Uma lição de vida
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O homem passou por momentos terríveis e o presidente do grupo empresarial não viveu dias melhores. Alexandre Soares dos Santos viu quase tudo escapar-lhe por debaixo dos pés. Incluindo a própria vida, que uma doença por pouco lhe tirou.
O império construído pela família, que passou por gerações e foi nas suas mãos que ganhou a dimensão de um Grupo Económico, estava a desfazer-se em pó. A internacionalização, o Brasil, a Polónia, estava a caminho de um desastre.
A diversificação da actividade era um problema que ninguém se revelava capaz de controlar. E, cumprindo a Lei de Murphy, tudo o que podia correr mal, corria mesmo. O sistema de gestão trouxe o caos administrativo. Quadros importantes foram abandonando, sem glória, o “top management” da casa.
E até o sólido parceiro estratégico, os holandeses da Ahold, via-se subitamente envolvido num escândalo contabilístico “à americana”. Alexandre Soares dos Santos fintou a morte - e essa era a primeira das duas grandes batalhas que tinha pela frente.
Sanear um passivo insuportável, reestruturar um grupo em declínio, abandonar mercados até então estratégicos, enfim, recuperar a confiança de credores e de investidores, era a outra das batalhas.
Era como começar de novo. Era pior. Porque era preciso reconhecer erros cometidos - e essa capacidade é rara entre os homens. Porque eram necessárias todas as forças do mundo - e os 70 anos são 70 anos!
E, finalmente, porque eram necessários sorte e amigos - e nem sempre, uma e outros, têm paciência para ficar. Não foi o caso.
E, entre outros, Soares dos Santos ficará o resto dos seus dias grato a Jorge Jardim Gonçalves. Depois, o homem lutou e lutou, com o discernimento e a coragem de sempre, com a energia que foi buscar não se sabe onde.
O mais fácil era, obviamente, desistir. Passava “a bola” à descendência - que, manifestamente, não tinha unhas para uma guitarra tão complexa. Ou, para não destoar, fazia uns telefonemas para Espanha e vendia a Jerónimo Martins
com a maior das tranquilidades.
O senhor Soares dos Santos não tinha opções, porque desistir não é uma opção. Vendeu retalho no Brasil e pediu desculpas públicas aos accionistas pelo equívoco e pelo dinheiro ali enfiado.
Acabou com as aventuras polacas, concentrando-se no “discount”. Vendeu activos e regressou ao “core”. Numa frase: deu a volta à situação. E só agora, que os resultados melhoram, que a empresa volta a respirar, que os dias tranquilos estão de volta, Soares dos Santos anuncia que vai para a reforma.
Para trás deixa-nos raros ensinamentos, que são apenas importantes para a vida das empresas. São-no para a vida, o que é tudo. A lição da humildade, porque não procurou alibis estéreis, não inventou inimigos, não arranjou desculpas. Limitou-se a assumir o mais trivial dos pecados humanos, o erro.
A lição de ética e da persistência. Alexandre Soares dos Santos não é doutor nem engenheiro. É senhor. Há poucos assim
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