Off Topic – “Uma Aventura na América”
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Para ilustrar isto, os resultados da MSFT são de cerca de 10Bn USD. O que, para um PIB de mais de 10 000Bn USD nos EUA em 2002, dá que os resultados da MSFT representam cerca de 0.1% do PIB americano.
No entanto, esses mesmos resultados são iguais a quase 20% do PIB americano a preços correntes em 1933 (apenas 70 anos atrás).
Ora, estas realidades não são comparáveis, APESAR de se poder (falaciosamente) dizer que a MSFT lucra hoje mais que todas as empresas somadas há 70 anos atrás (pois os lucros das empresas são cerca de 5-6% do PIB, com flutuações).
O que seria comparável, seria se a MSFT sozinha possuísse hoje mais do que esses 5-6% do PIB em lucros. Como se vê está longe.
A economia teve crescimentos brutais, tanto nominais, como reais, o que faz a diferença, mesmo que hoje uma MSFT não seja relativamente maior que o Império do Rockfeller (Standard Oil) na altura.
No entanto, esses mesmos resultados são iguais a quase 20% do PIB americano a preços correntes em 1933 (apenas 70 anos atrás).
Ora, estas realidades não são comparáveis, APESAR de se poder (falaciosamente) dizer que a MSFT lucra hoje mais que todas as empresas somadas há 70 anos atrás (pois os lucros das empresas são cerca de 5-6% do PIB, com flutuações).
O que seria comparável, seria se a MSFT sozinha possuísse hoje mais do que esses 5-6% do PIB em lucros. Como se vê está longe.
A economia teve crescimentos brutais, tanto nominais, como reais, o que faz a diferença, mesmo que hoje uma MSFT não seja relativamente maior que o Império do Rockfeller (Standard Oil) na altura.
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- Registado: 6/11/2002 19:27
Mantenho que dizer que "A Microsoft hoje lucra mais que todas as empresas juntas há 100 anos atrás" é uma afirmação desprovida de sentido.
Sendo os lucros das empresas uma % relativamente estável do PIB, e não sendo os lucros da Microsoft uma % desmedida do PIB, daí resulta que em termos de % do PIB (talvez a única forma de fazer esta comparação), a MSFT não tem forma nenhuma de lucrar mais hoje do que a totalidade das empresas há 100 anos atrás.
Talvez assim seja mais claro. No entanto, continuo a dizer que fazer essa comparação não faz sentido.
Sendo os lucros das empresas uma % relativamente estável do PIB, e não sendo os lucros da Microsoft uma % desmedida do PIB, daí resulta que em termos de % do PIB (talvez a única forma de fazer esta comparação), a MSFT não tem forma nenhuma de lucrar mais hoje do que a totalidade das empresas há 100 anos atrás.
Talvez assim seja mais claro. No entanto, continuo a dizer que fazer essa comparação não faz sentido.
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Peço desculpa se me excedi nalguma coisa mas só de ler aquela primeira frase: "tempos idos em que com 500 dólares se fazia uma empresa" fiquei logo irritado pelo espírito que reina neste país, daí ter escrito o que escrevi de forma algo agressiva, reconheço, mas acho que as pessoas estão a precisar de alguma terapia de choque para acordarem
Temos um espírito nacional de que nada podemos fazer, que só quem tem dinheiro é que pode fazer dinheiro e amaldiçoamos a distribuição actual da riqueza no mundo. E pior que tudo, somos conformistas em relação a esta situação. Ou se calhar queremos acreditar naquela ideia de que não há nada a fazer por ser a mais cómoda...
É só isto que eu condeno, mais nada
Temos um espírito nacional de que nada podemos fazer, que só quem tem dinheiro é que pode fazer dinheiro e amaldiçoamos a distribuição actual da riqueza no mundo. E pior que tudo, somos conformistas em relação a esta situação. Ou se calhar queremos acreditar naquela ideia de que não há nada a fazer por ser a mais cómoda...
É só isto que eu condeno, mais nada
Caro Camisa Roxa,
Tentei não escrever este post mas isso não seria admissível da minha parte.
Eu penso que existe aqui alguma má vontade em relação ao Rei da Sardinha, e não faço ideia porquê. Penso, aliás, que a forma como o Camisa Roxa se lhe dirigiu não está nada de acordo com o tipo de convivência normal no Caldeirão. E não é preciso eu ser Administrador para dizer isso!
Em primeiro lugar, o Rei da Sardinha explicou-se mal e não expôs bem o problema dele. Mas vocês, Incognitus e Camisa Roxa, deviam ter percebido isso, em vez de fazerem intervenções que, elas próprias, deixam muito a desejar.
É óbvio que quando se quer comparar o que se investiu ou lucrou hoje com o que se investiu ou lucrou há 5, 50 ou 100 anos, há fórmulas financeiras, do mais simples, que tornam isso possível, bastando trabalhar com determinados pressupostos de inflação e outros factores.
Agora o meu amigo Camisa Roxa vir dizer que 500 dólares era muito dinheiro em 1937 (e era!!) e depois vir acrescentar que é só preciso uma ideia e o dinheiro (hoje!!) vem por acréscimo, é uma atitude cuja racionalidade deixa muito a desejar. Mas talvez tenha escrito à pressa e não se tenha conseguido explicar bem por causa disso.
Portugal precisaria desse portfolio de ideias que quase não necessitariam de investimento inicial, estava mesmo a calhar para nós. No entanto, a realidade é bem diferente!
Se valesse a pena, poderíamos um dia discutir isso civilizadamente.
Um abraço
Comentador
Tentei não escrever este post mas isso não seria admissível da minha parte.
Eu penso que existe aqui alguma má vontade em relação ao Rei da Sardinha, e não faço ideia porquê. Penso, aliás, que a forma como o Camisa Roxa se lhe dirigiu não está nada de acordo com o tipo de convivência normal no Caldeirão. E não é preciso eu ser Administrador para dizer isso!
Em primeiro lugar, o Rei da Sardinha explicou-se mal e não expôs bem o problema dele. Mas vocês, Incognitus e Camisa Roxa, deviam ter percebido isso, em vez de fazerem intervenções que, elas próprias, deixam muito a desejar.
É óbvio que quando se quer comparar o que se investiu ou lucrou hoje com o que se investiu ou lucrou há 5, 50 ou 100 anos, há fórmulas financeiras, do mais simples, que tornam isso possível, bastando trabalhar com determinados pressupostos de inflação e outros factores.
Agora o meu amigo Camisa Roxa vir dizer que 500 dólares era muito dinheiro em 1937 (e era!!) e depois vir acrescentar que é só preciso uma ideia e o dinheiro (hoje!!) vem por acréscimo, é uma atitude cuja racionalidade deixa muito a desejar. Mas talvez tenha escrito à pressa e não se tenha conseguido explicar bem por causa disso.
Portugal precisaria desse portfolio de ideias que quase não necessitariam de investimento inicial, estava mesmo a calhar para nós. No entanto, a realidade é bem diferente!
Se valesse a pena, poderíamos um dia discutir isso civilizadamente.
Um abraço
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Tempos idos Rei da Sardinha? Não sabes o que dizes por certo...
Basta uma ideia, o $ vem por acréscimo pois o $ fareja formas de se reproduzir
500 dólares ainda era bastante em 1937...
Agora vê o Bill Gates que em 10/15 anos transforma o nada na maior empresa do mundo... E que investimento é que ele fez? Tinha ideias para programas, fê-los e vendeu-os crescendo exponencialmente a partir daí...
Ainda hoje e sempre, muitos empreendedores abrem as suas empresas com poucos milhares de euros e quem sabe onde eles estarão daqui a alguns anos...
É preciso é empreendorismo, não dinheiro para fazer um negócio novo
Basta uma ideia, o $ vem por acréscimo pois o $ fareja formas de se reproduzir
500 dólares ainda era bastante em 1937...
Agora vê o Bill Gates que em 10/15 anos transforma o nada na maior empresa do mundo... E que investimento é que ele fez? Tinha ideias para programas, fê-los e vendeu-os crescendo exponencialmente a partir daí...
Ainda hoje e sempre, muitos empreendedores abrem as suas empresas com poucos milhares de euros e quem sabe onde eles estarão daqui a alguns anos...
É preciso é empreendorismo, não dinheiro para fazer um negócio novo
Pata,
Ainda bem que gostou!
Às vezes há vidas que não parecem reais, mas para a Srª. Blumkin, a dela foi mais do que real, foi a que ela quis ardentemente viver. Como é possível, não é? É mesmo uma inspiração, pelo menos para mim!
Cumprimentos e mais uma vez obrigado.
Rei da Sardinha,
Eu torço para que, através da história de Mrs. B., consiga essa resposta (ainda há outras!...) do Profitaker, que já deve estar no rol do esquecimento.
Cumprimentos
Ao Incognitus,
A srª. Blumkin teria gostado que o meu amigo desse uma explicação talvez mais elaborada porque assim é capaz de ser curto. Parece-me que o assunto está longe de ser explicado e que poderia ser interessante demonstrá-lo. Eu para já nem tenho tempo nem a pergunta me foi colocada directamente, portanto só posso aguardar eventuais desenvolvimentos.
Até à próxima vez!
Comentador
Ainda bem que gostou!
Às vezes há vidas que não parecem reais, mas para a Srª. Blumkin, a dela foi mais do que real, foi a que ela quis ardentemente viver. Como é possível, não é? É mesmo uma inspiração, pelo menos para mim!
Cumprimentos e mais uma vez obrigado.
Rei da Sardinha,
Eu torço para que, através da história de Mrs. B., consiga essa resposta (ainda há outras!...) do Profitaker, que já deve estar no rol do esquecimento.
Cumprimentos
Ao Incognitus,
A srª. Blumkin teria gostado que o meu amigo desse uma explicação talvez mais elaborada porque assim é capaz de ser curto. Parece-me que o assunto está longe de ser explicado e que poderia ser interessante demonstrá-lo. Eu para já nem tenho tempo nem a pergunta me foi colocada directamente, portanto só posso aguardar eventuais desenvolvimentos.
Até à próxima vez!
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Ok, Incognitus
Se não há comparação possivel entre o dólar e o PIB, como pode haver comparação de indícies?
É essa a grande questão que se pretende discutir
Cpts
É essa a grande questão que se pretende discutir
Cpts
-
Rei da Sardinha
Rei da Sardinha, os dólares de hoje não valem o mesmo que os dólares de há 100 anos atrás, e além do mais o PIB per capita americano (e do resto do mundo desenvolvido) tb não é o mesmo (mesmo a preços constantes), pelo que uma comparação do tipo que propões não é válida.
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Era a época do "self made man"
Tempos idos.....em que com 500 dólares se fazia uma empresa.
Aproveito esta questão para que o Profitaker, na recente discussão do Monstro, possa ver o que era a vida há 100 anos.
Ainda espero uma resposta sobre uma questão que lhe coloquei: a comparação de lucros das empresas do Dow há 100 anos e de hoje.
Aventei-lhe a hipótese da Microsoft ter hoje mais lucros que todas as empresas do Dow nessa altura.
Se alguém quizer investigar isso, era um exercício importante para visualizar a evolução dos mercados e dos indícies,talvez mais fiável que os pontos. Eu,por várias razões não o posso fazer, fica como sugestão.
Cpts
Aproveito esta questão para que o Profitaker, na recente discussão do Monstro, possa ver o que era a vida há 100 anos.
Ainda espero uma resposta sobre uma questão que lhe coloquei: a comparação de lucros das empresas do Dow há 100 anos e de hoje.
Aventei-lhe a hipótese da Microsoft ter hoje mais lucros que todas as empresas do Dow nessa altura.
Se alguém quizer investigar isso, era um exercício importante para visualizar a evolução dos mercados e dos indícies,talvez mais fiável que os pontos. Eu,por várias razões não o posso fazer, fica como sugestão.
Cpts
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Rei da Sardinha
Off Topic – “Uma Aventura na América”
Uma Aventura na América
1
O salão nobre da Universidade de Nova York estava repleto. Como em todas as grandes ocasiões, respirava-se a solenidade de uma atmosfera intemporal, cheia de tradições, de boas tradições, que certamente se haveriam de manter.
Estávamos em Maio de 1984, e ia ser concedido o Doutoramento Honoris Causa em Ciências Comerciais a Rose Gorelick Blumkin, de 90 anos. Sentada no seu alto cadeirão, Rose contemplava a assistência, o seu olhar deambulando devagar, primeiro por aquele espaço visitado por tantas gerações, depois pelo tempo, vagueou pelo seu tempo, pelo seu presente e, claro, pelo seu passado.
Principalmente pelo seu passado, a muitos milhares de quilómetros de si mesma, voltando atrás, muito atrás, à sua Rússia natal, onde afinal era bem ela própria que se via correr, naquelas manhãs tão frias, nos arredores de Minsk.
Quanto tempo passado, tanto tempo, mas lembrava-se bem da altura em que tinha resolvido partir, escapar da sua terra, e emigrar para a América com o marido. Fora há 67 anos, tinha ela então 23, e passava o ano de 1917.
Lembrou os primeiros anos nos Estados Unidos, de um trabalho duro e extenuante, vivido a dois, num autêntico contra-relógio para poder trazer a sua família para junto de si. E recordou também, com uma ternura imensa, a forma como aprendeu a língua inglesa, ela que nunca tinha entrado numa escola (nem o faria depois). Todas as noites, a sua filha mais velha ensinava-lhe, uma a uma, as palavras que tinha aprendido na escola durante o dia.
Estes pensamentos trouxeram-na momentaneamente ao presente, à Universidade e a esta cerimónia, o que lhe fez sentir um arrepio, ao pensar que era a altura dela, que a estariam já a chamar. Mas não, os discursos continuavam, e Rose voltou a admirar-se da forma como as pessoas estavam a ser simpáticas, como lhe estavam a dar uma atenção que ela não julgara possível, nem talvez merecida. Não, como poderia ser merecida uma honra destas se ela só tinha criado e dirigido uma empresa, com todo o empenho e honestidade é certo, até com bastante sucesso de que se orgulhava, mas nada mais? Era isso, a atitude da Universidade era extremamente simpática, mas ainda lhe custava imenso acreditar que o seu lugar poderia ser ao lado de tanta gente ilustre.
Mesmo sem querer, o seu cérebro voou de novo para os pensamentos de há pouco, que apareciam diante dos seus olhos com uma naturalidade e clareza que a ela própria admirava. Era curioso que não estava a passar em revista toda a sua vida mas sim determinados períodos e situações que se impunham com uma força determinante.
Veio-lhe à memória, o ano de 1937, em que depois de muitos anos a negociar roupas em segunda mão, tinha conseguido poupar 500 dólares e concretizar o sonho da sua vida: criar um armazém de venda de mobílias e tapeçarias, a sua Nebraska Furniture Mart. Que tempos! Lembrou-se bem de todos os obstáculos iniciais que teve de vencer, da concorrência feroz, da necessidade que teve de vender as mobílias da sua própria casa para pagar aos credores, exactamente na data combinada. Depois o negócio prosperou, ano após ano, até se tornar, de longe, a maior empresa de loja única do seu sector em todos o país.
Tinha tido razão, conseguira vender mais barato do que os outros e com melhor qualidade, dizendo sempre a verdade aos clientes. E nunca entrou em áreas onde não fosse a melhor, mantendo-se sempre no mobiliário e nas tapeçarias (estas últimas, eram mesmo a sua grande especialidade pessoal).
E, pensou, até a venda da empresa no ano anterior (por 55 milhões de dólares) tinha sido uma operação aconselhável e no interesse de toda a sua família. Para além do mais, todos se mantinham na gestão da “Mart”, e ela própria, com os seus 10%, continuou como Presidente da sua empresa.
E não evitou um sorriso ao lembrar-se da negociação com Warren Buffett. Ele fora de uma grande correcção, confiara nela em absoluto, dispensando até a auditoria e o inventário. E recordou-se da cara dele, um misto de compreensão risonha e de, ia jurar, admiração comovida, quando achou natural, e até necessário, que ela continuasse à frente da empresa.
A cerimónia continuava, ela ouvia o elogio do reitor, talvez mais pessoal do que ela esperaria. Mas Rose, estranhamente, não conseguia estar com a atenção que desejava, o seu cérebro parecia flutuar e demorou o resto daquele discurso a tentar serenar e a tomar consciência precisa do que se estava a passar. Até que o momento chegou e Rose estava doutorada. Exactamente na mesma Universidade em que tinham recebido idêntica distinção personalidades como os CEO´s da EXXON, Citicorp, IBM e General Motors e, pouco tempo antes, Paul Volcker, Presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, uma extraordinária figura de financeiro que influenciou decisivamente a economia americana nos anos 70 e 80.
2
E a sua vida continuou. O tempo foi passando, e Rose Blumkin (conhecida em todo o Nebraska por Mrs. B.), com a mesma alegria de sempre, mantinha o seu ritmo normal na empresa, trabalhando 7 dias por semana desde a abertura ao fecho, adorando atender os seus clientes, surpreendendo-os com excelentes negócios que eles se apressavam a aceitar. “Ia a casa para comer e dormir, e pouco mais. E mal podia esperar que o dia nascesse, para voltar de novo à empresa”. Parecia mesmo que ainda não tinha atingido completamente todo o seu verdadeiro potencial! E isto já com 96 anos!
O segredo do sucesso da sua empresa sempre tinha sido o nível extremamente baixo dos custos operacionais, que se situavam, de forma sustentada, em pouco mais de 15% das vendas. E foi assim que conseguiu apresentar um crescimento ininterrupto do volume de negócios durante 64 anos.
Mas em 1989, aconteceu uma situação inesperada. Devido a uma diferença de opinião com a restante administração da empresa (que incluía o seu filho Louie), Rose decidiu sair e criar, de imediato, num edifício adjacente que lhe pertencia, uma nova empresa de … tapeçarias, estabelecendo, alguns anos mais tarde, já com 99 anos, um acordo de não-concorrência com a “sua” Nebraska Furniture Mart!
Essa sua actuação não seria uma forma engenhosa de sair na altura certa, deixando todo o caminho aos mais novos (!), e para ao mesmo tempo continuar a fazer aquilo que sempre quis e soube?
Ao completar 100 anos de idade, as velas acenderam-se na empresa, para uma mais do que devida comemoração. Mas como o trabalho está sempre primeiro, Mrs. B. adiou a festa para uma tarde em que a loja estivesse encerrada…
Rose Blumkin, morreu em 1998, aos 104 anos de idade. A sua empresa mantém-se hoje na mesma rota de crescimento e de lucros, tendo atingido, no final desse ano, 300 milhões de dólares em vendas, as quais continuaram a subir com naturalidade até ao presente.
Tudo tinha começado em 1937, com um investimento de 500 dólares, um enorme entusiasmo, ideias muito claras do negócio e uma tremenda vontade de vencer.
Não há dúvida que ela foi e é uma fonte de inspiração, mesmo para quem nunca a conheceu!…
Um abraço
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O salão nobre da Universidade de Nova York estava repleto. Como em todas as grandes ocasiões, respirava-se a solenidade de uma atmosfera intemporal, cheia de tradições, de boas tradições, que certamente se haveriam de manter.
Estávamos em Maio de 1984, e ia ser concedido o Doutoramento Honoris Causa em Ciências Comerciais a Rose Gorelick Blumkin, de 90 anos. Sentada no seu alto cadeirão, Rose contemplava a assistência, o seu olhar deambulando devagar, primeiro por aquele espaço visitado por tantas gerações, depois pelo tempo, vagueou pelo seu tempo, pelo seu presente e, claro, pelo seu passado.
Principalmente pelo seu passado, a muitos milhares de quilómetros de si mesma, voltando atrás, muito atrás, à sua Rússia natal, onde afinal era bem ela própria que se via correr, naquelas manhãs tão frias, nos arredores de Minsk.
Quanto tempo passado, tanto tempo, mas lembrava-se bem da altura em que tinha resolvido partir, escapar da sua terra, e emigrar para a América com o marido. Fora há 67 anos, tinha ela então 23, e passava o ano de 1917.
Lembrou os primeiros anos nos Estados Unidos, de um trabalho duro e extenuante, vivido a dois, num autêntico contra-relógio para poder trazer a sua família para junto de si. E recordou também, com uma ternura imensa, a forma como aprendeu a língua inglesa, ela que nunca tinha entrado numa escola (nem o faria depois). Todas as noites, a sua filha mais velha ensinava-lhe, uma a uma, as palavras que tinha aprendido na escola durante o dia.
Estes pensamentos trouxeram-na momentaneamente ao presente, à Universidade e a esta cerimónia, o que lhe fez sentir um arrepio, ao pensar que era a altura dela, que a estariam já a chamar. Mas não, os discursos continuavam, e Rose voltou a admirar-se da forma como as pessoas estavam a ser simpáticas, como lhe estavam a dar uma atenção que ela não julgara possível, nem talvez merecida. Não, como poderia ser merecida uma honra destas se ela só tinha criado e dirigido uma empresa, com todo o empenho e honestidade é certo, até com bastante sucesso de que se orgulhava, mas nada mais? Era isso, a atitude da Universidade era extremamente simpática, mas ainda lhe custava imenso acreditar que o seu lugar poderia ser ao lado de tanta gente ilustre.
Mesmo sem querer, o seu cérebro voou de novo para os pensamentos de há pouco, que apareciam diante dos seus olhos com uma naturalidade e clareza que a ela própria admirava. Era curioso que não estava a passar em revista toda a sua vida mas sim determinados períodos e situações que se impunham com uma força determinante.
Veio-lhe à memória, o ano de 1937, em que depois de muitos anos a negociar roupas em segunda mão, tinha conseguido poupar 500 dólares e concretizar o sonho da sua vida: criar um armazém de venda de mobílias e tapeçarias, a sua Nebraska Furniture Mart. Que tempos! Lembrou-se bem de todos os obstáculos iniciais que teve de vencer, da concorrência feroz, da necessidade que teve de vender as mobílias da sua própria casa para pagar aos credores, exactamente na data combinada. Depois o negócio prosperou, ano após ano, até se tornar, de longe, a maior empresa de loja única do seu sector em todos o país.
Tinha tido razão, conseguira vender mais barato do que os outros e com melhor qualidade, dizendo sempre a verdade aos clientes. E nunca entrou em áreas onde não fosse a melhor, mantendo-se sempre no mobiliário e nas tapeçarias (estas últimas, eram mesmo a sua grande especialidade pessoal).
E, pensou, até a venda da empresa no ano anterior (por 55 milhões de dólares) tinha sido uma operação aconselhável e no interesse de toda a sua família. Para além do mais, todos se mantinham na gestão da “Mart”, e ela própria, com os seus 10%, continuou como Presidente da sua empresa.
E não evitou um sorriso ao lembrar-se da negociação com Warren Buffett. Ele fora de uma grande correcção, confiara nela em absoluto, dispensando até a auditoria e o inventário. E recordou-se da cara dele, um misto de compreensão risonha e de, ia jurar, admiração comovida, quando achou natural, e até necessário, que ela continuasse à frente da empresa.
A cerimónia continuava, ela ouvia o elogio do reitor, talvez mais pessoal do que ela esperaria. Mas Rose, estranhamente, não conseguia estar com a atenção que desejava, o seu cérebro parecia flutuar e demorou o resto daquele discurso a tentar serenar e a tomar consciência precisa do que se estava a passar. Até que o momento chegou e Rose estava doutorada. Exactamente na mesma Universidade em que tinham recebido idêntica distinção personalidades como os CEO´s da EXXON, Citicorp, IBM e General Motors e, pouco tempo antes, Paul Volcker, Presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, uma extraordinária figura de financeiro que influenciou decisivamente a economia americana nos anos 70 e 80.
2
E a sua vida continuou. O tempo foi passando, e Rose Blumkin (conhecida em todo o Nebraska por Mrs. B.), com a mesma alegria de sempre, mantinha o seu ritmo normal na empresa, trabalhando 7 dias por semana desde a abertura ao fecho, adorando atender os seus clientes, surpreendendo-os com excelentes negócios que eles se apressavam a aceitar. “Ia a casa para comer e dormir, e pouco mais. E mal podia esperar que o dia nascesse, para voltar de novo à empresa”. Parecia mesmo que ainda não tinha atingido completamente todo o seu verdadeiro potencial! E isto já com 96 anos!
O segredo do sucesso da sua empresa sempre tinha sido o nível extremamente baixo dos custos operacionais, que se situavam, de forma sustentada, em pouco mais de 15% das vendas. E foi assim que conseguiu apresentar um crescimento ininterrupto do volume de negócios durante 64 anos.
Mas em 1989, aconteceu uma situação inesperada. Devido a uma diferença de opinião com a restante administração da empresa (que incluía o seu filho Louie), Rose decidiu sair e criar, de imediato, num edifício adjacente que lhe pertencia, uma nova empresa de … tapeçarias, estabelecendo, alguns anos mais tarde, já com 99 anos, um acordo de não-concorrência com a “sua” Nebraska Furniture Mart!
Essa sua actuação não seria uma forma engenhosa de sair na altura certa, deixando todo o caminho aos mais novos (!), e para ao mesmo tempo continuar a fazer aquilo que sempre quis e soube?
Ao completar 100 anos de idade, as velas acenderam-se na empresa, para uma mais do que devida comemoração. Mas como o trabalho está sempre primeiro, Mrs. B. adiou a festa para uma tarde em que a loja estivesse encerrada…
Rose Blumkin, morreu em 1998, aos 104 anos de idade. A sua empresa mantém-se hoje na mesma rota de crescimento e de lucros, tendo atingido, no final desse ano, 300 milhões de dólares em vendas, as quais continuaram a subir com naturalidade até ao presente.
Tudo tinha começado em 1937, com um investimento de 500 dólares, um enorme entusiasmo, ideias muito claras do negócio e uma tremenda vontade de vencer.
Não há dúvida que ela foi e é uma fonte de inspiração, mesmo para quem nunca a conheceu!…
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