No lugar do morto

No plano geral, a dicotomia recriada pelo ‘chairman’ da petrolífera levanta uma questão interessantíssima de ‘corporate governance’: um gestor representa o accionista que o indica ou a empresa em que trabalha?
O presidente da Galp concedeu este fim-de-semana uma entrevista que era titulada por uma afirmação espantosa: «defenderei a Galp».
O cidadão comum tem naturalmente de perguntar o que leva o engenheiro Ferreira do Amaral a gritar o óbvio. Por acaso, passa pela cabeça de alguém que o Governo confiou neste homem para comandar a petrolífera nacional e que ele não esteja lá a defender a empresa?
A pergunta é natural, mas o conteúdo da entrevista está longe de o ser. Aliás, ao longo da conversa, há outras afirmações absolutamente incompreensíveis, das quais se destacam: «no dia em que isso viesse a eventualmente a suceder [conflito de interesses entre o Estado e a empresa] teríamos um problema complicado»; ou «a minha função é defender os interesses dos accionistas»; e ainda «a Galp tem mais accionistas [além do Estado]».
Ao contrário de outras personagens que no passado já foram candidatos à Presidência da República, o engenheiro Ferreira do Amaral não ensandeceu. Portanto, algo de importante ele está a querer dizer e a maioria dos portugueses não consegue captar.
A única coisa que dá para entender, até pelas transcrições acima referidas, é que nesta conversa estão em jogo muitos interesses. Tratando-se da empresa que é alguém tem a obrigação de dizer quais. Sendo o Estado o accionista que ainda manda, e como no Estado teoricamente mandamos todos nós, exige-se um esclarecimento urgente: o que pode estar a fazer o poder político contra o interesse da Galp? o mesmo é dizer, contra os interesses nacionais?
Ou seja, que obscuros jogos de bastidores estão a desenrolar- se que leva uma pessoa com as responsabilidades de Ferreira do Amaral admitir uma hipótese que, nem no plano académico, deveria sequer ser considerada? E que raio de esquizofrenia é esta de quem é nomeado pelo Estado e, ao mesmo tempo, admite bloquear as pretensões de quem o escolheu?
Já que os que tinham a responsabilidade de explicar às claras as razões desta “estranha” entrevista não o fazem, é hora de assumir sem ambiguidades que o rei vai nu na GalpEnergia.
O Governo decidiu reestruturar o sector energético contra os planos e a vontade da gestão da Galp. Desde então, o ministro da Economia não suporta o presidente-executivo da empresa e é obrigado a tolerar o presidente da administração.
E que, através dos jornais, uma guerra surda se desenvolve da forma mais covarde, o anonimato, para que não se revele aquilo que não vai ser ocultado eternamente: Carlos Tavares e a dupla Amaral-Mexia tornaram-se incompatíveis.
No plano geral, a dicotomia recriada pelo ‘chairman’ da petrolífera levanta uma questão interessantíssima de ‘corporate governance’: um gestor representa o accionista que o indica ou a empresa em que trabalha?
Só que, no caso concreto, a resposta a esta dúvida vai acabar em demissão: ou do ministro que o nomeou; ou da gestão nomeada. Alguém está sentado no lugar do morto. Como a empresa não é do Estado, é do Governo; como o Governo pertence ao partido e este aos seus barões, a lógica empresarial aqui não funciona. Dito de outra forma, Durão Barroso tem um problema sério para resolver.
www.noticias.pt
O presidente da Galp concedeu este fim-de-semana uma entrevista que era titulada por uma afirmação espantosa: «defenderei a Galp».
O cidadão comum tem naturalmente de perguntar o que leva o engenheiro Ferreira do Amaral a gritar o óbvio. Por acaso, passa pela cabeça de alguém que o Governo confiou neste homem para comandar a petrolífera nacional e que ele não esteja lá a defender a empresa?
A pergunta é natural, mas o conteúdo da entrevista está longe de o ser. Aliás, ao longo da conversa, há outras afirmações absolutamente incompreensíveis, das quais se destacam: «no dia em que isso viesse a eventualmente a suceder [conflito de interesses entre o Estado e a empresa] teríamos um problema complicado»; ou «a minha função é defender os interesses dos accionistas»; e ainda «a Galp tem mais accionistas [além do Estado]».
Ao contrário de outras personagens que no passado já foram candidatos à Presidência da República, o engenheiro Ferreira do Amaral não ensandeceu. Portanto, algo de importante ele está a querer dizer e a maioria dos portugueses não consegue captar.
A única coisa que dá para entender, até pelas transcrições acima referidas, é que nesta conversa estão em jogo muitos interesses. Tratando-se da empresa que é alguém tem a obrigação de dizer quais. Sendo o Estado o accionista que ainda manda, e como no Estado teoricamente mandamos todos nós, exige-se um esclarecimento urgente: o que pode estar a fazer o poder político contra o interesse da Galp? o mesmo é dizer, contra os interesses nacionais?
Ou seja, que obscuros jogos de bastidores estão a desenrolar- se que leva uma pessoa com as responsabilidades de Ferreira do Amaral admitir uma hipótese que, nem no plano académico, deveria sequer ser considerada? E que raio de esquizofrenia é esta de quem é nomeado pelo Estado e, ao mesmo tempo, admite bloquear as pretensões de quem o escolheu?
Já que os que tinham a responsabilidade de explicar às claras as razões desta “estranha” entrevista não o fazem, é hora de assumir sem ambiguidades que o rei vai nu na GalpEnergia.
O Governo decidiu reestruturar o sector energético contra os planos e a vontade da gestão da Galp. Desde então, o ministro da Economia não suporta o presidente-executivo da empresa e é obrigado a tolerar o presidente da administração.
E que, através dos jornais, uma guerra surda se desenvolve da forma mais covarde, o anonimato, para que não se revele aquilo que não vai ser ocultado eternamente: Carlos Tavares e a dupla Amaral-Mexia tornaram-se incompatíveis.
No plano geral, a dicotomia recriada pelo ‘chairman’ da petrolífera levanta uma questão interessantíssima de ‘corporate governance’: um gestor representa o accionista que o indica ou a empresa em que trabalha?
Só que, no caso concreto, a resposta a esta dúvida vai acabar em demissão: ou do ministro que o nomeou; ou da gestão nomeada. Alguém está sentado no lugar do morto. Como a empresa não é do Estado, é do Governo; como o Governo pertence ao partido e este aos seus barões, a lógica empresarial aqui não funciona. Dito de outra forma, Durão Barroso tem um problema sério para resolver.
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