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MensagemEnviado: 28/10/2003 11:59
por Comentador
Meu Caro JAS,

Gostei desta troca de opiniões.

Afinal temos uma boa base de acordo. O meu “optimismo” em relação às multinacionais é que estraga tudo.

Talvez um dia possamos falar de novo sobre o investimento directo estrangeiro em Portugal.

Mas não vale a pena levar estas coisas demasiado a sério!

É que o mar turqueza suplica-me um pouco de atenção, a areia arde mas a brisa empurra-me, vou mergulhar e nadar até àquele barco onde me espera …

Bem, até mais ver
C.

Re: Respostas

MensagemEnviado: 28/10/2003 2:54
por JAS
Meu Caro Comentador,

Julgo que o meu texto não era assim tão discordante como isso...

Eu acredito que o Turismo em Portugal ainda tem campo para crescer quantitativa e qualitativamente mas não acredito que, por si só, possa constituir o motor milagroso que nos falta.
Aqui deveremos estar de acordo...

Comentador Escreveu:a nossa bitola não pode nem deve ser a de pequenos países de África com ilhas liliputianas.

Nem eu disse que era. Apenas fiz notar que havia países do mundo que, graças ao turismo, atingiram níveis de riqueza (o que não significa necessáriamente desenvolvimento...) bastante superiores a outros da mesma região.

Comentador Escreveu:Eu acho que se deve desenvolver o melhor possível o nosso turismo, mas que diabo, para ser o motor do desenvolvimento do país já tivemos várias décadas de experiência, em que as nossas regiões turísticas estão longe de ser desenvolvidas e nunca foram o motor de coisa nenhuma.

Essa de que nunca foram motor de coisa nenhuma não estou de acordo.
Se virmos bem há toda uma geração que aprendeu inglês com as inglesas em Albufeira...
E hoje, nas nossas regiões turísticas, qualquer vulgar cidadão já fala todas as linguas possíveis e imaginárias.
As últimas que estão agora na moda são o ucraniano, o russo e o moldavo...

Comentador Escreveu:Em relação à instalação em Portugal de indústrias de ponta, não vejo dificuldades exageradas. Já cá temos várias, algumas há bastante tempo, nota-se agora algum esforço de captação, mas falta um verdadeiro objectivo nacional nesse sentido. O que é pena, porque a economia do conhecimento é a única que nos pode dar mais valia para não deixar fugir a outra Europa.

Vejo que o amigo Comentador é um optimista. Parece-me impensavel que qualquer multinacional pense hoje em implantar seja o que for em Portugal. Na Europa a 25 haverá lugares bem melhores para o fazerem. Pelo menos com Leis laborais mais razoáveis e Incentivos Fiscais bem mais atractivos.
Antigamente ainda cá tinhamos delegações comerciais mas, com a facilidade de comunicações e com a rede de autoestradas, passámos a depender da Delegação em Espanha ou até de outra mais longe.
Não digo que não possa haver um ou outro caso pontual de sucesso mas, dada a sua raridade, não tornam possível que a indústria venha agora a ser o Motor do País.

Comentador Escreveu:E as fábricas tecnológicas, embora de capital intensivo, têm bastantes trabalhadores, só que privilegiando a massa cinzenta.

Discordo, acho que têm muito poucos trabalhadores. E grande parte serão do sector terciário afectos a Serviços.
Mas o problema é o mesmo. Porque haveriam de as instalar cá?

Portanto, meu Caro Comentador, eu continuo a pensar que continuaremos a ser simplesmente comerciantes. Venderemos o que os outros fabricam e venderemos o Sol a quem o não tem.

E eu, cá por mim, o que gosto mesmo é de ser turista.
E de preferência em países onde ainda não haja muitos...

JAS

Respostas

MensagemEnviado: 28/10/2003 1:31
por Comentador
Meu caros amigos,

Obrigado à Razão Pura e ao djovarius pelas considerações que fizeram.

Agradeço também bastante ao JAS, por ter discordado tão frontalmente do que eu escrevi, com um texto realmente bom. Parabéns. Claro que não concordo nada consigo e só tenho agora tempo de lhe dar uma resposta curta.

Em primeiro lugar, meu caro JAS, a nossa bitola não pode nem deve ser a de pequenos países de África com ilhas liliputianas. Mas gostei do seu bom humor.

Actualmente, em Portugal e à falta de melhor, volta-se a bater na tecla de que “o turismo constitui uma das nossas vocações óbvias”, mas acrescenta-se “que o actual modelo está esgotado, pelo que o turismo em Portugal precisa de ser reinventado” (transcrições do Expresso deste sábado, como vê não está sozinho!). Eu acho que se deve desenvolver o melhor possível o nosso turismo, mas que diabo, para ser o motor do desenvolvimento do país já tivemos várias décadas de experiência, em que as nossas regiões turísticas estão longe de ser desenvolvidas e nunca foram o motor de coisa nenhuma. Porquê?

Em relação à instalação em Portugal de indústrias de ponta, não vejo dificuldades exageradas. Já cá temos várias, algumas há bastante tempo, nota-se agora algum esforço de captação, mas falta um verdadeiro objectivo nacional nesse sentido. O que é pena, porque a economia do conhecimento é a única que nos pode dar mais valia para não deixar fugir a outra Europa.

E as fábricas tecnológicas, embora de capital intensivo, têm bastantes trabalhadores, só que privilegiando a massa cinzenta.

Bem, este é um tema controverso, sem dúvida!

E, claro, gostaria imenso de mais tomadas de posição.

Um abraço

Comentador

Re: A Quimera do Turismo

MensagemEnviado: 27/10/2003 1:15
por JAS
Comentador Escreveu:Se alongarmos a nossa vista pelo mundo e reflectirmos um pouco, poderemos chegar a algumas conclusões simples, que nos permitirão começar a ponderar, com outros olhos, a estratégia de desenvolvimento a definir para Portugal (...).

Meu Caro Comentador, o Turismo é um tema que me interessa por várias razões e as ilhas tropicais por razões mais obvias.
Por isso começo por lhe desejar a continuação de umas boas férias.

Ao longo da história, Portugal sempre teve uma Agricultura de subsistência e nada mais do que isso.
E em termos industriais não se pode dizer que tenhamos tido qualquer Industria de relevo mas apenas meras explorações de mão-de-obra barata.
Mas sempre fomos bons numa coisa que foi o Comércio e, mesmo com o advento das grandes superfícies, essa aptidão mantém-se.
Por isso vender o Sol parece-me uma boa opção para o País...

Hoje em dia pensar em indústrias de ponta em Portugal parece-me uma utopia. Quando as fábricas começam a ser quase automatizadas, quase sem mão-de-obra, elas podem ser implantadas em qualquer país do mundo e não me parece que uma Europa altamente preocupada com o Social (e consequentemente com impostos elevados) seja actrativa para esses investimentos. E fazer isso com a prata da casa também me parece impensavel enquanto os nossos investigadores viverem de bolsas de estudo e forem tão mal pagos.

Mas passemos ao Turismo como possível motor de desenvolvimento.
Nós temos Sol, temos um clima ameno quando comparado com a Europa do Norte, temos praias que têm areia coisa que abunda pouco nas Europa do Sul, temos boa comida, temos um custo de vida ainda barato (quando formos desenvolvidos deixamos de ter...), somos um povo afável e sem grande criminalidade.
Temos os ingredientes necessários.
Por estranho que pareça até já temos o País preparado para albergar o TRIPLO da nossa população...
(Vocês sabiam que somando as áreas afectas à construção que constam dos PDM's das diversas regiões do País estas são suficientes para alojar 30 milhões de habitantes?)
Temos bons hotéis e temos uma diversa gama de oferta embora algo concentrada em 2 ou 3 regiões.
Temos bons profissionais no sector mas, como em tudo, também temos outros muito maus.
Temos Invernos pouco rigorosos, que permitem que a ocupação não se reduza drásticamente fora da época balnear.

Mas se temos isso tudo o que nos falta para que o Turismo possa ser um verdadeiro motor de desenvolvimento?
Teremos que fomentar o investimento (e isso não significa que seja estrangeiro...) baixando os impostos.
Teremos que alterar umas estranhas leis laborais que não premeiam a produtividade e que acabam por fomentar a contratação de trabalhadores precários, de emigrantes ilegais (e até de "desempregados" a receberem o fundo de desemprego...). E que originam termos os Museus fechados aos Domingos e Feriados por ser muito caro pagar aos trabalhadores nesses dias.
Temos que incentivar um Artesanato, que temos e que é riquissimo, mas que actualmente constitui uma actividade pertencente à economia paralela. Formação, subsídios, etc, mas também impostos a taxa reduzida pois os artistas nunca tiveram feitio para preencher declarações de IRS complicadas...
Teremos que ter Segurança que é um factor importante nos tempos que correm. E não falo apenas em segurança à porta dos hotéis ou nos centros comerciais. Também há a segurança rodoviária, a segurança nos equipamentos, etc. Não podemos continuar a ter discotecas que não cumprem regulamentos de ruído. Não podemos permitir que se aluguem apartamentos com esquentadores nas casas de banho. Não podemos permitir que haja estabelecimentos abertos ao público e que nem sequer estão licenciados (por não cumprirem o Regulamento de Segurança Contra Incêndios...).
E teremos, também, que deixar de aparecer na revista Time.

Enfim já temos muita coisa mas ainda nos faltam uns acessórios. Será fundamental que nos despachemos a corrigir as faltas.
Convém fazê-lo antes que o Sol também seja espanhol.

Comentador Escreveu:Por exemplo, não existe nenhum país, em todo o planeta, que se tenha desenvolvido a sério pela acção determinante do turismo.

Aqui permito-me discordar. Há pequenos países que o conseguiram. As Seychelles têm o 2º maior rendimento per capita de África graças ao turismo. (O 1º não é África do Sul mas sim a pequena Maurícia graças ao turismo e a uma forte indústria textil em zona franca).
As Maldivas, onde o turismo começou há apenas 10 anos, estão no bom caminho. Aí falar em rede de estradas para tipificar o grau de desenvolvimento não faz sentido (as maiores ilhas têm pouco mais de 1km de comprimento...). Falar em Hospitais também não faz muito sentido pois as bactérias não são resistentes e não há stress por lá. Aeroportos há em abundância (fácil... os hidroaviões aterram em qulquer lagoa do interior dos atóis).

JAS

MensagemEnviado: 27/10/2003 0:21
por djovarius
Já agora, boa noite e mais uma referência ao que disse acima, a propósito de mais um excelente tema do nosso Comentador:

Apareceu agora há pouco o Rest. Tromba Rija de Leiria aqui no Fantástico da TV Globo (se alguém conhecer o dono pode dizer-lhe que já passou) numa reportagem bem "étnica" revelando assim mais um produto típico português: o Bacalhau com batatas a murro !!

Se nós conseguirmos mostrar ao mundo as nossas muitas pérolas, ainda podemos vencer como Povo !!

Um abraço
dj

MensagemEnviado: 26/10/2003 20:56
por djovarius
Muito bem !!

Isto dava pano para mangas !!

Mas Portugal precisa do Turismo, não como alavanca de nada, mas como mais uma bela actividade económica.
E está tão mal explorado ainda.
Mais qualidade, mais receitas para compensarem o desgaste dos recursos naturais por ele provocado !!
Ainda há muito para fazer no turismo !!

Depois, é aquilo que se sabe. Universidades ao serviço do mundo empresarial, mais formação útil e tecnologias limpas !! Menos Capital e mais Regiões !

Finalmente, recuperação de produtos e serviços típicos e tradicionais que têm mercado cá fora, tanto mais que o o nosso mundo adora "coisas étnicas". É de aproveitar !!

De resto, Portugal é pitoresco, os saudosistas dos anos sessenta adoram o país devido ao estilo das relações sociais. Muitos copos, petiscos, conversas de Café, discussões, tabaco até enjoar, etc, etc..

Enfim, pequeno mas grande !! :)

adeus
djovarius

Jamaica

MensagemEnviado: 26/10/2003 17:40
por Razao_Pura
Comentador,

Como sempre um belo texto/reflexão que apreciei ler.

Mas estou preocupada.... porque vejo que vais de férias e a tua cabeça continua a pensar como se estivesses no trabalho: taxas de rendimento, potencialidades económicoas, balanças de pagamento, blá blá blá...

Oh homem deixa lá isso e aproveita para mandar uma mergulhaças valentes nesse mar de cor impossível.

Just kidding... :lol:

A Quimera do Turismo

MensagemEnviado: 26/10/2003 11:48
por Comentador
Estar de férias na Jamaica!

Este é mesmo o sonho de muita gente, a esperança de visita a uma ilha de praias belas e tempo maravilhoso, de resorts de luxo e floresta tropical de muitos tons.

Um destino de revista, uma terra quente e hospitaleira, sob o som de música alegre e ritmo forte, ela é também uma fotografia viva com as cores da felicidade.

Ouvindo o gelo a vogar no copo longo de rum com cola, embalo-me no doce sussurro deste mar de cor impossível, no intenso prazer deste sol e desta brisa doce que me abriga.

Esta Jamaica, que vejo sob os olhos fascinados de turista, parece um lugar onde gostaria de ficar para sempre, numa vida distendida e calma, com um trabalho livre e ocasional, quando houvesse vontade.

Mas façamos um esforço de análise, abandonando as águas cálidas de Montego Bay. A Jamaica é um país que vive principalmente do turismo, embora tenha também boas produções de bauxite, alumínio e cana-de-açúcar. Estas fontes de rendimento são indispensáveis para a economia da ilha, que tem um défice comercial crescente, e que importa a maior parte das suas necessidades de consumo e de equipamento.

Trabalha, directa ou indirectamente no turismo, uma grande parte da população activa do país. Mesmo com bastantes unidades de luxo, constata-se facilmente que a esmagadora maioria dos trabalhadores do sector turístico efectua funções muito pouco qualificadas ou de reduzido valor acrescentado. Para além da extracção mineira e de um sector agrícola reduzido, os restantes sectores industriais e de serviços têm uma importância secundária.

Com este pequeno retrato, a que se junta uma taxa de desemprego a rondar os 15%, não é difícil aceitar que a Jamaica esteja bem dentro do terceiro mundo, apresentando um PIB per capita de cerca de 3.900 dólares anuais.

Se prestarmos atenção às condições da vida corrente, veremos que as estradas são más, há muitas falhas de electricidade e o sistema de saúde é insuficiente. Pior do que tudo, parece haver uma atitude passiva e de aversão à mudança.

Estamos assim perante um país que, tendo grandes potencialidades turísticas e vivendo há décadas praticamente dependente do desenvolvimento desse sector económico, só conseguiu atingir um nível de desenvolvimento que teremos de considerar muito modesto. Com efeito, com uma população de 2,9 milhões de pessoas, o seu PIB per capita, acima referido, é bastante baixo, mesmo quando comparado com outros pequenos países da América do Sul e Central, como por exemplo a Costa Rica (8.500 dólares de rendimento per capita) e o Uruguai (7.800 dólares).

Se alongarmos a nossa vista pelo mundo e reflectirmos um pouco, poderemos chegar a algumas conclusões simples, que nos permitirão começar a ponderar, com outros olhos, a estratégia de desenvolvimento a definir para Portugal, mais realistas e evitando análises abstractas que nos farão tropeçar como país por mais algumas dolorosas décadas. Por exemplo, não existe nenhum país, em todo o planeta, que se tenha desenvolvido a sério pela acção determinante do turismo. Por outro lado, poderemos também dizer que o turismo não é nunca um sector realmente decisivo em nenhum dos cerca de 40 países mais desenvolvidos.

E percebe-se porquê. Muitos dos projectos turísticos têm, por vezes, alguma dificuldade em conseguir um razoável retorno dos investimentos efectuados. Só uma pequena franja tem real capacidade de ter um efeito gerador de elevados rendimentos. Os grandes casinos, que pertencem a este último grupo e são até os que maiores rendimentos proporcionam, têm apesar disso um potencial de desenvolvimento limitado. E o nosso País até já está bem colocado nessa área, pelo que os outros 2 ou 3 novos casinos já planeados certamente esgotarão (ou ultrapassarão) as possibilidades da procura respectiva.

Está fora de causa negar a importância do turismo em Portugal, o qual deverá ser incrementado com investimentos cada vez de maior qualidade. O que tem de ser contestado frontalmente é a ideia que, no futuro, o turismo irá desempenhar o papel de motor do desenvolvimento económico português.

Uma discussão sobre este tema será fundamental para o nosso país, dado que está a ser falada, a vários níveis, a escolha do turismo como objectivo principal da nossa estratégia de desenvolvimento.

Um abraço

Comentador