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Caldeirão da Bolsa

Show business

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Comentador » 3/3/2004 13:25

Caro Flying Turtle,

Muito obrigado pelas suas palavras.

Agora, sobre o EUR/USD nestes próximos dias,estamos naquela situação que exige muita firmeza: não sabemos até onde vai descer o EUR/USD nesta actual correcção; para além disso, normalmente há pequenas (?) correcções dentro das correcções; mas o maior objectivo tem que ser o de não perder o movimento principal de curto prazo, que agora é o de descida.

Mas 5ª. e 6ª. feira vão ser um osso duro de roer, em termos de disciplina de trading...

Um abraço

Comentador
 
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por Flying Turtle » 3/3/2004 9:46

Muito bem caro Comentador, gosto muito dos teus textos, em particular pela sua inteligibilidade (clareza de argumentação, estruturação da exposição, lógica e coerência do conjunto, Português correcto...), parabéns!

Este teu post conjuga-se com a nota que fiz, no thread do dj, relativamente à situação de sobrecompra do cross EURUSD num quadro temporal mensal. Também acredito que o topo para já está atingido, sendo necessário continuar o alívio temporário para preparar novo ataque.

De todas as formas, estou curioso quanto aos sinais dos próximos dias...

Um abraço
FT
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Show business

por Comentador » 3/3/2004 1:07

Depois do padrão-ouro, da convertibilidade total, dos câmbios quase-fixos e das margens de flutuação, o valor das principais moedas passou a variar com base em taxas de câmbio flexíveis, constituindo um mercado de concorrência quase perfeita onde funciona a lei da procura e da oferta.

É certo que os grandes especuladores estão sempre presentes no mercado, sendo muitas vezes responsáveis por grandes movimentos de preços, mas, em minha opinião, não se pode dizer que eles sejam realmente culpados de coisa alguma, pois a sua presença num mercado aberto deste tipo é inevitável e acaba por dar fluidez ao mercado.

Por outro lado, ao longo dos anos, a intervenção dos bancos centrais tentando e por vezes conseguindo influenciar a taxa de câmbio das suas moedas, tem dado um sinal controverso e menos transparente. Mas essa actuação não deixa de ser compreensível e os países têm todo o direito de intervirem no mercado da forma que melhor entenderem. Nesse sentido, é bom não esquecer que tem havido várias crises cambiais importantes que implicaram grandes desvalorizações das moedas de alguns países, e em que a intervenção dos seus bancos centrais não teve qualquer possibilidade de êxito. Foi o caso da crise da Libra Inglesa em 92 e da Crise Asiática de 97 que englobou as moedas dos mais importantes países em vias de desenvolvimento do extremo oriente.

Mas será, por vezes, a intervenção dos bancos centrais ou a permanente acção dos grandes especuladores, que deverão ficar com a responsabilidade pelas acentuadas variações, ditas indesejáveis ou excessivas, no valor de algumas moedas durante um determinado período de tempo?

Não, a minha resposta é claramente negativa. As causas são outras, dizem antes respeito às condições económicas e financeiras dos respectivos países, embora sejam naturalmente aproveitadas por especuladores poderosos, que unicamente espreitam as fragilidades e as oportunidades que se lhes deparam.

Em mercados livres e considerando os países mais desenvolvidos, as causas que verdadeiramente explicam as variações de preços de uma moeda em relação a outra, podem resumir-se a 4 factores principais:

1. Diferencial entre as taxas de juro – Haverá pressão para a valorização da moeda cujo país tiver o juro mais alto. Por exemplo, a eventual descida da taxa de juro na UE (tudo o resto permanecendo constante) levaria o euro para um patamar de equilíbrio de valor mais baixo em relação ao dólar (dado que o diferencial diminuiria).

2. Diferencial entre taxas de inflação – Quanto mais elevada for a taxa de inflação na economia de um país em relação à de outro, maior a tendência para a desvalorização da sua moeda em relação à deste último.

3. Diferencial entre taxas de crescimento da moeda em circulação – Se um país tiver uma taxa de crescimento da Massa Monetária superior à de outro país, a sua moeda tenderá a desvalorizar relativamente à deste último.

4. Diferencial entre taxas de crescimento económico – Se a taxa de crescimento real da economia de um país é superior à de outro, a moeda do primeiro terá tendência a valorizar-se em relação à do último. No entanto, se esse mesmo primeiro país tiver grande propensão para consumir produtos importados, essa potencial valorização da sua moeda pode ser atenuada ou mesmo anulada.

Deste modo, os factores referidos podem, de forma simultânea e durante períodos mais ou menos prolongados, ter um impacto sobre a taxa de câmbio em sentidos opostos. Assim, haverá alturas em que as tendências se evidenciam com maior facilidade ou mais força e outras em que os movimentos de preços serão mais erráticos e voláteis.

É fundamental ter em mente que qualquer expectativa de alteração de algum dos factores acima indicados para um determinado país, será de imediato reflectida na taxa de câmbio da sua moeda, de acordo com o grau de probabilidade dessa alteração no futuro próximo.

É assim que a probabilidade de o BCE proceder, nos próximos tempos, à descida da sua taxa de juro directora, de 2% para talvez 1,5%, irá seguramente ser confrontada com outras expectativas decisivas, como a altura da subida das taxas de juro nos EUA e o nível de criação de novos postos de trabalho, indicador fundamental para o crescimento sustentável da economia americana. Também sou de opinião que, se as condições de mercado o exigirem, o BCE não terá outra alternativa a não ser a intervenção directa no mercado cambial, caso seja necessário evitar (ou adiar) uma valorização excessiva do euro em relação ao dólar.

É importante referir que uma intervenção desse tipo por parte de um banco central, tendente a impedir que a sua moeda suba (ou suba rapidamente) para além de determinado limite, é bastante mais fácil de concretizar do que aguentá-la numa pressão de descida, que constitui uma tarefa quase impossível, a não ser com uma actuação concertada dos maiores bancos centrais do mundo.

Do que parece não haver dúvidas é que o EUR/USD tem um tecto definido (mais propriamente, um duplo topo) numa zona próxima de 1,30. É assim possível que este cross leve ainda algum tempo a aproximar-se de novo daquele limite, mas quando isso acontecer é mais que certo que o BCE o defenderá com determinação utilizando para isso todos os instrumentos ao seu dispor. E como o mercado sabe isso, vai mesmo estar marcada para o futuro mais ou menos próximo uma batalha àqueles níveis. No entanto, a “guerra” vai ser longa e as batalhas serão muitas. É melhor deixarmos evoluir as forças em presença e apreciar o espectáculo. A parte mais interessante do show está prestes a começar!

Um abraço

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