A lição da TAP
pferreira@mediafin.pt
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Houvesse mais uma dúzia de Fernandos Pintos no país e o “buraco” crescente e generalizado em que está transformado o Sector Empresarial do Estado não existira. O segredo? Afastar a política das empresas.
Os fantásticos resultados alcançados pela TAP no ano passado deviam ser emoldurados e pendurados nos gabinetes ministeriais deste e dos governos futuros.
E, por baixo deles deveria aparecer um lembrete em letras bem gordas: “Não voltarei a nomear comissários políticos para as empresas públicas que tutelo”.
Esta é a primeira lição a tirar dos 20 milhões de euros de lucro que a transportadora aérea nacional conseguiu. Todos recordamos que no final da década passada a TAP era uma empresa tecnicamente falida, que acumulava prejuízos crescentes depois de ter consumido rios de dinheiro dos contribuintes, vivia em constante guerra civil laboral e levantava dúvidas legítimas sobre a racionalidade de a manter em funcionamento.
Chegou a ser tentado um casamento com a Swissair e nessa altura o país quase que pagava a quem levasse a noiva encalhada. Foi há meia dúzia de anos. Mas a TAP de hoje está muito diferente e cria-nos a ilusão de ter sido há muito mais tempo.
O grande mérito desta revolução é de Fernando Pinto e da sua equipa. Profissionais competentes da aviação, eles estão lá para gerir a empresa. Como nem são portugueses, não estão ali na expectativa de saltarem de empresa pública em empresa pública deixando atrás de si os “buracos” que calharem.
Não querem fazer carreira política, não têm que fazer favores. E que diferença que isso faz... Apesar de toda a instabilidade em que tem andado a aviação internacional (11 de Setembro, alta do petróleo, recessão) e das incríveis guerras internas abertas por carreiristas políticos, estes gestores provaram que a empresa é viável e que pode e deve ser lucrativa.
Assim seja bem gerida. Outra lição que devemos a estes gestores da TAP tem a ver com o terreno, sempre dado a demagogias, dos ordenados dos gestores públicos. O tema foi amplamente discutido há alguns meses, na sequência de um estudo do Tribunal de Contas.
Um gestor que custe 50 mil euros por mês a uma empresa do Estado é caro ou barato? Depende, obviamente. A estes preços, Fernando Pinto e a sua equipa seriam ainda baratos, como o comprovam os resultados que conseguiram. Mas outros “gestores” são caros ainda que custem um décimo daquele montante.
E é assim que chegamos a 2004 mantendo uma companhia aérea de bandeira, com lucros, que pode encarar uma aliança internacional numa muito melhor posição negocial, que está laboralmente pacificada e que vai distribuir a trabalhadores e gestores merecidíssimos prémios de desempenho.
Houvesse mais uma dúzia de Fernandos Pintos no país e os resultados da auditoria do Tribunal de Contas ao Sector Empresarial do Estado, que foi divulgada esta semana, seriam certamente muito diferentes.
Habituámo-nos a olhar para a CP, Refer, Carris, Metro ou para a RTP, a ver em cada uma delas cancros financeiros eternos e a pensar que “é a vida”.
Não, não é a vida. São erros políticos acumulados em várias décadas, que são ciclicamente repetidos porque gozam de completa impunidade.
A TAP, esta TAP de Fernando Pinto, prova que isso não tem que ser uma fatalidade.