Outros sites Medialivre
Caldeirão da Bolsa

AmLat - resumo da semana

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

AmLat - resumo da semana

por djovarius » 24/5/2003 17:22

Olá tudo bem? Vamos ao que realmente importa. Após algumas semanas de conversa mais virada para a especulação, para o sobe e desce, podemos finalmente voltar a falar de outro tipo de “business”, mais virado para a Economia real. Trocando por miúdos, estou a falar de investimentos portugueses no Brasil. Num caso, é só o aproveitamento de uma situação que já existe, mas que revela uma visão séria de negócio. É o grupo Sonae, sempre em destaque nestas andanças. Desta vez, o negócio é o dos postos de combustível que vão aparecer em alguns dos supermercados da rede Big, aqui no Estado de São Paulo e nos Estados do sul. O primeiro, aliás, foi inaugurado esta semana em Araras, no interior de São Paulo. É caso para dizer: bem jogado. É uma cidade boa numa região óptima. E para ajudar, no Brasil, o preço da gasolina, álcool e gasóleo nas bombas é livre, pelo que, na mesma cidade é fácil encontrar diferenças de preço superiores a 5% entre diferentes Postos. No caso, o negócio ainda é melhor porque nas cidades longe das capitais, os combustíveis são sempre mais caros para o consumidor final, devido aos custos associados ao transporte. Portanto, uma gasolina mais barata junto a um grande supermercado = sucesso previsível. Até porque as margens são maiores do que, por exemplo, em Portugal.
No outro caso, trata-se de um investimento de raiz. O BPN – Banco Português de Negócios aguarda apenas autorização expressa para actuar aqui como Banco de Investimentos. Será a marca BPN – Brasil.
Além disso, ainda vai lançar o BPN Creditus, segundo sabemos, para entrar em força no negócio do crédito ao consumo dos particulares. Aqui, lembro que há algumas semanas atrás questionei-me sobre o porquê da ausência da Banca privada nacional num mercado que tem sido o paraíso dos Bancos e deverá continuar assim. Se o mercado não fosse bom, não teríamos certamente nomes como HSBC, Abn Amro, Santander, BBVA, Citibank, entre outros. O potencial existe, quer num ramo, quer no outro. Sobretudo, quando verificamos que o crédito ao consumo ainda é concedido a juros entre 75 a 190% ao ano. E os números disponíveis mostram que, ainda assim, o crédito mal parado não é um problema grave. Excelente negócio, parece-me, basta que corra tão bem como aos que já aqui estão a fazer mesmo.

Já voltaremos ao Brasil. Uma nota positiva para a Argentina que vai convencendo os investidores internacionais de que o pior já passou. O ministro Roberto Lavagna quer voltar a obter ajudas do FMI e retornar aos pagamentos, como dantes. Com a crise que se gerou, o eleito presidente Kischner vai lançar um programa fome zero a la Brasil (a propósito, acho infeliz o logo do programa de Lula porque mostra uma bandeira do país com um prato ao centro, junto com um garfo e uma faca. O problema é que o prato está vazio. Onde pára o arroz e o feijão?).
Uma nota negativa para a Venezuela, cujo PIB caiu 29% :cry: no primeiro trimestre comparando ao período homólogo do ano anterior. O que faz a agitação política!! Recordo que a greve do sector petrolífero só terminou em Fevereiro. Além do mais, o consumo e o investimento caíram a pique. Convém não esquecer que a restrição à compra de dólares paralisou largos sectores da Economia. A inflação deve ficar pelos 30% ou mais.
Nuvens negras também no Equador. Há uma ameaça concreta de se repetir a Venezuela naquele país.
Também lá o sector do petróleo deve parar se o ministro da Economia não se demitir. Atenção à cotação do crude.
Uma nota preocupante do Banco Mundial: os fluxos de capitais para a América Latina, nos próximos 5 anos, não deverão ser animadores nem se poderão comparar aos dos últimos cinco anos. Os investimentos produtivos serão menores. Quanto aos recentes fluxos de capital especulativo, bem, são uma cortesia da actual bolha de liquidez excessiva de papel moeda – leia-se dólares. Não admira que o valor da moeda norte-americana desça em relação às moedas, mesmo as mais fracas, deste Continente e não só em relação às moedas das “commodities” como seria de esperar.
Se os mercados vivem de notícias e rumores, também é verdade que “eles” não gostam de insegurança. Esta semana, o Mercado celebrou a saída de Ilan Goldfajn do Banco Central do Brasil por considerá-lo uma figura próxima do anterior Governo, não se enquadrando na nova política (que ainda ninguém sabe bem qual é). Claro, o dólar desceu. O mesmo mercado ficou nervoso com o facto da inflação dar sinais contraditórios. Deflação no índice de preços ao Produtor e inflação nos preços ao consumidor. Mas ficou mais stressado ainda com declarações do vice-presidente Alencar, que se mostrava desconsolado com a política de juros altos do Banco Central, considerando-a um exagero. Claro, o dólar subiu. Bastante até, para depois voltar a descer. É que o BC manteve a taxa de referência em 26,5%, alegando que a inflação, embora controlada, ainda não foi vencida. Assim, o Mercado aliviou e ficou convencido que as autoridades estão a levar os problemas financeiros a sério.
O golpe final veio na sexta-feira, quando mais um lote de dívida pública foi parcialmente pago e o restante “rolado” com grande facilidade. Claro, o dólar desceu. Mais ainda. A sensação que fica é que, como nos anos oitenta, os investidores fazem fila (não posso dizer bicha) para emprestar dinheiro ao Brasil.
Mas o vice-presidente (um industrial com preocupações sociais) tinha uma certa razão: está na hora de, pelo menos, sinalizar a descida futura dos juros. Porque o consumo interno e o investimento estão demasiado fracos. O desemprego, sobretudo industrial, não pára de crescer. A crise urbana acentua-se.
Realmente, que importa que a inflação chegue a zero, se o bolso do cidadão também está a zero? :(


Ficam os câmbios médios indicativos do Real – hoje, sexta-feira e do BOVESPA (números finais)

IBOVESPA – 13.143 pts – o índice desceu 0.6 % na semana
US$ 1 = R$ 2,915 – o dólar desceu 0,8 % na semana
€ 1 = R$ 3,45 – o Euro subiu 1,2 % na semana

Obs.) Para quem está a chegar ao Brasil, de férias ou negócios, o câmbio turismo aponta para um valor de R$ 3,35 aprox.

Um abraço e resto de bom fim de semana

djovarius
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9127
Registado: 10/11/2002 19:32
Localização: Planeta Algarve

Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: almica, Bing [Bot], Dragon56, HFCA, latbal, Massao1, OCTAMA, PAULOJOAO, Àlvaro e 177 visitantes