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Caldeirão da Bolsa

O Grito de Edvard Munch (off-topic)

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

comentário

por jotabil » 11/8/2003 2:55

Pois ....mas não devemos entender o iluminismo do Emanuel Kant....como bom para a humanidade.
O homem na sua heroicidade individual...ilumina ..nem que seja por instantes a obscuridade da caverna de platão....como um foguete..para depois voltar novamente a escuridão...por isso o prios na autonomia humana....no romantismo...no individualismo...no mercantilismo....no mercado.....não misturemos o nobre..o sagrado com o profano....todos sabemos que o homem é uma ponte sobre a terra da liberdade...e que tem de fazer da sua vida uma luta... apenas com duas satisfações....quando sobe a encosta do conhecimento para a verdade ....vai satisfeito....mesmo que saiba que mais adiante....esse conhecimento rolará como uma pedra para o vale da inexatidão e da inverdade.....novamente tentará a subida agora cheio de outra certeza que o levou novamente a subir a encosta.....como o caminho de Sísifo.
Terá ainda outra satisfãção.....a projecção horizontal daquilo que andou....se admitirmos que o tempo vai de menos infinito para mais infinito....essa projecção define um caminho que como tal....levará, por definição, a qualquer lado....talvez para ómega...já perto de deus ou da verdade...se ela existir.
Sou mais por Camus...por nietzsche...por Theiard....
O Iluminismo foi adulterado por sofismas da revolução francesa...com essa da liberdade , igualdade e fraternidade....mas o que realmente a burguesia queria era disciplinar o rei....que no seu absolutismo imprevísivel, lhes dava cabo do negócio.

Li este artigo noutro local...acho abusivo ligar a pintura ao iluminismo de Kant.
Alguém quer espiritualisar....uma coisa de usurários.

Ná...não se pode ir por aí...



cumps
Se naufragares no meio do mar,toma desde logo, duas resoluções:- Uma primeira é manteres-te à tona; - Uma segunda é nadar para terra;
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por D1as » 11/8/2003 0:45

Ora andava eu a reler o "A crise do capitalismo global - a sociedade aberta ameaçada" e não é que "encontrei" uns excertos que podiam muito bem servir de reply a este post, por parte do Soros? :)

"O iluminismo
(...)
O iluminismo constituiu um gigantesco passo em frente face aos princípios morais e políticos previamente dominantes. Até então, o poder político e moral tinha origem em forças exógenas, quer divinas, quer temporais. Dar à razão a capacidade de decidir o que é verdadeiro ou falso, correcto ou incorrecto, constituiu uma enorme inovação e marcou o início da modernidade.
(…)
As realizações da modernidade são incomparáveis. O método científico deu origem a descobertas extraordinárias, e a tecnologia permitiu a sua exploração industrial. A humanidade conseguiu dominar a natureza, a iniciativa económica tirou partido das oportunidades, os mercados desenvolveram-se para conjugar a oferta e a procura, e tanto os níveis de vida como os de produção elevaram-se a padrões até então inimagináveis.
Apesar destas realizações impressionantes, a razão não conseguiu corresponder às expectativas (…). A diferença entre as intenções e os resultados não pôde ser eliminada; quanto mais radicais eram as intenções, mais decepcionantes eram os resultados. Isto aplica-se, em minha opinião, tanto ao comunismo como ao fundamentalismo de mercado.”

Numas páginas bastante atrás já aflorara, a meu ver, o âmago da questão, ao contextualizar a reflexividade, dizendo:

“Deixem-me tentar situar o conceito de reflexividade na história das ideias. O facto de as afirmações poderem afectar o assunto a que se referem começou por ser estabelecido por Epiménides de Gnosso quando expôs o paradoxo do mentiroso. Os Cretenses mentem sempre, disse ele, e, ao dizê-lo, questionou a verdade da sua afirmação. Como era cretense, se o que dissera fosse verdade, então a sua afirmação tinha de ser falsa; pelo contrário, se a sua afirmação fosse verdadeira, então o significado que transmitia tinha de ser falso.
O paradoxo do mentiroso foi encarado como curiosidade intelectual e durante muito tempo ignorado; caso contrário, interferiria com o êxito da busca da verdade. A verdade passou a ser reconhecida como a correspondência entre afirmações e factos exteriores. A dita «teoria da correspondência da verdade» passou a ser geralmente aceite no início do século XX. Foi uma época em que o estudo dos factos colheu resultados impressionantes e as conquistas da ciência gozaram de admiração generalizada.
(…)
O positivismo lógico foi um dogma que exaltou o conhecimento científico como a única forma de percepção digna desse nome e marginalizou a metafísica. «Os que perceberam o meu argumento», disse Ludwig Wittgenstein na conclusão do seu Tractatus Lógico Philosophicus, «devem compreender que nada do que eu disse no livro tem significado». Parecia ser o fim do caminho para as especulações metafísicas e a vitória total do conhecimento determinista e baseado nos factos que caracterizava a ciência.
(…)
A auto-referencia é uma propriedade das afirmações; pertencem inteiramente ao domínio do pensamento. A reflexividade liga o pensamento à realidade; pertence a ambos os domínios. Talvez seja por isso que foi ignorada durante tanto tempo.
O que a reflexividade e a auto-referencia têm em comum é o elemento da indeterminação. O positivismo lógico baniu as afirmações auto-referentes, classificando-as como insignificantes, mas, ao introduzir o conceito de reflexividade, atribuo-lhes a responsabilidade do positivismo lógico. Longe de serem insignificantes, defendo que as afirmações cujo o valor verdadeiro é indeterminado são ainda mais significativas do que as afirmações cujo valor de verdade é conhecido. As últimas constituem conhecimento: ajudam-nos a compreender o mundo tal como é. Porem, as primeiras, expressões da nossa compreensão intrinsecamente imperfeita, ajudam a moldar o mundo em que vivemos. (…)
De facto, a moda intelectual virou-se para o extremo oposto: a desconstrução da realidade em perspectivas e preconceitos subjectivos dos participantes é a grande voga. A própria base em que podem ser julgadas perspectivas contraditórias, nomeadamente a verdade, está a ser posta em causa. Considero este outro extremo igualmente disparatado. A reflexividade deve conduzir à reavaliação, e não à rejeição total do nosso conhecimento de verdade.”

Para quem possa pensar que estas e outras questões deste género poderão ter pouco significado no contexto dos mercados financeiros, deixo a frase inaugural do livro, propriamente dito.

“Por estranho que pareça da parte de alguém que ganhou reputação e fortuna no mundo muito prático dos negócios, o meu êxito financeiro e a minha postura politica baseiam-se em larga medida numa série de ideias filosóficas abstractas. (…) Esses conceitos são a falibilidade, a reflexividade e a sociedade aberta. Termos tão abstractos como estes podem parecer muito distantes do mundo quotidiano da política e das finanças. Um dos principais objectivos deste livro é convencer o leitor de que estes conceitos constituem a essência do mundo real dos negócios.”

Eu fiquei (ou será que já estava?! :) ) convencido , e você?
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O Grito de Edvard Munch (off-topic)

por D1as » 5/7/2003 20:55

Este post não tem nada a ver com Mercados. É só um excerto de uma página na net que estive a ler e achei interessante colocar aqui. Para além disso, é fim de semana, até sabe bem pensar noutras coisas

"O Colapso da Razão

Todos sabemos que, dentre todas as coisas que o século XVIII deixou como herança para o século que haveria de sucedê-lo, nada se igualou ao que tornou-se conhecido como o Iluminismo. Descendente directo do humanismo renascentista, o Iluminismo elegeu a razão como o guia de todas as realizações humanas; tudo por ela poderia ser explicado, longe das malévolas sombras da irracionalidade e da ignorância.

Se procurarmos pela origem da linha que deu origem a tal concepção, teremos de voltar até a Grécia platónica; não nos esqueçamos de que foi Platão quem nos assegurou de que só podemos conhecer de maneira legítima aquilo que conhecemos por meio da razão. Todavia, os precursores directos do Iluminismo encontram-se nos séculos XVI e XVII. São eles: Isaac Newton, John Locke e, acima de tudo, René Descartes.

Se Locke deu origem ao empirismo, ao afirmar que todo o nosso conhecimento deriva da experiência, e Newton, ao mecanicismo, com sua visão do universo fundamentada em leis precisas que deveriam ser descobertas por meio da razão, podemos metaforicamente dizer que Descartes foi o próprio racionalismo encarnado. Assim comenta Pierre Guenancia: “O espírito cartesiano é o de que todo homem se esforça em pensar segundo ideias claras e distintas”. Para Descartes, a verdade repousa nesses pensamentos, filhos somente da actividade racional; daí, deve ser excluída toda e qualquer participação emocional.

É denunciador observar que, em suas "Meditações", Descartes usa o sonho como meio para ilustrar o engano e o ilusório – afinal de contas, justamente por estar distante da ordem que nos é imposta pela razão que exige “pensamentos claros e distintos”, deve-se supor que haja no sonho algo de subversivo, enganador. E o que se tem com tal discurso é simplesmente uma arrogante negação de algo que sempre esteve por trás de todas as realizações humanas: a presença do inconsciente.

Como disse Shakespeare, somos feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos; entretanto, o mero fato de não termos controle sobre tudo o que se passa em nós mesmos era por demais agressivo para os apóstolos deste humanismo racionalista. Incapaz de aceitar sua ignorância diante do universo, o homem iluminista preferia repousar sobre o dossel da razão e acreditar que, por meio dela, tudo poderia descobrir e tudo poderia conquistar.

Essa tirania racional foi – e ainda é – fonte de algumas das maiores atrocidades de que a humanidade é vítima. Como denunciou Foucault, foi em nome da “clareza e distinção” que a sociedade humana oficializou a exclusão daqueles que pecavam por não corresponder a estas expectativas – os chamados “loucos” e “desarrazoados” que, por não obedecerem aos padrões de “normalidade” estipulados pelo racionalismo, deveriam ser excluídos da sociedade dos “seres racionais”.

É irónico observar que a sociedade iluminista seja precisamente aquela que levantará a bandeira da liberdade, igualdade e fraternidade. Obviamente, tais ideais referiam-se apenas aos que se adequavam aos seus padrões de normalidade. Aos vassalos da razão, a liberdade; aos “loucos”, os sanatórios e hospícios.

Essas pretensões do racionalismo ainda viviam no século XIX, sobretudo na pessoa de G.W.F. Hegel, que chegaria a pretender “dizer o indizível”. Afinal de contas, é a linguagem o meio pelo qual expressamos nossos pensamentos; e, por isso, ela precisa estar em perfeita harmonia com a razão, a fim de que possamos nos expressar tão correctamente como podemos raciocinar. Tal linha de pensamento encontrou eco no pensamento de Wittgenstein, que, no seu "Tractatus Logico-Philosophicus", afirmaria: “Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar”.

As consequências disso, como se pode ver, são a completa exclusão de tudo o que é não-racional, não-verbal e não-ordenado. A loucura, o misterioso e o caótico são simplesmente descartados como sendo sintomas de ignorância, absurdidade e falta de sensatez.

No século XX, esta ideia que já era contestada no século XIX, sofrerá seu maior impacto com a ascensão do nazismo – já que todos os homens que coordenaram tal atrocidade eram doutores, cientistas e “seres racionais”, mas nem por isso foram capazes de agir de maneira benéfica e construtiva para a humanidade.

Desta forma, a tendência da filosofia do século XX será justamente a de combater o “império da razão” iluminista; eminentes pensadores como Foucault, Sartre e Camus hão de revelar-nos quão ilusória é essa crença na racionalidade humana e, de maneira ainda mais determinante, a Filosofia da Mente revelará não ser a razão nada menos do que um instrumento a serviço da parte irracional do homem.

É dessa sociedade, herdeira do Iluminismo, que aqui tratamos. Uma sociedade regida pela ordem e pelo mecanicismo. Onde a opressão da razão abafa qualquer reacção emocional, onde o ideal do homem é a racionalidade e a rectidão e onde o sonho e a fantasia são tratados como desvios e ilusão.

Seguindo esta lógica, que dita que só a frieza racional pode ser um sinal positivo de progresso, nada mais natural que relegar a arte ao segundo plano, à mera categoria de entretenimento. O artista, aqui, está sempre preso ao convencionalismo, à “normalidade”, aos ideais estéticos que dirão o que é belo e o que não é (afinal de contas, o belo também precisa ser “claro e distinto”; não pode haver beleza no que foge aos rígidos domínios da razão. Não nos esqueçamos de que será essa sociedade racionalista que execrará a "Sinfonia Heróica" de Beethoven – que, por apresentar uma beleza estranha ao que a razão considerava “esteticamente correcto”, foi tida como atordoante e desagradável).

No ano de 1893, nasce "O Grito" de Munch: sua obra mais famosa, mais expressiva e mais representativa...

A pintura de Munch, antes de mais nada, era um atentado a todas as convenções artísticas vigentes. Já os impressionistas não haviam sido bem recebidos com suas ideias pouco convencionais; segundo seu raciocínio, os objectos deveriam ser pintados não necessariamente com as cores que tinham, mas sim as que pareciam ter.

Todavia, a ousadia de Munch ia muito além do que a de qualquer um de seus antecessores. Afinal de contas, na sua pintura, as cores e tonalidades não são efeito de condições ambientais, mas sim de factores emocionais. O Grito é a experiência visceral de uma subjectividade que se torna transcendente justamente por encontrar eco em cada uma das almas que o contemplam. Tal como acontece na tela, este Grito, que nasce da angústia de uma alma solitária, penetra a natureza e o espaço, distorcendo-o e contaminando-o com seu desespero.


Sua radicalidade está para além das fronteiras do convencionalismo, assim como a emotividade do Grito está para além dos limites do racionalismo; o quadro não deve ser analisado, deve ser sentido – é um grito dirigido directamente à alma.


A vida trágica de Munch foi a condição necessária para que sua obra pudesse florescer. Uma avassaladora emotividade nascida do tormento; o sofrimento transmutado em beleza. O gigantesco espírito que, incapaz de se manter confinado a um corpo de carne, escapa... transcende a existência e realiza uma rasgante ascese, quase mística: Munch encarna a própria essência do expressionismo.

Como um golpe fatal ao decadente racionalismo, Munch exalta todos os aspectos que fogem aos padrões de “clareza” e “normalidade” que a sociedade dele exigia. Por isso tentaram mantê-lo calado ao fechar a exposição em Berlim: as verdades que retratava eram demasiadamente cruéis, precisamente por representarem o lado do homem que a sociedade racionalista desejava esconder.

Terminamos por mostrar uma única prova, capaz de corroborar, mais de um século depois, a veracidade de tudo o que a existência de Munch representou para a humanidade: o facto de que, para além de todo o racionalismo estéril que corrompe a sociedade actual, o Grito de Munch ainda ecoa... "
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