Outros sites Medialivre
Caldeirão da Bolsa

AmLat - resumo da semana

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

AmLat - resumo da semana

por djovarius » 12/7/2003 17:28

Olá, tudo bem? Está bom o Verão no Hemisfério Norte? Pelo menos, nos mercados accionistas assim parece, as coisas permanecem quentes, apesar de tudo o que se tem dito.
Aqui, com o frio e o mau tempo, chegaram algumas nuvens negras para contrariar o clima optimista dos últimos tempos. Enquanto Lula começou por Portugal uma singela viagem por alguns países europeus – dos principais investidores no Brasil – o seu Governo enfrentou dificuldades impostas pela oposição aos seus planos de reforma do sistema de Previdência Social, o qual, se desvirtuado, perde o efeito desejado, que será o de impor limites aos gastos com o sistema. Estudos mostram que pelo actual sistema, o Estado poderia ir à falência nas próximas décadas. A reforma é um imperativo e qualquer perturbação à mesma gera um stress adicional à confiança dos mercados financeiros – renda fixa e acções – como se viu na semana que findou agora. Ontem mesmo, a Bovespa ainda terminou a semana no verde, mas o dia foi bem vermelho, não sendo pior graças aos “touros” norte-americanos. O motivo já o apontámos acima. Bastou que o Governo tremesse perante as pressões dos Juizes de Direito para não serem incluídos no novo pacote legislativo, para que o mercado sentisse que a reforma da Previdência pode não ter o desejado impacto nas contas públicas, tornando-se demasiado marginal.
O “estado de graça” do Governo está a chegar ao fim. São as dificuldades perante as pressões corporativas ou as invasões de terras no campo, perpetradas pelo famoso MST, as quais serão um teste à autoridade do governo. O mercado está atento. Deu o benefício da dúvida, mas não hesitará em tirar o tapete em caso de instabilidade. Além disso, os números são o que são. Se é verdade que os investidores institucionais têm ajudado à estratégia do Governo, a Economia real não consegue sair do tal “fundo” que indicámos há várias semanas atrás. Há até quem afirme que perante a estagnação da Economia interna, possamos assistir a um surto grave de deflação e excesso de oferta de produtos “made in Brazil”.
E a verdade é que isso pode já ter começado. A produção agrícola bate recordes, como é exemplo a famosa safra de grãos que atinge 120 milhões de toneladas, sem falar das frutas, legumes e a pecuária. O mercado exportador é forte mas não resolve todos os problemas sobretudo porque o Brasil ainda exporta a matéria-prima e não esses produtos já transformados. O mercado interno está, de facto, a consumir menos, não escapando a isso esses produtos alimentares. Essa será a razão pela qual já se nota uma deflação forte em muitos desses produtos, que persiste desde Maio e que segue por Julho, como mostram os primeiros dados do mês da Fipe que apontam para crescimento negativo de preços em São Paulo, na ordem de 0,25%. Mesmo se houver inversão destes dados, o sector alimentar ainda deverá manter a queda. Não há consumo em parte alguma, o salário médio caiu 10% em 12 meses e o desemprego subiu mais de 2% a nível nacional no mesmo período. Todos os dias, 2.500 trabalhadores do comércio estão a perder o emprego na grande SP. No Rio de Janeiro, o fenómeno é semelhante e no resto do país a situação não é animadora. O crescimento depende muito de uma forte queda nos juros. Portanto, crescimento a sério só para 2004. O ano corrente está perdido, mesmo que a situação melhore no último trimestre.
Na Argentina, a queda tinha sido tão profunda que o caminho é crescer... mas devagar. Não há liquidez no sistema financeiro (o optimismo da bolsa não paga dívidas) para ajudar a paupérrima situação das empresas. No primeiro semestre de 2003, as empresas não – financeiras do país deixaram “cães” em cerca de 70% do total das suas dívidas. Só o sector financeiro está um pouco melhor nesta fase. Tal como o Brasil, o sector exportador é o único que pode liderar a recuperação.
No Peru, ninguém se entende. Divergências entre com o Comité de política monetária levaram à demissão do presidente do Banco Central.
Da Venezuela, notícias preocupantes, após a acalmia recente: agravam-se os problemas do abastecimento de alguns bens essenciais. A população começa a demonstrar nervosismo, por isso faz “stocks” desses bens, agravando ainda mais um problema que só se resolve quando o Governo autorizar a saída de dólares para a importação dos produtos em falta. Recorde-se que tudo começou na sequência da greve do sector petrolífero. A preocupação dos mercados perante a situação estava a provocar uma fuga de capitais que o governo travou ao impedir a compra de dólares e respectiva saída dos mesmos. Não haverá outra solução que não seja o regresso progressivo à liberalização dos movimentos cambiais.

Dos negócios, destaque para os rumores de que o conglomerado Mexicano de comunicação social, Televisa vai adquirir 30% do canal de TV brasileiro SBT, do famoso Silvio Santos (o qual aparece ironicamente numa revista de fofocas a falar da própria morte, num exercício de teor macabro :twisted: ), canal que é o mais visto a seguir à Globo. O governo teria que autorizar esta compra.
E a nossa Sag Gest (SAG), que é dona da Unidas no Brasil vai investir mais neste país no ramo dos usados. Parece boa ideia, porque o consumidor, não podendo adquirir um veículo novo, opta pelo semi-novo ou usado.
O alerta do Ricardo Lima, executivo da EDP/Brasil em entrevista à TV Bloomberg local. A criação de uma agência para regular e gerenciar contratos entre as Produtoras e distribuidoras de energia eléctrica não pode ser feito sem um cuidado planeamento de todo o sector, sob pena do consumidor vir a pagar uma factura pesada (mais ainda) no futuro. No fundo, dizemos nós, as empresas não poderão arcar sozinhas com os investimentos necessários. O Estado terá que cumprir parte desse papel. Recorde-se que o Brasil viveu uma ameaça de “apagão” devido à falta de infra-estruturas.

E finalmente, enquanto o mérito da questão não for julgado pelo Supremo Tribunal, vai valer uma medida liminar que obriga as empresas de telefones fixos a aumentarem as tarifas pelo IPCA e não pelo IGP-DI, como constava dos contratos de concessão. Assim, vale o primeiro dos dois índices, que reflecte o aumento dos preços ao consumidor nos últimos 12 meses. Como tal, o reajuste não atingirá 40% nalguns casos. No máximo, poderemos ter entre 20 a 24%. Não é de admirar que ontem, empresas como a Telemar tenham caído com força durante o pregão da Bovespa, que terminou em baixa uma semana positiva. O Real desce e sobe, mas praticamente não sai muito do lugar. Se o dólar subir mais um pouco nesta altura, o Governo não se vai importar com isso e o sector exportador agradece. O pagamento da dívida pública também continua sem dificuldades. Que diferença faz a passagem de 12 meses....

Ficam os câmbios médios indicativos do Real – hoje e do BOVESPA (números finais)

IBOVESPA – 13.320 pts – o índice subiu 0,4 % na semana
US$ 1 = R$ 2,89 – o dólar subiu 1,5% na semana
€ 1 = R$ 3,26 – o Euro ficou inalterado na semana

Obs.) Para quem está a chegar ao Brasil, de férias ou negócios, o câmbio turismo aponta para um valor de R$ 3,14 aprox.

Um abraço lusitano e bom fim de semana

djovarius
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9130
Registado: 10/11/2002 19:32
Localização: Planeta Algarve

Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: bigest, Google [Bot], Google Adsense [Bot], icemetal, PiFer, Rafael Abreu, zulu404 e 215 visitantes