Importam-se de explicar?
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O homem tem mau feitio. Diz alto e grosso o que outros só ousam desabafar em confidência. Cultiva ódios de estimação – que o digam o professor Marcelo, que ainda não conseguiu fazer as pazes depois da polémica sobre os grandes grupos económicos, ou Jorge Armindo.
Belmiro de Azevedo é assim mesmo. Politicamente incorrecto e inconveniente. Mais hábil a fazer inimigos do que a conquistar aliados. A irritação que às vezes provoca não pode fazer esquecer que é também o grande empresário da geração pós-revolução de Abril.
Está à frente de um grupo que emprega 58 mil pessoas, presentes em três continentes. A Sonae Indústria, que tantas dores de cabeça lhe dá, é provavelmente a única empresa global de capital português. É o maior grupo do mundo no sector das placas.
O empresário tem um currículo que não deixa dúvidas. O grupo que construiu facturou no ano passado mais de 1.600 milhões de euros e o endividamento líquido de 2.500 milhões já parece menos assustador.
Mas como a operação com o imobiliário demonstra, o grupo tem activos não espelhados no valor do balanço que a qualquer momento podem ser utilizados – basta dizer que os imóveis dos hipermercados são propriedade da empresa e estão registados ao valor de aquisição.
Posto isto, há uma reclamação de Belmiro de Azevedo em relação à Portucel que tem toda a razão de ser. O grupo investiu na Portucel no mercado, sem pedir autorização, uma irreverência que caiu mal ao então ministro Sousa Franco.
Na segunda fase da privatização, o Governo não lhe dá, nem aos restantes accionistas, qualquer preferência. O Governo ainda não conseguiu explicar por que motivo a Sonae não seria um bom accionista para controlar a Portucel.
Não tem robustez financeira? Não tem qualidade de gestão? Ou temos que concluir que a razão é que o poder se dá mal com o carácter indomável do líder da Sonae?
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