as circunstâncias, que traduz uma relação de custos / benefícios e que cumpre à gestão optimizar na constância da sua acção.
Diferentemente, a competição, se constitui importante factor estratégico para qualquer sistema a gerir, até porque o definimos como o elemento polemológico inerente a qualquer estratégia empresarial face ao seu mercado, já, quanto à associação da ideia de competitividade ao desenvolvimento social e político a uma escala global, regional e nacional temos de ser mais cautelosos e introduzir limites, alguns ‘limites à competição’, para adoptar a designação que intitula um trabalho que reúne uma vintena de cientistas sociais de vários países, patrocinado pela Gulbenkian, há uns dez anos.
Pode elencar-se, facilmente, um conjunto de realidades do âmbito científico, da natureza, da economia e da política em relação às quais a definição da estratégia de um país na base da competitividade pode constituir uma agressão imperial contra outros países, uma insensibilidade social e cultural contra a comunidade humana, uma falta de visão perigosa para o futuro das relações internacionais.
Não serão as ideias de competitividade, liberalização e desregulamentação que vão governar oMundo.
Compreende-se que este modelo seja defendido pelos decisores mais poderosos, mas ele não contribui para a resolução dos grandes problemas globais que hoje nos afectam, dependentes de uma estratégia de colaboração e solidariedade.
Não há outra forma de enfrentar situações epidémicas de saúde, qualidade alimentar, segurança ambiental e civil, que extravasam fronteiras e atingem dimensões planetárias se a estratégia do confronto não for substituída pela cooperação, no respeito pelo Direito Internacional.
A recusa da Administração de Georges W. Bush na subscrição dos Acordos de Kioto, na aceitação do Tribunal Criminal Internacional, para não falar do ultraje ao Direito Internacional que representou o seu comportamento na questão do Iraque são exemplos de uma componente externa da estratégia daquele poderoso país que o está a deixar na desconfiança de alguns dos seus tradicionais aliados que não confundem o “republicanismo” neo-conservador e passageiro com as ideias da democracia norte-americana.
Ideias constituintes de alguns dos valores mais elevados das democracias ocidentais, modernas. Naturalmente que a inovação e o desenvolvimento, a qualidade da regulação política e social constituem causa e efeito de produtividade e bem-estar.
E que tais atributos de um país o tornam mais competitivo é óbvio e desejável, num mundo cada vez mais globalizado em termos de sofisticação da produção e de exigência dos mercados.
O que se impõe, todavia, neste campo de trabalho estratégico é que haja uma regulação que não deixe inverter os factores de progresso, negativizando as suas causas, obviamente positivas e devidas a quem estudou e trabalhou para as criar.
Anulando as vantagens do conhecimento, viciando as regras do jogo, como tem feito G. W. Bush (outra vez!) no desrespeito das normas da O.M.C..
Porque o mundo não pode continuar uma “selva” tem de haver regras. E os interesses e instituições de mais poder, a diferentes escalas, têm de se aperceber que os impérios do passado foram, todos, historicamente efémeros e queumadas características da modernidade é que os impérios que se andam a pretender constituir são inviáveis.
Será, talvez, oportuno aceitar que estamos no tempo de enterrar Clausevitz e não mais dizer que “a guerra é a continuação da política por outros meios” e de, antes, passar a defender que a política falha sempre que não conseguir evitar a guerra.
E como falha frequentemente, será altura de os militares, os gestores, os empresários e os sindicatos, enfim, os cidadãos comuns acharem que “a política é uma coisa muito séria para ser deixada só à classe política?”
E por isto louvo a iniciativa dos gestores e empresários que se reuniram, com o país nas suas preocupações. Uma preocupação por, pode gerar uma estratégia para, Portugal, entenda-se!...
E por isto não entendo algumas atitudes a marcar territórios de acção, como que a delimitar competências? Aliás, o governar, ou administrar a coisa pública e o gerir, ou administrar coisas próprias ou alheias tem de comum a necessidade de alguma (?) capacidade de gestão.
O que nos começa a parecer evidente é que gestores e políticos duvidam uns dos outros quanto a esta capacidade. As acusações mútuas são conhecidas e gravitam à volta da imputação de responsabilidades ao outro pelas dificuldades próprias.
Não há pior situação porque, em muitos casos, os políticos e os gestores têm ambos razão. Para sair do impasse, talvez não fosse mau que os políticos começassem por aceitar que os gestores e os empresários também são responsáveis pelos ritmos e arritmias do coração do trabalho organizado, em sociedade, que é a empresa e de cuja actividade depende o desenvolvimento do país.
E seria, com certeza, muito bom que os empresários não esgotassem a acção na palavra, já que nada impede que algumas ideias defendidas na reunião sejam postas em prática.
Por outras palavras, a gestão constitui uma função social de indiscutível importância que tem de ser exercida, em qualidade, por gestores e políticos.
negocios.pt
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Manuel Pedroso Marques
Competitividade sem produtividade é igual a mão-de-obra barata. Excluídas as variáveis cambiais deste binómio, só uma política de salários baixos consegue tornar competitivo um país de estruturas produtivas obsoletas, sem processos de inovação implantados.
Competitividade sem produtividade é igual a mão-de-obra barata. Excluídas as variáveis cambiais deste binómio, só uma política de salários baixos consegue tornar competitivo um país de estruturas produtivas obsoletas, sem processos de inovação implantados.
A reunião de quinhentos empresários e gestores no Convento do Beato, em Lisboa, que se denominou “Compromisso Portugal”, sobre assuntos relacionados com o desenvolvimento económico do país, originou afirmações e comentários que focam as relações entre os conceitos de competição e de produtividade, por um lado e das incumbências da chamada classe política, por outro.
Em primeiro lugar, pretende-se que o desenvolvimento do país, nesta época de globalização e liberalização, signifique capacidade de competição de Portugal ou das empresas portuguesas com o estrangeiro. Associado a este conceito surge, nem sempre apropriadamente, deve dizer-se, a ideia de produtividade.
No tempo do “Estado Novo” achava-se que a concorrência desenfreada constituía um mal a esconjurar. A funesta Lei do Condicionamento Industrial era um dos mecanismos contra a conjura e em prol do favoritismo político, económico e pessoal, tão do agrado da ditadura dominante.
Todavia, ao confundir-se, hoje, competitividade com produtividade pode cometer-se um erro tão grave como aquele em que Salazar persistiu desde o início da década de 30.
Isto porque a produtividade define um objectivo a adquirir em todas as circunstâncias, que traduz uma relação de custos / benefícios e que cumpre à gestão optimizar na constância da sua acção.
Diferentemente, a competição, se constitui importante factor estratégico para qualquer sistema a gerir, até porque o definimos como o elemento polemológico inerente a qualquer estratégia empresarial face ao seu mercado, já, quanto à associação da ideia de competitividade ao desenvolvimento social e político a uma escala global, regional e nacional temos de ser mais cautelosos e introduzir limites, alguns ‘limites à competição’, para adoptar a designação que intitula um trabalho que reúne uma vintena de cientistas sociais de vários países, patrocinado pela Gulbenkian, há uns dez anos.
Pode elencar-se, facilmente, um conjunto de realidades do âmbito científico, da natureza, da economia e da política em relação às quais a definição da estratégia de um país na base da competitividade pode constituir uma agressão imperial contra outros países, uma insensibilidade social e cultural contra a comunidade humana, uma falta de visão perigosa para o futuro das relações internacionais.
Não serão as ideias de competitividade, liberalização e desregulamentação que vão governar oMundo.
Compreende-se que este modelo seja defendido pelos decisores mais poderosos, mas ele não contribui para a resolução dos grandes problemas globais que hoje nos afectam, dependentes de uma estratégia de colaboração e solidariedade.
Não há outra forma de enfrentar situações epidémicas de saúde, qualidade alimentar, segurança ambiental e civil, que extravasam fronteiras e atingem dimensões planetárias se a estratégia do confronto não for substituída pela cooperação, no respeito pelo Direito Internacional.
A recusa da Administração de Georges W. Bush na subscrição dos Acordos de Kioto, na aceitação do Tribunal Criminal Internacional, para não falar do ultraje ao Direito Internacional que representou o seu comportamento na questão do Iraque são exemplos de uma componente externa da estratégia daquele poderoso país que o está a deixar na desconfiança de alguns dos seus tradicionais aliados que não confundem o “republicanismo” neo-conservador e passageiro com as ideias da democracia norte-americana.
Ideias constituintes de alguns dos valores mais elevados das democracias ocidentais, modernas. Naturalmente que a inovação e o desenvolvimento, a qualidade da regulação política e social constituem causa e efeito de produtividade e bem-estar.
E que tais atributos de um país o tornam mais competitivo é óbvio e desejável, num mundo cada vez mais globalizado em termos de sofisticação da produção e de exigência dos mercados.
O que se impõe, todavia, neste campo de trabalho estratégico é que haja uma regulação que não deixe inverter os factores de progresso, negativizando as suas causas, obviamente positivas e devidas a quem estudou e trabalhou para as criar.
Anulando as vantagens do conhecimento, viciando as regras do jogo, como tem feito G. W. Bush (outra vez!) no desrespeito das normas da O.M.C..
Porque o mundo não pode continuar uma “selva” tem de haver regras. E os interesses e instituições de mais poder, a diferentes escalas, têm de se aperceber que os impérios do passado foram, todos, historicamente efémeros e queumadas características da modernidade é que os impérios que se andam a pretender constituir são inviáveis.
Será, talvez, oportuno aceitar que estamos no tempo de enterrar Clausevitz e não mais dizer que “a guerra é a continuação da política por outros meios” e de, antes, passar a defender que a política falha sempre que não conseguir evitar a guerra.
E como falha frequentemente, será altura de os militares, os gestores, os empresários e os sindicatos, enfim, os cidadãos comuns acharem que “a política é uma coisa muito séria para ser deixada só à classe política?”
E por isto louvo a iniciativa dos gestores e empresários que se reuniram, com o país nas suas preocupações. Uma preocupação por, pode gerar uma estratégia para, Portugal, entenda-se!...
E por isto não entendo algumas atitudes a marcar territórios de acção, como que a delimitar competências? Aliás, o governar, ou administrar a coisa pública e o gerir, ou administrar coisas próprias ou alheias tem de comum a necessidade de alguma (?) capacidade de gestão.
O que nos começa a parecer evidente é que gestores e políticos duvidam uns dos outros quanto a esta capacidade. As acusações mútuas são conhecidas e gravitam à volta da imputação de responsabilidades ao outro pelas dificuldades próprias.
Não há pior situação porque, em muitos casos, os políticos e os gestores têm ambos razão. Para sair do impasse, talvez não fosse mau que os políticos começassem por aceitar que os gestores e os empresários também são responsáveis pelos ritmos e arritmias do coração do trabalho organizado, em sociedade, que é a empresa e de cuja actividade depende o desenvolvimento do país.
E seria, com certeza, muito bom que os empresários não esgotassem a acção na palavra, já que nada impede que algumas ideias defendidas na reunião sejam postas em prática.
Por outras palavras, a gestão constitui uma função social de indiscutível importância que tem de ser exercida, em qualidade, por gestores e políticos.
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