Não faço ideia se houve ou não manipulação. Mas o facto de ser o BPP a enviar uma queixa de manipulação à CMVM dá-me vontade de rir...
"Transacções suspeitas na JM "
BPP, liderado por João Rendeiro, pediu à CMVM que investigue ordens dadas sobre acções da Jerónimo Martins
"O DESEMPENHO bolsista da Jerónimo Martins (JM), que nas últimas semanas se tem destacado claramente pela positiva, está envolvido em suspeitas de manipulação. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) recebeu esta semana um pedido de investigação de algumas ordens transmitidas perto do fecho de várias sessões de Bolsa e que terão tido alegadamente como intenção fazer descer a cotação.
Ao que o EXPRESSO apurou, o pedido de investigação foi entregue por carta pelo Banco Privado Português (BPP), que é o segundo maior accionista da JM, detendo 15,68% do capital, directamente e através de algumas sociedades de investimento. O grupo de distribuição é controlado pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos, com 57,94%.
A CMVM confirma ter recebido o pedido de investigação ao desempenho bolsista da JM, pelo que vai averiguar todas as ordens transmitidas, quer as que de facto deram origem a transacções quer as que não chegaram a ser concretizadas.
Trata-se de um procedimento normal sempre que se está perante desconfianças de que houve algum tipo de operação ilícita no mercado de capitais. Neste caso específico, se de facto tiver havido ordens sistemáticas, introduzidas por uma mesma entidade perto do fim das sessões e de que tenham resultado descidas significativas da cotação, poder-se-á estar perante uma situação de manipulação do mercado. Se assim for, o processo poderá ir parar à Procuradoria-Geral da República.
A JM, por seu lado, ouviu «alguns rumores da eventualidade de movimentos menos claros», mas diz que não encontrou «nenhuma evidência». «Face à denúncia de que também tivemos conhecimento, reforçámos a nossa atenção, mas não encontrámos, quer na evolução do preço quer na liquidez diária, nenhum facto digno de maior realce», acrescenta. A empresa analisa sistematicamente as transacções. «Até por obrigação legal», afirma verificar especialmente as dos accionistas qualificados e as dos administradores.
Operadores e analistas contactados pelo EXPRESSO referem que o comportamento bolsista da JM apresenta, de facto, algumas transacções concentradas no final da sessão, mas consideram que isso não implica necessariamente que tenha havido qualquer manipulação. Houve, por outro lado, dias em que o preço contrariou a tendência registada no início das secções, o que levou a que as acções fechassem a perder valor. Esta situação é especialmente visível no dia 28 de Novembro, em que foram dadas 40 ordens no fecho da sessão, registadas precisamente às 16h30. Estes negócios foram todos concretizados a 8,80 euros por acção, o que, comparado com o fecho da sessão anterior, representa uma queda diária de 5,78%.
Os operadores lembram, por outro lado, que a JM tem um baixo nível de liquidez devido à reduzida dispersão de capital e que, por esse motivo, é possível que um pequeno número de transacções tenha um impacto forte na cotação.
O BPP não revela pormenores sobre o pedido de investigação, mas o EXPRESSO sabe que na origem do recurso para a CMVM terão estado ordens, entre 50 mil a 100 mil acções, dadas sobretudo no final do mês nos últimos minutos das sessões bolsistas.
Desde o início do ano, e até à passada quinta-feira, a JM apresentava uma valorização de 35,1%, ditada sobretudo pelo bom desempenho dos seus resultados no terceiro trimestre do ano. Os analistas ficaram especialmente agradados com a melhoria operacional verificada nas actividades do grupo, após o processo de reestruturação.
A confirmar-se, esta não seria a primeira tentativa de manipular a cotação da JM. Em 2000, a empresa foi confrontada com um comunicado falso em que se referia que ia ser alvo de uma Oferta Pública de Aquisição. O caso, enviado para a Procuradoria-Geral da República, acabou por ser arquivado.
Pedro Lima"
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