Retirado de
www.onbolsa.com
Visto que agora, em Portugal, é tudo «então é assim», e não há pessoa ou bicho que não use a maldita expressão, posta em moda vá-se lá a saber por quem, no Big Brother, nos Acorrentados, ou no Master Plan, alinhemos no magote.
Então é assim:
A bolsa nacional está, agora sim, moribunda, melhor está já mais morta que viva.
Está, como dizia um amigo meu, às portas da morte e parece dizer:
- É pá. Se me vejo morta nem acredito.
Já há uns meses atrás o Dr. António Borges soltou o aviso; depois veio o Dr. Balsemão dizer que se estava «borrifando» para o comportamento das acções da sua Impresa, quando a cotação destas estava a preço de saldo e não sei quantas vezes abaixo do preço da respectiva IPO; depois ainda veio o Eng. Belmiro dizer, à sua maneira, que lhe interessava nada a Bolsa de Lisboa e o mercado de capitais deste nosso querido país; depois ainda veio, ainda há poucos dias, o Eng. Jardim Gonçalves dizer que Portugal já não era atractivo e se tinha que mexer no sistema fiscal.
Por fim, o poder mudou de mãos em Portugal, e eis que até o déficit público é agora reconhecidamente escandaloso e há que suspender tudo e todos os investimentos até ver.
Ora, como sem investimento público, as obras param, os investimentos param, e o país pára, como raio querem que a bolsa não pare?
Não é a expectativa o fluxo sanguíneo de uma Bolsa?
Não é a expectativa de lucro que faz esta viver?
Não é a perspectiva de desenvolvimento, que faz na Bolsa antecipar a especulação e renascer o interesse?
Será que num país onde a própria Ministra das Finanças diz que a confirmarem-se os receios de tamanho déficit , a situação é «fatal», pode subsistir uma Bolsa? Isto é, um mercado, onde o produto que se vende e compra é apenas uma expectativa de melhores dias, para empresas e cidadãos?
Então é assim: não pode.
Ela, a pobre Bolsa de Lisboa, agora Euronext Lisboa, já pouco tinha para oferecer; agora que lhe resta?
Então é assim: nada.
A principal indústria deste país é o Turismo.
Então é assim: quantas empresas estão cotadas neste ramo? Nenhuma.
Mas também temos a agricultura.
Quantas estão cotadas de entre as empresas que se dedicam a tão nobre actividade? Nenhuma.
Mas produzimos vinho.
Pois sim; mas está a Sogrape cotada? Está a JP? Está o Esporão? A Noval? A Ferreirinha? A Dª. Antónia? A Raposeira? O Licor Beirão?
Então e café?
Onde está a Delta e o Nabeiro?
E a água?
Água temos. Mas onde pára a Luso? E a Vimeiro? E a Castelo? E a Fastio?
Mas temos indústria.
Temos?
E quantas cotadas? Duas!!!
Temos duas cimenteiras, cujo volume de transacções quanto é? 100.000 euros por dia?
Pescas? Zero.
Construção naval? Mesmo que só traineiras, chatas...zero.
Construção? Zero.
Siderurgia? Um enorme ZERO.
Indústrias ligadas ao ambiente? Onde estão? Zero.
Componentes automóveis? Zero.
Aeronáuticas? Zero.
Defesa? Zero.
Petrolífera? Zero.
Cervejeiras? Zero.
Têxteis? Zero.
Cabos eléctricos, fibra óptica, cabos submarinos, elevadores, electrodomésticos, máquinas de costura, frigoríficos, fornos, microondas, aspiradores, máquinas de lavar louça, de lavar roupa, roupa, ar condicionado, telefones, telemóveis, máquinas de calcular, computadores, software, preservativos, roupa, sapatos, cuecas, meias, máscaras de carnaval, copos e garrafas, livros, gravuras, fotografias, relógios, despertadores, miniaturas, imitações, carteiras, malas, porta moedas, aparelhos de televisão, rádios, óculos, binóculos, telescópios, lentes, tripés, ...zero, zero, zero...
Mandem-me mais para a lista... que me vai faltando a memória.
Temos bancos... temos.
Temos três cotados e mais duas banquetas, e mesmo assim, com estatutos blindados.
Seguradoras? Tínhamos, mas já não temos.
Factoring? Oops. Já não temos.
Gestoras? Nada.
Distribuição...ah! Temos duas. Até ver.
E dizem-me agora alguns: - mas temos 20 no PSI.
Pois temos. Mas vão lá vê-las e depois falamos.
Temos a EDP, a Brisa, a PT e a filha, a Telecel, a Sonae.com, a Portucel, até ver, e ainda temos a Novabase, a Pararede, e a SAG...mas, não brinquem comigo.
Então é assim: Esta bolsa não existe.
Já existiu, e o actual Ministro da Educação até escreveu um maravilhoso livro sobre a sua história, mas dela pouco ou nada resta.
Existe o Presidente da dita, o edifício, o sistema informático, os corretores, os operadores, a CMVM; existem os comentadores, os analistas, os índices, mas a bolsa não existe.
Quando se visita uma corretora estão lá os aparelhos, os Bloombergs, os Metastocks, os telefones, mas são a fingir. Nos ecrãs, estão as cotações, os volumes, os valores que mais sobem e os que mais descem, mas são a fingir.
Os volumes sempre me intrigaram, mas percebo agora. Não que sejam grandes, pois os vinte milhões de contos de média por sessão são cerca de um quinto do que faz só a Telefónica espanhola num dia, mas sempre são alguma coisa, e agora percebo. São afinal dois ou três milhões, sempre os mesmos, a rodarem num frenesim de roda de roleta que pára às 16 e 30 de cada dia no 9 encarnado ou no 17 preto para apurar o sortudo do dia.
Os que perdem na sessão de hoje, lançam-se precipitadamente nas mãos do primeiro agiota que lhes facilite mais alguma massa para a sonhada recuperação do amanhã.
Existem mesmo alguns produtos financeiros como os warrants, os futuros, etc., que permitem aos mais desesperados o tudo por tudo já amanhã, mas, também eles, são a fingir.
Lembram-se de um artigo que aqui deixei, com o título «Mas afinal o que é a Bolsa?». Pois segundo esse critério, o que temos não é uma bolsa. É um Casino.
Ah! Esquecia-me de uma coisa. Sempre quero ver o que vai acontecer quando alguém se lembrar de auditar as contas «auditadas» das cotadas... tipo Enron ou BBVA. Estão a ver o que quero dizer, não estão?