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AmLat - resumo da semana

MensagemEnviado: 26/7/2003 18:01
por djovarius
Olá, tudo bem!? Vamos ao que realmente importa. Finalmente uma semana agitada para aquecer as férias de Inverno do Hemisfério Sul, sobretudo agitada nos planos político e social, de facto, mas com as ondas de choque a influenciarem os mercados financeiros. Estes, são sensíveis a tudo o que se passa e sobretudo às palavras dos líderes. Sobretudo quando se fala muito e se diz pouco, como, por exemplo, o pres. Argentino Kirchner fala mal de Lula hoje e diz o contrário amanhã. Depois, é Lula que fala bem de Bush na Casa Branca mas critica-o na Europa e novamente o presidente Argentino a falar mal de Bush “en su casa”, mas elogiando-o em Washington. Confusos?
O mercado por aqui também anda um pouco assim. Por isso, está sem direcção, como se prova pelo facto da Bovespa ter testado terrenos acima e abaixo, mas terminando a semana no mesmo lugar. Ontem, nem a forte puxada em Wall Street animou as hostes da Rua 15 de Novembro, devido, talvez às dúvidas que pairam no ar. E aqui voltamos ao começo de conversa – uma semana (politicamente) conturbada no Brasil.
A agitação alastrou-se do campo para a cidade, em grande parte do Brasil. São inúmeras as ocupações de Fazendas e terrenos agrícolas em geral, por parte do Movimento dos Sem Terra. Dezenas por todo o país para irritação dos proprietários rurais e dos seus aliados políticos no Congresso – a bancada ruralista. Agora, são as ocupações selvagens de antigos prédios devolutos, principalmente em São Paulo, por parte do Movimento dos Sem Tecto. A sigla acaba por ser a mesma. Os primeiros querem uma reforma agrária diferente e urgente. Os últimos querem apenas o direito básico à moradia, sem olhar à propriedade. Até um terreno baldio da Volkswagen, na grande SP não escapou – ocupação que ficou trágica na sequência da morte de um repórter fotográfico, apesar de não ter a ver com nenhum elemento do MST. Com tudo isto, os Partidos de direita querem lei e ordem, nem que tenha de correr sangue. Enquanto isso, o governo do PT parece atravessar uma crise de identidade. Como poderá um Partido oriundo da esquerda revolucionária conviver com a necessidade de fazer cumprir as leis e ao mesmo tempo contrariar aqueles que esperaram tanto por este momento de realização política? Como dizia na Globo, o famoso Arnaldo Jabor, como se explica à população ignorante as complexidades de uma gigantesca Nação, mas que não tem perspectiva do fim da miséria? Como se pode falar de lei e ordem a quem não sabe o que vai ser o dia presente, quanto mais o de amanhã? Como se não bastassem estas contrariedades, o projecto de reforma da Previdência Social conhece opositores em todos os campos do serviço público, tendo alguns entrado em greve. O Presidente Lula da Silva foi obrigado a tomar ele próprio as rédeas da situação para tentar salvar o máximo possível do Projecto original.
Com tudo isto, os Mercados passaram da euforia à letargia, à espera de certezas.
Tudo isto numa semana (parece de propósito) em que o Banco Central desceu a taxa básica de juros como se esperava. Era o grande evento, mas a decepção foi maior ainda. Apenas 1,5% de 26 para 24,5%.
Para o Governo, foi apenas o começo de um processo longo. Para os agentes económicos, trata-se de conservadorismo e falta de agressividade. De facto, as taxas de juro reais são agora maiores do que antes, por via do processo de deflação que está em marcha desde Maio. O impacto nos juros bancários foi ridículo. O crédito pessoal passa, em média, de 9,5 para 9,3% ao mês (ninguém entendeu que diferença faz...) pelo que não se pode ainda dizer que os dias felizes voltaram. As queixas são justificadas.
A Economia continua estagnada, deprimida. Os postos de trabalho não param de encerrar, o comércio e os serviços não vendem, a indústria pior ainda. Nas cidades, sobretudo nas capitais, a miséria (visível ou oculta) grassa à medida que o desemprego sobe e a renda cai. Qualquer modesto posto de trabalho é avidamente disputado por centenas ou milhares de candidatos. Nas ruas, os vendedores ambulantes, não por opção mas por necessidade, vendem qualquer coisa que possam, desde rebuçados de 10 centavos até fatias de pão com margarina ou algum CD pirata. A criminalidade atinge níveis insustentáveis, destacando-se o roubo de veículos e os assassinatos ligados ao tráfico de drogas, entre muitos outros casos. Nos subúrbios, onde o desemprego é um flagelo sem precedentes, espera-se por melhores dias olhando o fundo de uma garrafa... o clima é inteiramente de Grande Depressão !
Felizmente, ainda há bons compromissos. A General Motors desistiu de demitir 450 funcionários de uma das suas unidades. Eles ficarão 5 meses em casa, mas com um salário menor, até que seja repensada a estratégia da empresa. É mais um exemplo da crise da indústria automóvel.
E apesar do desempenho excelente da balança comercial, cujo saldo positivo no ano já caminha para os 12 mil milhões de dólares, há outro indicador que preocupa os investidores. O Investimento directo estrangeiro (apenas é considerado o investimento em sectores produtivos) caiu 69% no primeiro semestre de 2003 em relação a igual período do ano passado. Já o capital especulativo entrou e ainda não saiu por inteiro. Tudo somado, o saldo total da balança de pagamentos com o exterior foi ligeiramente positivo, ao contrário do que acontecia nos últimos anos – não faltam dólares nos cofres brasileiros para honrar os compromissos da dívida (não era o que o sr. Greenspan queria, inundar o mundo de dólares?). Não é de admirar o anúncio feito esta semana pelo Governo – está a ser feito um swap de dívida externa, liquidando os débitos com prazos curtos e juros mais elevados, através do pagamento à vista e de roll-over para débito em melhores condições. Há que aproveitar os bons ventos do mercado e a extrema liquidez de fora... para já, enquanto subsistem indicadores de deflação ligeira, o desemprego nas áreas metropolitanas (indicador nacional) subiu para 13% da PEA no mês de Junho, valor máximo desde o início deste indicador. Uma situação trágica, sendo a grande SP a pior de todas com uma taxa acima de 20%.
Na Argentina, o Peso caiu para o mínimo de 5 semanas devido à preocupação de que o Presidente Kirchner terá dificuldades em atrair a confiança dos investidores. Ele reuniu-se com G. W. Bush, pedindo ajuda para convencer o FMI a estabelecer rapidamente um novo acordo com o país. Pode ser que tenhamos novidades já em Agosto ou Setembro.
A Venezuela vai emitir débitos no valor de 700 milhões de dólares em notas do Tesouro para efectuar investimentos considerados estratégicos.
No mundo empresarial, o Fundo Fintech de Nova York sobe a parada e oferece agora US$ 40 milhões pela Mexicana Iusacell (o dobro) que está falida e vendável – para gáudio da Vodafone e da Verizon.
E a Telesp Celular (grupo PT), a maior empresa de telemóveis do Brasil, amargou um prejuízo de 262 milhões de reais no 2º trimestre, qualquer coisa como 80 milhões de Euros. O serviço da dívida ainda sofre pela fraqueza do Real, a qual está hoje completamente contida.
Ainda assim, um detalhe: o prejuízo equivale ao valor gasto com publicidade, sensivelmente. Foram campanhas muito agressivas, mas que não terão a mesma intensidade – acreditamos – no futuro, sob pena de se tornarem supérfluas. A base de clientes aumenta e deve continuar a aumentar, mas o problema é outro e mais grave. Muitas pessoas de baixa renda têm um telemóvel, mas não o podem sustentar, usando-o apenas para receber chamadas, ou seja, muitos aparelhos com um tráfego muito baixo. Para esta empresa sair do vermelho, será indispensável o aumento do consumo médio por parte dos utilizadores, caso contrário, o telemóvel será um adorno pessoal para ter à cintura !!! A dívida é ainda elevada, mas está abaixo de 2 mil milhões de Euros. Veremos o que vai acontecer. O Break-even pode levar ainda algum tempo, à medida que a expansão dos negócios tem de continuar....

E a semana termina com euforia apenas da Bolsa do México, que segue o exemplo de Wall Street, São Paulo ficou na mesma e as moedas da maioria dos países a subir face ao dólar, excepto o Real e o Peso Argentino, que sofre agora com a incerteza, atingindo o mínimo de 5 semanas...

Ficam os câmbios médios indicativos do Real – sexta-feira e do BOVESPA (números finais)

IBOVESPA – 13.750 pts – o índice desceu 0,3 % na semana
US$ 1 = R$ 2,89 – o dólar ficou inalterado na semana
€ 1 = R$ 3,33 – o Euro subiu 2% na semana

Obs.) Para quem está a chegar ao Brasil, de férias ou negócios, o câmbio turismo aponta para um valor de R$ 3,20 aprox.

Um abraço, bom fds

djovarius