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MensagemEnviado: 28/11/2003 1:12
por Comentador
Minha cara Amiga,

Em primeiro lugar, estou muito satisfeito por ter respondido ao meu post.

Vou-lhe dizer francamente, também fiquei admirado de ninguém ter respondido em tempo, digamos, útil, pois achava que o tema tinha interesse. Mas claro, isto é para mim, para si e para as outras 100 pessoas que o leram e que terão eventualmente gostado, mas não o suficiente para fazerem quaisquer observações.

Para mim o mais importante é escrever e ser lido, estando uma coisa interdependente da outra. Se não tivesse quem me lesse, não escreveria. Para além disso, tenho a certeza que já viu que dou importância não só ao conteúdo (o mais importante) mas também à forma como um post é escrito, e agrada-me que haja um site como o Caldeirão, bem gerido e que sabe preservar um bom ambiente, de forma que pessoas como eu possam escrever “descansadas”.

Agora, a própria Administração, por exemplo, que aliás já me deu provas (na sua maioria) de bastante consideração, tem naturalmente que seguir o seu core business, e não nos podemos esquecer que este é um Fórum de Bolsa. Portanto, não fico admirado que se fale nas coisas mais primárias ou repetitivas, seja por se tratar de principiantes ou de pessoas que gostam sempre de falar nas mesmas coisas. Mas também há coisas muito boas, graças a Deus!

Não seria difícil tentar interessar o Caldeirão por vários assuntos e provocar saudáveis e práticas discussões. Não sei se se lembra mas eu fiz uma experiência relativamente bem sucedida há cerca de duas semanas com o tópico “Uma Proposta: Vamos Trocar Conhecimentos?”, que teve cerca de 1.100 leituras. Mas o saldo resume-se no seguinte: salvo uma primeira ronda de intervenções mais ponderadas, depois estive sempre a puxar pela discussão que ia, como um íman, ter sempre aos mesmos assuntos. Eu bem punha gráficos e outros mapas, mas salvo raríssimas excepções as respostas eram fracas e de pouco alcance.

Não me vou meter noutra, porque assim é muito cansativo, e o problema é que não tenho mesmo tempo. Assim, guardo-me só para os meus artigos e para as óbvias respostas (o que faço sempre) a quem intervém nos meus posts.

Sobre os BRICs e os “UEs”, estou de acordo consigo, mas há que ter também o seguinte em consideração:

1. Para a China existe realmente uma boa probabilidade de as previsões se materializarem, pelo menos de uma forma aproximada. A Índia tem o caminho também relativamente aberto, embora com mais riscos. A Rússia e, muito principalmente, o Brasil são os países que, tendo possibilidade de atingir os objectivos referidos, poderão divergir com mais facilidade (o Brasil até está agora numa fase de fraco crescimento);

2. Normalmente (é o que acontece agora) os chamados G6, 7, etc., são definidos pela grandeza económica e não por motivos geoestratégicos (quando querem alargar há o G20, etc). O que tem acontecido é que até agora as duas situações têm sido satisfeitas simultaneamente. Mas é o que não deixará de acontecer em 2050(!...): podem alargar o G6, incluir a EU como um bloco, que seria o 4º. Em poder económico, etc etc;

3. A EU também é um caso para estudo, em que países como a Alemanha e a França ficarão cada vez mais velhos e gastos, sem população activa suficiente para os voos de que necessitariam. Outros como a Polónia (e não só) têm nas suas mão a possibilidade de ficarem na primeira linha daqui a décadas.

Mas isto são conjecturas, o agradável mesmo é discorrer sobre tudo isto.

Cumprimentos e responda sempre!

Comentador

BRIC's

MensagemEnviado: 27/11/2003 20:50
por Razao_Pura
Caro Comentador,

Tenho a impressão que este seu artigo foi subestimado pelos membros do caldeirão uma vez que não obteve qualquer feed-back. O que muito me desgosta uma vez que vejo tantos temas perfeitamente fúteis serem aqui discutidos até à exaustão e um post com uma projecção da economia mundial a 50 anos passa completamente em branco.
Mas enfim, aqui vai um rápido comentário.
O exercício que fez é bastante interessante mas a mim, pessoalmente, custa-me uma pouco fazer futurologia em termos económicos com um time range de 50 anos. Em 50 anos pode mudar tanta coisa induzida por factores que não são previsíveis: a ciência e tecnologia, as guerras e catástrofes, os regimes políticos, etc...
De qualquer forma, creio que a riqueza das nações associada ao poder geo-político continuará a ser o factor decisivo para a composição do chamado Grupo dos ricos. Logo, custame-me muito acreditar que a Rússia ou a India, ou até o Brasil possam incorporar o G-6 pelas razões que julgo ter percebido.
De qualquer forma espero cá andar em 2053 para ver como é que será!!!!

Cumprimentos.

R.P.

Os BRIC´s não Brincam!

MensagemEnviado: 24/11/2003 22:33
por Comentador
Se calhar não sabem o que são os BRIC´s? Quer dizer, saber sabem, mas aquela sigla é complicativa, até parece o nome de uma marca de cerveja. Os BRIC´s são, nada mais nada menos, os países que se posicionarão entre as 6 maiores economias mundiais, lá para meados deste Século XXI: Brasil, Rússia, Índia e China. Admirados? Não é caso para isso, vou já explicar tudo como deve ser.

Depois de muitas décadas de espera, tudo indica que estes quatro países irão entrar, à vez, a partir de 2040 - 2050, para o grupo dos países com maior poder económico do mundo, passando a integrar o G6, juntamente com os EUA e o Japão, ao mesmo tempo que desalojam os restantes. Embora continuem a ter, mesmo nessa altura, uma população comparativamente bastante menos rica do que estes, terão direito à honrosa etiqueta de grandes potências económicas, embora o título de superpotência se deva manter na posse dos Estados Unidos da América.

Mas, surpresa das surpresas, se os pressupostos não muito ousados de crescimento se concretizarem, a China ultrapassará o PIB dos EUA já em 2041, tornando-se a maior economia do mundo!

Claro que, por exemplo, também a Alemanha, a França e o Canadá falham completamente esta corrida, por não disporem dos factores decisivos para um crescimento real relevante: crescimento do emprego utilizando tecnologias avançadas, maior produtividade e progresso técnico e obtenção de elevados montantes de investimento directo estrangeiro.

Mas vamos lá fazer uma breve incursão no tempo até ao ano 2050 e já voltamos. Não é ficção científica, é tão-somente tentar antecipar a realidade, económica e sociológica. E, que diabo, também não falta assim tanto tempo como isso!

Preparem-se e façam por aguentar firme, pois as próximas cenas podem ser demasiado realistas e cruas para pessoas mais sensíveis. É o futuro em toda a sua plenitude que vai perpassar em frente dos nossos olhos, no ano 2050.

Vamos encontrar os EUA com uma grande maioria da sua população de origem não anglo-saxónica, onde avultará a comunidade de raiz hispânica, com grande taxa de natalidade. É verdadeiramente o que se pode chamar um outro Novo Mundo, em que os EUA irão perdendo posição relativa para os BRIC´s, sem contudo deixarem de ser a economia onde o rendimento per capita é o mais elevado e com uma subida sustentada ao longo dos anos.

Graças a taxas reais de crescimento médias superiores no longo prazo (entre 5% e 7%), a China e a Índia poderão ultrapassar, respectivamente, o PIB dos EUA (em 2041) e o do Japão (2032). É de notar que se prevê que os EUA cresçam a uma taxa real média de 2% ao ano até 2050.

Especialmente por motivos de diferença sensível nas taxas de natalidade, a actual União Europeia deixará de ter mais 90 milhões de habitantes do que os EUA, como agora acontece, para passar a ter menos 50 milhões, em 2050. Uma nota para referir que a imigração não permitirá solucionar problemas da Europa em termos de escassez de mão-de-obra e desenvolvimento, atendendo a que os imigrantes tendem a ter poucos filhos no seu novo país, especialmente na 1ª. geração.

Neste quadro, a União Europeia como um todo, supondo que se mantém a sua unidade política, fica com uma dimensão económica muito inferior, representando em 2050, somente 27% da China, 33% dos EUA e 40% da Índia. De qualquer modo, considerada como se fosse um País, seria à vontade a 4ª. economia do mundo, a seguir a estes três países.

Um aspecto que necessita ser realçado é o facto de as maiores economias do mundo (pelo PIB) deixarem de ser, na maioria dos casos, as mais ricas (pelo rendimento per capita).

O estudo recente da Goldman Sachs, em que me estou principalmente a basear, é tecnicamente bastante credível. No entanto, existem determinados pressupostos chave cuja alteração poderá implicar uma modificação substancial no quadro de situação para as próximas décadas.

Mas se os pressupostos se materializarem teremos a seguinte ordenação dos principais países, em termos de PIB e de Rendimento per capita, em 2050:

PIB (em biliões de USD) PIB per Capita (em USD)

1 – China 44.453 1 – E.U.A. 83.710
2 – E.U.A. 35.165 2 - Japão 66.805
3 - Índia 27.803 3 – Grã-Bretanha 59.122
4 – Japão 6.673 4 – França 51.594
5 – Brasil 6.074 5 – Rússia 49.646
6 – Rússia 5.870 6 – Alemanha 48.952
7 – Grã-Bretanha 3.782 7 – Itália 40.901
8 – Alemanha 3.603 8 – China 31.357


E, perguntarão, qual o papel de Portugal no meio desta dinâmica toda? Ora essa, nós pertencemos à União Europeia, as coisas têm que ser vistas no conjunto desta, como um todo. Ah! Não pode ser?! Não é cientificamente correcto porque somos um país soberano? Pronto, está bem, então vamos lá analisar isso rapidamente.

Pelas minhas contas, no ano 2050, a União Europeia já deve contar, pelo menos, com 33 países. Isto, depois da entrada dos novos 10 membros em Maio de 2004, da Roménia e Bulgária em 2007, logo a seguir da Croácia e, alguns anos depois, do conjunto formado pela Turquia, Sérvia-Montenegro, Bósnia-Herzegovina, Macedónia e Albânia. Embora discutível, deixo de fora a Suíça, Noruega e Islândia, pelo desinteresse até agora manifestado, e a Ucrânia, Bielorrússia e Moldova, por falta de contactos nesse sentido e pela complexidade das eventuais negociações, que teriam de envolver a Rússia.

Está-se mesmo a ver que o objectivo de Portugal será sempre qualquer coisa do estilo, apanhar o pelotão da frente (nessa altura mais alargado) ou sermos um dos melhores dos pequenos países do sul da Europa.

Claro que se alguém quiser fazer aos países da EU alargada, um estudo semelhante ao dos BRIC´s, dá-me a impressão que as surpresas também serão muitas e talvez não muito agradáveis para nós.

Um abraço

Comentador