Hoje temos visitas (Diálogos Virtuais c/ A. Peres Metello)
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Hoje temos visitas (Diálogos Virtuais c/ A. Peres Metello)
Pensando ser boa altura para o Caldeirão se tornar mais interveniente, resolvi “convidar” um economista conhecido para uma viva troca de opiniões. Espero que esta iniciativa possa continuar no futuro com outras individualidades, permitindo juntar dois mundos, o real e o virtual, que andam ainda bastante afastados.
COMENTADOR (C) – Meu caro António, diga-me o que pensa do actual ambiente económico no nosso País e das perspectivas de evolução?
ANTÓNIO PERES METELLO (APM) – O país está em recessão e existe muita falta de confiança por parte dos agentes económicos. Assim, tudo fica mais complicado e a recuperação económica mais difícil, ao contrário do que o governo pretende.
C – Mas, aprofundemos este assunto: no início deste governo, cometeu-se o erro de transformar uma situação difícil, sob o aspecto económico e especialmente financeiro, numa obsessão para que todos entendêssemos que estávamos mal. Eu e você já percebemos, toda a gente também já está farta de o saber. Agora, na fase em que estamos, vamos fazer tudo para o País andar para a frente e como o Estado não está em situação de liderar o investimento produtivo, vamo-nos deixar de lamúrias e deixar trabalhar as empresas privadas e os sectores mais dinâmicos do Estado. Não está de acordo?
APM – Em termos psicológicos nós já não estaremos completamente em baixo, nos meses de Verão parece-me ter havido alguma melhoria. Eu próprio, sempre que posso, vou perguntando às pessoas, nos locais onde faço compras, opiniões sobre preços e rendimentos, e até posso testemunhar que as coisas poderão estar mais positivas. Agora, vamos ver, a situação real qual é? Já batemos no fundo ou ainda estamos numa fase de descida? É isso que é importante, pois se for o 2º. caso a retoma vai demorar e as coisas podem-se complicar.
C – Concretamente, o nosso País está em recessão, mas penso que poderemos ir provocando ou preparando a retoma desde que haja um objectivo nacional voltado para o investimento produtivo, interno e externo, e para a competitividade das empresas. E deixemos a Drª. Ferreira Leite a conter o défice que é outro aspecto fundamental.
APM – Pois aí é que está. O cumprimento do défice é fictício, será obtido unicamente com receitas extraordinárias provenientes de alienação de património do Estado e outros artifícios, que nunca mais se poderão repetir, deixando na mesma os desequilíbrios estruturais do Orçamento.
C – APM, não vamos estar a bater nas mesmas teclas, que não levam a lado nenhum, permitindo somente discussões infindáveis e estéreis. Sei que está de acordo comigo nisto: em Portugal há muito que trabalhar para que a produtividade e a rentabilidade das empresas se possam aproximar dos padrões normais em países mais desenvolvidos. E sobre o défice, o que é importante é que ele seja contido, deixe lá a Drª. Manuela vender uns “pechisbeques” para chegar aos 2,94%, e não se importe com este número. Assim está óptimo, que mais quer você? Temos o maior défice possível, sem contudo atingir os 3%.
APM – Mas vamos ver se ela consegue. Como lhe disse, não sabemos se estamos a bater no fundo ou não e pode acontecer que as receitas não permitam encolher para os 3%.
C- Ouça APM, assim não vamos a lado nenhum. Deixe lá a Ministra fazer o trabalho dela, aquilo são favas contadas, é só obrigar os políticos a gastar o que ela quer que eles gastem e está o assunto resolvido. E você veja uma coisa: Portugal não é como a Alemanha ou a França, estes podem gastar o que quiserem para sair da crise, podem ter défices de 4% do PIB ou mais, que depois quando for preciso têm poder económico para inflectir a situação. Além, obviamente do poder político para fazer as coisas desse modo. Agora, Portugal? Nós, como bons portugueses que somos, “sabemos o que a casa gasta”. Se isto não for agora metido nos eixos nunca mais é!
APM – Mas veja o que está a acontecer com as Universidades, que estão completamente de tanga. Não têm já dinheiro até ao fim deste ano, o orçamentado já está completamente gasto. E agora?
C – Mas não de todo, você alguma vez viu as Universidades a parar? Está-se mesmo a ver que, mais semana menos semana há uma transferência financeira inter-ministérios, qualquer solução será encontrada. Você sabe que vai ser assim, de modo que eu proponho que nos preocupemos com os problemas reais e não com folhetins. Vamos é falar de pôr o País a mexer. Olhe, a API (que está a fazer um trabalho razoável) tem de fazer mais e melhor e muita gente podia estar a trabalhar no mesmo sentido.
APM – Pois é. Só que aqui entra a capacidade de o actual governo imprimir as bases sólidas para essa arrancada. Ora quer-me parecer que talvez as coisas, embora com alguns sinais positivos, estejam a andar demasiado lentamente. Por exemplo, os funcionários públicos vão apanhar pela medida grande, vendo o seu nível de vida baixar de novo. Assim, como é que podem ter algum incentivo?
C- Que eu saiba não há despedimentos na função pública, para além das normais reformas antecipadas e da dispensa de pessoal contratado a prazo sem vínculo permanente ao Estado. Não quero fazer demagogia, mas se o Estado fosse um conjunto de empresas privadas haveria certamente despedimentos colectivos em série, não está de acordo?
APM – Eu queria referir-me ao aumento de vencimentos da função pública que irão ser bem menores do que os Sindicatos pretendem, e inferiores à nossa inflação, portanto, perdendo consequentemente poder de compra.
C – Eu só entendo o que você diz como uma constatação teórica, sem aplicação aos tempos que estamos a viver. Repare, em recessão como estamos agora, era impossível que isso não acontecesse. E os funcionário públicos estão em muito melhor situação do que os trabalhadores de muitos sectores privados. Ouça uma coisa, não será muito pior que os sectores com menos know-how, como por exemplo os têxteis e o calçado, tenham uma viabilidade duvidosa, podendo só resistir a prazo alguns nichos e as empresas que se possam deslocalizar em face da sua maior dimensão. Está a ver o desemprego que esta situação pode causar no futuro, se não houver investimentos alternativos ou de melhor dimensionamento?
APM – Bom, isso é uma boa pergunta, mas tudo isso tem de ser muito bem pensado. Mas para investirem, as empresas terão de sentir primeiro um clima mais favorável, depois aumentará o consumo privado e os gastos públicos e só bastante tempo depois as empresas ponderarão se é preciso contratar mais pessoal. Além disso, Portugal vai sentir a verdadeira retoma com bastante atraso em relação aos países mais desenvolvidos, ou seja, muito depois dos EUA, que vão mais adiantados e 2 ou 3 trimestres depois dos principais países europeus.
C – Meu caro António, o que você acabou de dizer, é repetido até à exaustão sempre que se fala no assunto. Nada disso é linear, Portugal terá sempre a possibilidade de influenciar o futuro, basta fazer por isso!
APM – Mas olhe, meu caro Comentador, vai ver se não tenho razão!
Nota
Às visitas deixa-se a última palavra, é uma questão de boa educação.
Não conheço pessoalmente António Peres Metello. No entanto, atendendo às diferenças de opinião que tenho com ele sobre várias matérias, tomei a liberdade de encenar este diálogo imaginário, com o objectivo de levantar determinadas questões que possam merecer o interesse deste Fórum. Sempre com a devida consideração pela sua pessoa, as “respostas” de APM foram aqui introduzidas de forma muito livre e tentam dar somente uma ideia sobre partes da sua intervenção na passada 5ª. feira na TVI.
Um abraço
Comentador
COMENTADOR (C) – Meu caro António, diga-me o que pensa do actual ambiente económico no nosso País e das perspectivas de evolução?
ANTÓNIO PERES METELLO (APM) – O país está em recessão e existe muita falta de confiança por parte dos agentes económicos. Assim, tudo fica mais complicado e a recuperação económica mais difícil, ao contrário do que o governo pretende.
C – Mas, aprofundemos este assunto: no início deste governo, cometeu-se o erro de transformar uma situação difícil, sob o aspecto económico e especialmente financeiro, numa obsessão para que todos entendêssemos que estávamos mal. Eu e você já percebemos, toda a gente também já está farta de o saber. Agora, na fase em que estamos, vamos fazer tudo para o País andar para a frente e como o Estado não está em situação de liderar o investimento produtivo, vamo-nos deixar de lamúrias e deixar trabalhar as empresas privadas e os sectores mais dinâmicos do Estado. Não está de acordo?
APM – Em termos psicológicos nós já não estaremos completamente em baixo, nos meses de Verão parece-me ter havido alguma melhoria. Eu próprio, sempre que posso, vou perguntando às pessoas, nos locais onde faço compras, opiniões sobre preços e rendimentos, e até posso testemunhar que as coisas poderão estar mais positivas. Agora, vamos ver, a situação real qual é? Já batemos no fundo ou ainda estamos numa fase de descida? É isso que é importante, pois se for o 2º. caso a retoma vai demorar e as coisas podem-se complicar.
C – Concretamente, o nosso País está em recessão, mas penso que poderemos ir provocando ou preparando a retoma desde que haja um objectivo nacional voltado para o investimento produtivo, interno e externo, e para a competitividade das empresas. E deixemos a Drª. Ferreira Leite a conter o défice que é outro aspecto fundamental.
APM – Pois aí é que está. O cumprimento do défice é fictício, será obtido unicamente com receitas extraordinárias provenientes de alienação de património do Estado e outros artifícios, que nunca mais se poderão repetir, deixando na mesma os desequilíbrios estruturais do Orçamento.
C – APM, não vamos estar a bater nas mesmas teclas, que não levam a lado nenhum, permitindo somente discussões infindáveis e estéreis. Sei que está de acordo comigo nisto: em Portugal há muito que trabalhar para que a produtividade e a rentabilidade das empresas se possam aproximar dos padrões normais em países mais desenvolvidos. E sobre o défice, o que é importante é que ele seja contido, deixe lá a Drª. Manuela vender uns “pechisbeques” para chegar aos 2,94%, e não se importe com este número. Assim está óptimo, que mais quer você? Temos o maior défice possível, sem contudo atingir os 3%.
APM – Mas vamos ver se ela consegue. Como lhe disse, não sabemos se estamos a bater no fundo ou não e pode acontecer que as receitas não permitam encolher para os 3%.
C- Ouça APM, assim não vamos a lado nenhum. Deixe lá a Ministra fazer o trabalho dela, aquilo são favas contadas, é só obrigar os políticos a gastar o que ela quer que eles gastem e está o assunto resolvido. E você veja uma coisa: Portugal não é como a Alemanha ou a França, estes podem gastar o que quiserem para sair da crise, podem ter défices de 4% do PIB ou mais, que depois quando for preciso têm poder económico para inflectir a situação. Além, obviamente do poder político para fazer as coisas desse modo. Agora, Portugal? Nós, como bons portugueses que somos, “sabemos o que a casa gasta”. Se isto não for agora metido nos eixos nunca mais é!
APM – Mas veja o que está a acontecer com as Universidades, que estão completamente de tanga. Não têm já dinheiro até ao fim deste ano, o orçamentado já está completamente gasto. E agora?
C – Mas não de todo, você alguma vez viu as Universidades a parar? Está-se mesmo a ver que, mais semana menos semana há uma transferência financeira inter-ministérios, qualquer solução será encontrada. Você sabe que vai ser assim, de modo que eu proponho que nos preocupemos com os problemas reais e não com folhetins. Vamos é falar de pôr o País a mexer. Olhe, a API (que está a fazer um trabalho razoável) tem de fazer mais e melhor e muita gente podia estar a trabalhar no mesmo sentido.
APM – Pois é. Só que aqui entra a capacidade de o actual governo imprimir as bases sólidas para essa arrancada. Ora quer-me parecer que talvez as coisas, embora com alguns sinais positivos, estejam a andar demasiado lentamente. Por exemplo, os funcionários públicos vão apanhar pela medida grande, vendo o seu nível de vida baixar de novo. Assim, como é que podem ter algum incentivo?
C- Que eu saiba não há despedimentos na função pública, para além das normais reformas antecipadas e da dispensa de pessoal contratado a prazo sem vínculo permanente ao Estado. Não quero fazer demagogia, mas se o Estado fosse um conjunto de empresas privadas haveria certamente despedimentos colectivos em série, não está de acordo?
APM – Eu queria referir-me ao aumento de vencimentos da função pública que irão ser bem menores do que os Sindicatos pretendem, e inferiores à nossa inflação, portanto, perdendo consequentemente poder de compra.
C – Eu só entendo o que você diz como uma constatação teórica, sem aplicação aos tempos que estamos a viver. Repare, em recessão como estamos agora, era impossível que isso não acontecesse. E os funcionário públicos estão em muito melhor situação do que os trabalhadores de muitos sectores privados. Ouça uma coisa, não será muito pior que os sectores com menos know-how, como por exemplo os têxteis e o calçado, tenham uma viabilidade duvidosa, podendo só resistir a prazo alguns nichos e as empresas que se possam deslocalizar em face da sua maior dimensão. Está a ver o desemprego que esta situação pode causar no futuro, se não houver investimentos alternativos ou de melhor dimensionamento?
APM – Bom, isso é uma boa pergunta, mas tudo isso tem de ser muito bem pensado. Mas para investirem, as empresas terão de sentir primeiro um clima mais favorável, depois aumentará o consumo privado e os gastos públicos e só bastante tempo depois as empresas ponderarão se é preciso contratar mais pessoal. Além disso, Portugal vai sentir a verdadeira retoma com bastante atraso em relação aos países mais desenvolvidos, ou seja, muito depois dos EUA, que vão mais adiantados e 2 ou 3 trimestres depois dos principais países europeus.
C – Meu caro António, o que você acabou de dizer, é repetido até à exaustão sempre que se fala no assunto. Nada disso é linear, Portugal terá sempre a possibilidade de influenciar o futuro, basta fazer por isso!
APM – Mas olhe, meu caro Comentador, vai ver se não tenho razão!
Nota
Às visitas deixa-se a última palavra, é uma questão de boa educação.
Não conheço pessoalmente António Peres Metello. No entanto, atendendo às diferenças de opinião que tenho com ele sobre várias matérias, tomei a liberdade de encenar este diálogo imaginário, com o objectivo de levantar determinadas questões que possam merecer o interesse deste Fórum. Sempre com a devida consideração pela sua pessoa, as “respostas” de APM foram aqui introduzidas de forma muito livre e tentam dar somente uma ideia sobre partes da sua intervenção na passada 5ª. feira na TVI.
Um abraço
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