Bom dia (também sou louco ao ponto de andar aqui aos Domingos

)
Mas agora vou lançar aqui uma verdadeira heresia. A seguir podem bater-me à vontade:
O problema português não é diferente do problema Americano, ou Alemão, etc... a diferença está na dimensão.
Um país com fraco crescimento real. Um país que estava subdesenvolvido, mas que aproveitou (mais ou menos ou mal) uma grande alteração estrutural para corrigir os atrasos estruturais.
Mas com a integração plena num mundo aberto e cheio de possibilidades, veio ao de cima a máxima da canção de Sérgio Godinho: "só se pode querer tudo quando nunca se teve nada".
E assim foi. Ajudados por significativas verbas, os Governos começaram a investir. Isso deu uma sacudidela na malemolência económica, gerando novos empregos, oportunidades e renda.
Também despertou a cobiça dos "espertos" como já se sabe.
Muito do que aconteçeu, deveu-se aos níveis interessantes de poupança que haviam, sobretudo do sector privado.
Só que, a quimera do enriquecimento, do glamour, da facilidade, até da vaidade, originaram várias ondas consumistas pouco condicentes com a renda real das populações. Isto só foi possível com a baixa de juros até níveis desfasados da realidade financeira.
O país da relativa poupança passou a ser o país da dívida absoluta, o que significa que para manter esse "status quo" foi necessário recorrer à poupança dos estrangeiros (mentalidade americana reina no mundo ocidental, lembrem-se disto).
A partir daí entrámos num ciclo de crescimento com base em crédito, muito mais do que em rendimento real.
Quando se fala em habitação própria, o endividamento tem justificação plena. Quando se fala em segunda habitação, ou de férias, se for improdutiva (casa fechada quase todo o ano) fala-se de uma má alocação de recursos que terá de ser reajustada algures no futuro.
Mas esse é o mal menor, porque ainda se trata de um item com valor em permanência.
O pior é o crédito ao consumo.
Aqui lanço a questão. Onde é que mais crédito acrescenta ao rendimento dos cidadãos? Simplesmente, não acrescenta e o aumento dos encargos financeiros totais de uma família acabam por subtrair à renda futura e ao crescimento.
A outra heresia é a questão do défice orçamental de 3% e o tal défice zero.
Porque é que se utiliza contabilidade criativa e receitas ditas extraordinárias para manter o défice a esses níveis?
Qual a política para corte de despesas correntes em excesso, esse verdadeiro cancro das contas de qualquer Estado? Não interessa o tamanho do défice, mas sim como ele se originou?
Se um país não cresce, por isso, não tem receitas para financiar o défice, deve aceitar-se o défice, como a Alemanha já chegou à conclusão, junto com a França.
O pior é quando um país está em pleno vapor e não consegue, utilizando o aumento das receitas, diminuir o seu défice, significando que se mantém o exagero das despesas correntes.
E depois, porquê um défice zero?
Que cabeça iluminada inventou esse conceito, ignorando a necessidade de reformar no espaço de uma geração os verdadeiros problemas que originam os défices!?
Querem governar as Finanças por decreto !!
Um défice (pequeno) é sempre, mas sempre melhor do que um superavit, porque obriga a uma constante disciplina das contas públicas. Em caso de superavit, vem logo a tentação e o eleitoralismo próprios da classe política.
E mais !!! Qual é a despesa do serviço da dívida em % do PIB ?? Isso é o que conta !! Se for de 2,5% do PIB, por exemplo, basta que o défice total atinja mais ou menos o mesmo valor para que não haja necessidade de dívida nova, rolando-se apenas a existente. O que interessa hoje, com os actuais níveis de juros é um défice primário de zero, podendo o défice total ser de 1 a 2% não sendo necessários mais condicionantes. Com o passar dos anos, a dívida em % do PIB diminui, não sendo necessário sacrifícios adicionais como nos querem fazer crer, apenas disciplina do lado da despesa será o suficiente. Nem sequer quero comentar a falácia das receitas extra, pois isso só serve para adiar o inadiável - o corte em certas despesas.
Mas não adianta o Estado ser disciplinado, quando os cidadãos estão à deriva. Acostumados a um nível de vida acima das possibilidades, endividaram-se em demasia.
Hoje, temos a mania de falar dos Americanos, mas exceptuando uma minoria falida, a maioria deles só gasta 20% dos seus rendimentos nas mensalidades dos seus encargos financeiros totais.
Muito pior está o português que chega a gastar 30, 50 ou até 60% da sua renda mensal em encargos financeiros (casa, carro, cartões,etc).
Por isso, a recuperação económica portuguesa, a sério, jamais se dará sem um retorno à racionalidade económico e financeira, tendo de passar por vários períodos recessivos ao longo da década...
The party is over... there is no free lunch...
Um abraço a todos
djovarius