Epidimia da Transparência

Os impérios opacos continuam a cair. Semana após semana, surgem novos casos de empresas cujos balanços, afinal, não reflectem a verdadeira situação financeira da empresa. Exemplos recentes: a revelação dos contornos do caso Parmalat vão prometendo uma nova entrada no Guiness, em que a Worldcom figura como a maior falência de sempre; na sexta-feira, foi a vez da Shell reconhecer que as reservas de petróleo que contabilizava como activos eram bem menores; ontem, a Adecco reconheceu irregularidades contabilísticas e as acções descambaram em queda livre para quase metade do seu valor.
Mais do que o impacto intrínseco de cada um destes escândalos, o que impressiona é a frequência com que eles vão sendo revelados e o padrão a que obedecem. Tornaram-se banais. E isso é assustador.
Esta súbita epidemia serve de epitáfio para o capitalismo moderno, que subverteu os princípios económicos do “mercado” de Adam Smith e fez sair nos gestores o que os homens têm de pior. As empresas adoptaram modelos de gestão centrados no paradigma de que é preciso crescer e crescer rápido – ou pelo menos parecer que se está a crescer. A primazia do EBITDA dita a manutenção ou o despedimento dos gestores, os seus bónus anuais, os prémios chorudos e o reconhecimento do público. E, assim, este é ummodelo que favorece o efémero, o curto prazo, o parecer em vez de ser. Comprar, expandir, internacionalizar, diversificar tornaram-se obsessões e geraram vícios de super-optimismo nos planos de negócio e conflitos de agência. E não se soube criar mecanismos de regulação eficazes.
Na época do mediatismo fácil, os gestores também quiseram ser ‘superstars’. O escritor Don DeLillo dizia, em entrevista ao «Mil Folhas/Público» deste fim-de-semana, que na euforia dos anos 90, as multinacionais começaram a parecer mais importantes que os governos, os administradores tornaram-se celebridades globais e gente comum teve sonhos de imensa riqueza. Agora, estamos no pós-delírio. E «transparência» não é um neologismo virtuoso da Gestão de uma nova era. É a catarse, eufemismo para o colapso de uma era que ainda não sabe que modelo ou paradigma lhe há de suceder.
Também ontem, o ex-campeão mundial de ténis John McEnroe revelou que tomou substâncias ‘dopantes’ durante seis anos... mas sem o saber. Estão a ver a analogia?
WWW.negocios.pt
Mais do que o impacto intrínseco de cada um destes escândalos, o que impressiona é a frequência com que eles vão sendo revelados e o padrão a que obedecem. Tornaram-se banais. E isso é assustador.
Esta súbita epidemia serve de epitáfio para o capitalismo moderno, que subverteu os princípios económicos do “mercado” de Adam Smith e fez sair nos gestores o que os homens têm de pior. As empresas adoptaram modelos de gestão centrados no paradigma de que é preciso crescer e crescer rápido – ou pelo menos parecer que se está a crescer. A primazia do EBITDA dita a manutenção ou o despedimento dos gestores, os seus bónus anuais, os prémios chorudos e o reconhecimento do público. E, assim, este é ummodelo que favorece o efémero, o curto prazo, o parecer em vez de ser. Comprar, expandir, internacionalizar, diversificar tornaram-se obsessões e geraram vícios de super-optimismo nos planos de negócio e conflitos de agência. E não se soube criar mecanismos de regulação eficazes.
Na época do mediatismo fácil, os gestores também quiseram ser ‘superstars’. O escritor Don DeLillo dizia, em entrevista ao «Mil Folhas/Público» deste fim-de-semana, que na euforia dos anos 90, as multinacionais começaram a parecer mais importantes que os governos, os administradores tornaram-se celebridades globais e gente comum teve sonhos de imensa riqueza. Agora, estamos no pós-delírio. E «transparência» não é um neologismo virtuoso da Gestão de uma nova era. É a catarse, eufemismo para o colapso de uma era que ainda não sabe que modelo ou paradigma lhe há de suceder.
Também ontem, o ex-campeão mundial de ténis John McEnroe revelou que tomou substâncias ‘dopantes’ durante seis anos... mas sem o saber. Estão a ver a analogia?
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