
Caro João Vaz,
Uma pequena ajuda.
Conheço bem Moçambique e a realidade moçambicana. A notícia aqui divulgada não traz nada de novo à novela expatriados/nacionais. Do Rovuma ao Maputo, it's the same old story. A guerra do costume. Os nacionais querem ganhar o mesmo que os estrangeiros "porque fazem exactamente a mesma coisa". É assim com quem já lá está há muito tempo e com quem acabou de chegar. Dois episódios que ilustrarão bem esta situação:
1. Mozal (nos arredores de Maputo)
Um dos maiores (senão o maior) investimentos directos estrangeiros em Moçambique desde a sua independência. Milhares de postos de trabalho criados. Investidores japoneses, americanos, britânicos e sul-africanos, se não estou em erro. Produção de alumínio para exportação. Algum tempo depois da inauguração: greves.
2. Auto-estrada Maputo-Ressano Garcia (p/Witbank)
Fundamental para a circulação de pessoas e bens com a África do Sul e acesso do Hinterland sul-africano a um porto mais próximo do que Durban ou qq outro da RAS. Perto do fim da obra grande contestação do pessoal porque ia ficar sem emprego e apresentaram umas reivindicações malucas.
Caso de Cahora Bassa (Província de Tete entre o Malawi, Zimbabwe e Zâmbia): caso sempre bicudo. Zimbabwe caloteiro, Eskom a querer comprar ao preço da chuva levando a arbitragens internacionais e, finalmente, a discussão de há já alguns anos entre os Estados português e moçambicano. A dívida mencionada na notícia não pode estar certa. Quando muito serão $2.5 billion e não million...
O interesse português no empreendimento não será mais do que recuperar o que já lá meteu. Isto porque apesar do grande potencial, os mercados potenciais passam por crises económicas delicadas com particular destaque para o Zimbabwe. Aliado a isto a questão do gás natural para produção de energia, com particular relevância no caso sul-africano. Finalmente a situação da rede de distribuição energética em Moçambique que é extremamente deficiente. Um dos hobbies da guerrilha era precisamente dinamitar as torres de alta tensão pelo que a recuperação de toda a infraestrutura implica avultados investimentos.
A grande maioria do país não recebia energia a partir de Cahora Bassa. A título de exemplo, a cidade de Quelimane, Província da Zambézia, apenas começou a receber energia proveninente de Cahora Bassa no ano de 1999 ou 2000 se a memória não me falha. A alternativa mais corrente é a produção de energia para as cidades (capitais provinciais) recorrendo a centrais térmica velhas ou do tempo colonial ou instaladas pelos soviéticos ou afins.
Inclusivamente, e tanto quanto me lembro, a cidade de Maputo recebia energia proveniente da Eskom (RAS) ou através da produção via central térmica (apesar de não me lembrar de ver lá nenhuma).
A EDM-Electricidade de Moçambique ainda não foi privatizada. É um elefante branco.
Quanto a Angola, desconheço por completo ainda a realidade já que ainda estou verde por aqui. Posso contudo adiantar que uma boa parte das barragens foi destruída durante a guerra, em particular aquando da invasão sul-africana e do famoso Batalhão Búfalo. A grande maioria da produção energética terá origem em centrais térmicas. A EDEL-Empresa de Distribuição de Electricidade ainda é estatal.
É o que se pode arranjar.
Um abraço,
MozHawk
Uma pequena ajuda.
Conheço bem Moçambique e a realidade moçambicana. A notícia aqui divulgada não traz nada de novo à novela expatriados/nacionais. Do Rovuma ao Maputo, it's the same old story. A guerra do costume. Os nacionais querem ganhar o mesmo que os estrangeiros "porque fazem exactamente a mesma coisa". É assim com quem já lá está há muito tempo e com quem acabou de chegar. Dois episódios que ilustrarão bem esta situação:
1. Mozal (nos arredores de Maputo)
Um dos maiores (senão o maior) investimentos directos estrangeiros em Moçambique desde a sua independência. Milhares de postos de trabalho criados. Investidores japoneses, americanos, britânicos e sul-africanos, se não estou em erro. Produção de alumínio para exportação. Algum tempo depois da inauguração: greves.
2. Auto-estrada Maputo-Ressano Garcia (p/Witbank)
Fundamental para a circulação de pessoas e bens com a África do Sul e acesso do Hinterland sul-africano a um porto mais próximo do que Durban ou qq outro da RAS. Perto do fim da obra grande contestação do pessoal porque ia ficar sem emprego e apresentaram umas reivindicações malucas.
Caso de Cahora Bassa (Província de Tete entre o Malawi, Zimbabwe e Zâmbia): caso sempre bicudo. Zimbabwe caloteiro, Eskom a querer comprar ao preço da chuva levando a arbitragens internacionais e, finalmente, a discussão de há já alguns anos entre os Estados português e moçambicano. A dívida mencionada na notícia não pode estar certa. Quando muito serão $2.5 billion e não million...
O interesse português no empreendimento não será mais do que recuperar o que já lá meteu. Isto porque apesar do grande potencial, os mercados potenciais passam por crises económicas delicadas com particular destaque para o Zimbabwe. Aliado a isto a questão do gás natural para produção de energia, com particular relevância no caso sul-africano. Finalmente a situação da rede de distribuição energética em Moçambique que é extremamente deficiente. Um dos hobbies da guerrilha era precisamente dinamitar as torres de alta tensão pelo que a recuperação de toda a infraestrutura implica avultados investimentos.
A grande maioria do país não recebia energia a partir de Cahora Bassa. A título de exemplo, a cidade de Quelimane, Província da Zambézia, apenas começou a receber energia proveninente de Cahora Bassa no ano de 1999 ou 2000 se a memória não me falha. A alternativa mais corrente é a produção de energia para as cidades (capitais provinciais) recorrendo a centrais térmica velhas ou do tempo colonial ou instaladas pelos soviéticos ou afins.
Inclusivamente, e tanto quanto me lembro, a cidade de Maputo recebia energia proveniente da Eskom (RAS) ou através da produção via central térmica (apesar de não me lembrar de ver lá nenhuma).
A EDM-Electricidade de Moçambique ainda não foi privatizada. É um elefante branco.
Quanto a Angola, desconheço por completo ainda a realidade já que ainda estou verde por aqui. Posso contudo adiantar que uma boa parte das barragens foi destruída durante a guerra, em particular aquando da invasão sul-africana e do famoso Batalhão Búfalo. A grande maioria da produção energética terá origem em centrais térmicas. A EDEL-Empresa de Distribuição de Electricidade ainda é estatal.
É o que se pode arranjar.
Um abraço,
MozHawk