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Falar a direito

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Falar a direito

por TRSM » 17/2/2004 10:06

Falar a direito
lbessa@mediafin.pt
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Cadilhe está transformado numa espécie de “enfant terrible” do PSD. Sempre que fala treme-se no partido e no Governo. Desta vez as suas propostas foram classificadas como “provocação”.


A Universidade do Porto, a maior do país em número de alunos, promoveu na semana passada um mega encontro para discutir estratégias para a cidade e para a região.

Independentemente da qualidade das propostas apresentadas pela massa cinzenta da academia, que raramente surpreenderam pelo carácter inovador, o encontro teve o mérito de pôr os universitários a reflectir sobre temas que interessam à comunidade em que se inserem.

Miguel Cadilhe não foi orador em nenhuma das sessões. Mas, no papel de moderador, coube-lhe a intervenção que obteve maior ressonância. O ex-ministro faz parte do reduzido grupo dos que dizem aquilo que pensam, recusando-se a ajustar o discurso à gestão de equilíbrios a que o cargo que ocupa poderia obrigar.

O debate promovido pela universidade não foi excepção. Cadilhe apelou ao “regresso” da regionalização, para combater a macrocefalia que asfixia o país, lançou dúvidas sobre o actual processo de criação de comunidades urbanas e apelou à Universidade do Porto para se empenhar em reverter a decisão de instalar em Lisboa a sede da Agência de Segurança Marítima, que, em sua opinião, poderia e deveria ser instalada em qualquer localidade costeira com uma universidade, de que deu o exemplo de Faro, Aveiro ou Funchal.

Cadilhe está transformado numa espécie de “enfant terrible” do PSD. Sempre que fala treme-se no partido e no Governo. Desta vez as suas propostas foram classificadas como “provocação”.

No entanto, o que disse o ex-ministro é de uma cristalina clarividência. A macrocefalia administrativa continua a provocar um crescimento cada vez mais desequilibrado do país.

O centralismo gera necessidades crescentes na metrópole de Lisboa, que nem mesmo a generosa atribuição de fundos públicos consegue resolver.

Numa época em que as comunicações tornam quase irrelevante o local onde se está fisicamente não se entende porque não há uma atitude activa de descentralização de organismos da administração pública para fora da capital.

Uma API no Porto não basta para compor o ramalhete. Mas o que mais condói nas reacções é o eterno argumento de que a conversa só serve para disfarçar os maus resultados da API.

Os resultados da API não serão brilhantes, quer em termos de captação de IDE, quer de eliminação dos chamados “custos de contexto”, as condições que penalizam o investimento em Portugal.

Os últimos dados divulgados pela agência, com uma transparência corajosa, demonstram que nem um exministro que fala a direito consegue transpor a burocracia.

Mas supor que as divergências de Cadilhe - tanto estas como as relativas à política das finanças públicas, que tanto irritam Manuela Ferreira Leite - são uma cortina de fumo para esconder o desempenho da agência é um argumento tão pequenino quanto as mentes que o formulam.

Neste reino de favores e de faz de conta, já se estranha que haja quem não se demita de pensar pela sua cabeça. É mais cómodo chamar-lhe despeito ou impertinência do que olhar para o fundo da questão.



Tanto barulho para nada!...
Miguel Cadilhe - Um Homem incómodo para Lisboa

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