Muito se fala neste tema, mas confesso o meu espanto em o ver continuamente assim focado.
Ou seja, quais são, afinal, os limites ou a fronteira para se considerar que determinado transação feita por alguém com interesses numa empresa é ou não crime de inside trading?
Pessoalmente, e tal como os factos acima estão descritos, NÃO vejo nada de especialmente censurável no comportamento dos visados. É óbvio que tinham conhecimento de algo que não era ainda do domínio público e, com base nisso, foram acumulando acções sabendo seguramente que as mesmas iriam valorizar-se bastante. Creio que é este conhecimento privilegiado que está na base das acusações de que ambos são alvo.
Ainda assim, repito que me custa a admitir que isso possa ser motivo de tanta indignação, que me soa mais a pura e simples inveja do que a outra coisa, ou seja, sentimento de justiça. Afinal, compraram e venderam acções no mercado aberto como qualquer um de nós, certo? E há sempre quem saiba as notícias antes de elas saírem a público, é evidente!
Ou seja, existe algum intervalo temporal a partir do qual a aquisição de acções pelos insiders não é considerada ilegal?! Nos EUA, tais movimentos de compra e venda dos insiders têm que ser comunicados obrigatoriamente à SEC, creio, e o público em geral pode ter conhecimento deles passado alguns dias. Por exemplo, eu dou grande valor a este tipo de informação, sobretudo em acções do sector tecnológico fortemente desvalorizadas, mas cujos quadros superiores acumulam maciçamente centenas de milhares de acções. Por certo, isso quer dizer algo. Bem, pelo menos acreditam na sobrevivência dessas empresas, o que já muito significativo. Como exemplos recentes, posso citar a Lucent, a Vitesse, a Nortel, a ADCT, a AMD, a Charter, a CNET, a McLeod, a Priceline, entre muitas outras, onde as compras "às carradas" se vêm efectuando desde há vários meses. Nalgumas até se acentuaram fortemente em Outubro e Novembro, havendo alguns casos - VTSS e MCLD - em que tais compras são quase diárias!!!
Pois bem, em que ficamos?! Será que os presidentes e administradores destas empresas têm ou não conhecimento de algum facto relevante - nem que seja de ordem puramente fundamental ou económica e financeira do grupo - ou serão puros especuladores que assim arriscam milhões de dólares em negócios que muitos comentadores consideram inviáveis, mais precisamente, condenados ao célebre Capítulo 11?! E se daqui a uns tempos existir uma OPA sobre alguma destas empresas - há rumores disso em relação à MCLD - a compra de tais acções poderá criar problemas aos seus detentores?! E por que razão, pergunto eu?!
Por fim, e trazendo à baila o caso da Imclone, mais o seu presidente e Martha Stewart, considero que, a haver crime - cuja tipificação ignoro, repito - então é bem mais grave quando o mesmo implica a perda do valor patrimonial das acções, com o consequente prejuízo para TODOS os accionistas, como no caso em apreço, do que o mero aproveitamento de circunstâncias favoráveis que vão fazer subir o valor das acções, caso em que só perde, por defeito, quem entretanto já as vendeu, num processo absolutamente normal num mercado aberto, claro!
Ora, é neste último cenário que se enquadram as duas notícias aqui apresentadas. Ambos ganharam muitos milhares? Parabéns! Crime de insider knowledge/information?! Mas... o que é isso, afinal?!
Em conclusão, continuo a não ver nada de censurável nos casos em apreço, a não ser que a lei já estabeleça limites temporais que devem ser respeitados por quem dispõe de informação priveligiada. E parece-me evidente que qualquer quadro superior de uma empresa sabe muitíssimo mais sobre ela e o seu real valor do que o Zé Povinho, obviamente!!!
Então, por que ficamos indignados, qual o motivo de reacções tão violentas?! Haverá mesmo algo de mais substancial que a tão humana e comezinha inveja?! Enfim, não me sinto nada prejudicado, enquanto pequeno accionista, com os exemplos acima apontados ou outros similares. De facto, e já que referi algumas acções do mercado norte-americano, considero mesmo que o conhecimento do "inside buying/selling" adicionado ao "short interest racio" constituem uma tremenda vantagem competitiva na negociação em mercados fortemente voláteis e emotivos, como o Nasdaq e companhia.
E, para isto não ser só paleio, posso referir os nomes de algumas empresas, que venho seguindo há uns tempos, passíveis de serem negociadas através de corretoras portuguesas - Bigonline e Caixa Directa Investe -, em que essas duas situações se verificam cumulativamente: um elevado "short interest" e fortes compras dos insiders. Ei-las:
Avaya (AV) Chordiant Software (CHRD) Lucent (LU) Reliant Resources (RRI) Akamai (AKAM) CNET Networks (CNET) Mirant (MIR) Nortel (NT) Sprint (PCS) Vignette (VIGN) e Vitesse (VTSS).
Do que tenho vindo a observar, considero mesmo que, só por si, estas são razões suficientes para comprar estas acções, pondo mesmo de lado factores de análise técnica ou fundamental. Claro que tal estratégia resulta melhor em períodos de subida dos índices, por facilitar o espectacular fenómeno do "short covering rally", com as consequentes subidas astronómicas de muitas dezenas por cento... ao dia!!! Já asssiti a isso em alguns dos títulos referidos e tal é bem agradável quando os detemos em carteira... :-)
Ainda assim, para aqueles que confiam na AT, posso ainda acrescentar que o site American Bulls tem recomendações de compra, para a próxima segunda-feira, dos seguintes títulos atrás citados e que beneficiam da "dupla vantagem" (indico a última cotação de fecho):
Avaya (AV) 3,12 $ Chordiant (CHRD) 1,95 $ Lucent (LU) 1,51$ Reliant Resources (RRI) 2,30$
Logo, atenção a estes 4 mosqueteiros! E como ainda estão em saldo, compram-se logo aos milhares!!! É que se algum deles desata a subir como um tolinho, basta um par de horas para se ganhar o que por estas bandas - leia-se PSI 20 - não se consegue em semanas! Claro que também podem descer, especialmente se surgir alguma notícia catastrófica, mas, na actual situação, e mesmo com alguma possível correcção dos mercados, o downside parece-me bastante limitado. No médio prazo - semana de Acção de Graças, sazonalidade do final de ano - as probabilidades jogam bem a favor dos Bulls. Ou seja, e sem querer soar demasiadamente optimista - you NEVER know for sure - é dinheiro em caixa, quase pela certa...
Pois bem, talvez seja por esta especulação desenfreada que eu não me sinto na pele de julgar ou condenar os tais casos mediáticos... Mas, visto que apenas sou um gnominho mui bullinho...
Rui leprechaun
PS: Hum... e fazer-se passar por tolo também tem as sua vantagens... mesmo nos negócios! :-) Citando o "sábio louco" do sufismo (ramo esotérico do Islão), o mullah Nasrudin:
"Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente."
