Estive em Novembro a assitir a um seminário muito interessante que decorreu em Coimbra intitulado Europa, o Futuro do Passado (
http://www.fbb.pt/europa/) onde, num dos painéis o Victor Constâncio e o António Borges entraram numa saudável e interessantíssima polémica sobre a questão da produtividade.
Vou tentar sintetizar:
O António Borges (numa postura extremamente liberal)abriu as hostilidades dizendo que a Europa índices de produtividade anuais muito abaixo dos EUA (cerca de -30%) e que o estado é extremamente proteccionista, intervindo constantemente em defesa de empresas historicamente bastante importantes mas que não se souberam modernizar.
(O Vitor Constâncio estava vermelho, torcendo-se na cadeira e abanando vigorosamente a cabeça em desacordo).
Ainda não satisfeito, o António Borges faou ainda do endividamento dos EUA dizendo que era perfeitamente normal, que eles sempre fizeram isso, e que meio trilião de dólares (Euros?) era perfeitamente razoável e normal.
(O Victor Constâncio espumava e tinha vontade de interromper a apresentação do antónio borges.
*fim da intervenção do Ant. Borges, bastante aplaudida, naturalmente*
Entra o Víctor constâncio em cena. "É certo que a produtividade anual dos EUA é superior à da Euopa. Mas então vamos lá desmontar esses 30% de produtividade extra anual dos EUA em relação à europa", disse.
Com dados do World Economic Forum (salvo erro), o victor constâncio apresentou valores comparativos (para os últimos anos) entre a
produtividade hora nos EUA e em cada um dos 6 países fundadores da União Europeia.
E não é que a produtividade hora é quase igual (ligeiramente superior nos 6 países da europa que nos EUA?)
Então, se a produtividade hora nestes 6 países é muite semelhante à dos EUA porque é que a produtividade ano do EUA é tão superior à produtividade ano desses 6 países?
Será que a média da produtividade ano desses 6 países é muito superior à média da Europa. Victor constâncio demonstrou que era superior mas ainda assim bastante inferior à dos EUA (Já não me lembro bem, mas acho que cerca de 20% inferior).
Só pode haver uma justificação, disse o Victor Constâncio, tem que ser o nº de horas trabalhadas por ano.
E eis que apresenta um quadro estatístico com o número de horas trabalhadas por ano nos EUA e nos vários paíse Europeus (lamento, mas já não me lembro da fonte). E não é que em média se constata que, por ano, um trabalhador nos EUA trabalha cerca de 30% mais de horas que um europeu? Et voilá!
Em jeito de resumo, Victor Constâncio deixou perguntas muuuuuuuito pertinentes no ar:
- Anualmente os EUA têm uma produtividade bastante superior à Europa, à custa de um maior nº de horas trabalhadas (menos dias de férias, horários de trabalho mais alargados, etc.), apresentando actualmente valorizações do PIB que fazem a Europa corar.
- A Europa tem uma produtividade hora semelhante à dos EUA mas trabalha menos horas por ano.
Questões levantadas pelo Victor Constâncio:
- Deverá a Europa envergonhar-se disso?
- É uma fraqueza da Europa ou pelo contrário deverá ser visto com uma mais valia social de respeito pela condição humana?
- Dever-se-á trabalhar mais horas na Europa correndo o risco de perder conquistas sociais que já foram vencidas no passado e que tanto custaram a vencer?
(o António Borges mostrava um sorriso amarelo)
As perguntas ficaram no ar e gerou-se, em toro delas forte aceso debate.
Bem, lembrei-me de colocar este post por causa da intervenção do Ulisses àcerca do 1º de Maio, o dia do trabalhador (e, cúmulo das ironias, até se passou em Chicago, EUA, quando os trabalhadores saíram à rua a exigir as 8 horas de trabalho.). Tal como o Ulisses afirmou, também me mete muita impressão a forma como hoje se olha apenas às questões económicas atropelando ganhos sociais importantes.
Um abraço,
JFigueira
PS - Sobre o facto de até os supermercados fecharem no dia 1º de Maio, com muita pena minha, no ano passado, houve uma cadeia de supermercados que esteve aberta nesse dia.
