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Caldeirão da Bolsa

EUR/USD - o medo dos juros

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por djovarius » 9/5/2004 19:29

E aqui o gráfico horário da semana que passou...
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EUR/USD - o medo dos juros

por djovarius » 9/5/2004 19:28

Saudações especiais a todos os amigos e uma boa semana !

Muito bem. Tal como esperado, as posições em conflito no tabuleiro de xadrez dos mercados ganharam força na semana que passou. Os activos mais especulativos perderam terreno, excepto o petróleo e o Nasdaq, algo que dá que pensar. No terreno das divisas, o dólar norte-americano, confirmou o padrão de que falámos anteriormente – quando parece regressar às quedas, há desenvolvimentos que lhe outorgam uma nova força e vice-versa (ver análise da semana passada). Recorde-se que um cenário de subidas está quase sempre associado à redução do “carry trade” (venda de activos de baixo rendimento e compra/troca por outros com maior potencial, devido a juros reais mais elevados). Uma vez que as quedas do USD foram maioritariamente provocadas pela procura de yield (o capital move-se para onde está o rendimento com o equivalente de risco) e que a alavancagem dos investimentos tem sido superior ao padrão histórico, qualquer fuga e fecho de posições provocam uma volatilidade e movimentos superiores ao esperado. As commodities mais especulativas foram vítimas dessa fuga rápida, assim como as divisas (ex. AUD) normalmente associadas à elevação dos preços dessas mercadorias de base.
A excepção tem sido o petróleo. Mas aqui é necessário entender alguns factores determinantes, que conjugados, fazem de cada barril de crude um grande barril de pólvora para os mercados, facto a que a comunidade especulativa não é alheia. Há uma rara conjugação de problemas, originando este nervosismo. Se no passado recente, as quedas contínuas do USD eram suficientes para justificar a elevação dos preços do petróleo (tal como as restantes commodities), agora temos mais dados a ter em conta:
- Problemas políticos em alguns países produtores; Problemas relativos ao Iraque e ao Médio Oriente em geral; Fraco aumento de produção por parte da OPEP; diminuição de reservas; aumento sazonal de consumo no Ocidente; expansão económica e forte aumento de consumo em países como China e outros asiáticos.

Como se tal não bastasse, o light crude é de longe o activo mais negociado em NY (dos integrantes do índice CRB), portanto sujeito a maior especulação e a posições maiores e mais alavancadas.
Mas como não há mal que sempre dure, tal como o Ouro, o Petróleo poderá estar a atingir um topo de curto prazo à medida que as “multidões” se preparam para entradas longas neste activo. Não é de excluir um colapso nos preços (como na Prata) ou um simples recuo e estabilização. Isto, claro, se não forem ultrapassados os valores máximos de 1990 (US$ 41.45), pois nesse caso, a onda especulativa poderia provocar um sobreaquecimento dos preços e um choque, o que traria mais instabilidade. Mas para já, não acredito neste último cenário.

Voltando ao tema, é o medo de perder que leva à tomada de lucros. Os mercados accionistas passaram mais de um ano em “estado de graça”. Mas tal como na renda fixa, o espectro do aumento dos juros, leva a um reposicionamento dos fundos. O FED já tem provas mais do que suficientes para justificar subidas de juros, ainda que modestas. Não se pode enganar o mercado. Este, espera subidas lentas, começando já em Junho ou, o mais tardar, em Agosto. E é bom que assim seja. Ao se concretizar a notícia, retirando-se a incerteza, os mercados poderão estabilizar.

Outro factor que parece estar absolutamente a ser esquecido pelos analistas (o que é estranho), passa pela própria Reserva Federal. Esta, vai apostar na emissão de Obrigações protegidas contra a inflação (TIPS). Já o fazia, mas haverá um reforço substancial. Assim, a taxa base não necessita de ter um “spread” perante as taxas de mercado, pois qualquer aumento da inflação será compensado à medida que ocorrerem os vencimentos de juros dos cupões. Ora, anulando-se o risco inerente à renda fixa (inflação diminui juros reais), temos um produto apetecível para as grandes Casas de Investimento. Não é de admirar que haja um regresso de dólares aos EUA e alguma convergência de outras Praças para os EUA. E, claro está, uma rotação de capitais no interior dos próprios mercados norte-americanos. E é assim que vemos uma clara fuga de capitais dos mercados emergentes, bem como em menor escala de mercados de risco menor, mas que não são tão atraentes à medida que o yield gap se vai fechando.

Só assim se poderia explicar outro fenómeno insólito: A liquidez em moeda americana a crescer a bom ritmo à medida que o USD vai recuperando. É rara esta situação. Desde Janeiro, o agregado monetário M3 aumentou a um ritmo anualizado superior a 10%. O sistema foi inundado por mais umas largas dezenas de milhares de milhões de dólares. Deveria empurrar o USD para baixo. Mas tal não acontece porque o mercado está claramente “de olho” nas oportunidades que referimos acima.
Não podemos deixar de considerar que o FED continua a ceder liquidez ao sistema. Parece adivinhar que algo de grave está para vir, diriam uns. É apenas o reflexo da continuação da expansão económica e do crédito concedido, diriam outros.
Em qualquer dos casos, um aumento demasiado rápido ou forte dos juros não estará nos planos do FED. E esse é um cenário negativo para o USD no futuro. Mas no presente, a expectativa das próximas subidas (alguns meses) é um bom suporte para a divisa. Seja como for, este conflito é permanente e não permite adoptar uma postura clara a favor ou contra a moeda americana.

Continuarão em conflito as forças de que tanto temos falado recentemente !!

Ainda não é claro se haverá um tumulto nos mercados, mas o Forex certamente continuará a ser um barómetro do nervosismo. Nervosismo que está presente nos mercados de renda fixa (dívida pública) e que se vai espalhando para Wall Street (Dow perto da MM 200 dias) !!

O USD tinha, há duas semanas, menos espaço para subir. Perdeu terreno na semana seguinte, mas voltou às subidas esta semana. Tinha perdido 4 cêntimos face ao Euro, mas já recuperou quase 3 desses cêntimos. Face à GBP não subiu tanto. Mas é necessário verificar que o Reino Unido continua a crescer acima da média europeia, subiu os juros e mais elevações virão a caminho. Uma expectativa que se deverá manter ao longo do ano. Ao contrário, Austrália, N. Zelândia e em certa medida o Canadá, não deverão ter espaço para maiores subidas. Na zona Euro, nem para cima nem para baixo, a não ser que haja um disparo inesperado na inflação. O Japão, que beneficiou de fortes ganhos accionistas, atraindo capitais externos, parece assistir também à liquidação de algumas posições especulativas em JPY, devido ao medo de que a China acabe por “arrefecer” a Economia, o que retiraria potencial de crescimento a toda região do extremo oriente.
No EUR/USD, há potencial para um novo teste aos mínimos do ano. A vela mensal de Maio vai sendo vermelha. Seria o 3º mês consecutivo de queda do Euro face ao dólar. O suporte está na MME 13 meses (pouco abaixo de 1.18). O MACD mensal está a virar para sul. O RSI-14, agora em 61, encontra suporte em 59 !! No gráfico semanal, fizemos esta semana a 10ª vela negativa nas últimas 12 !! O suporte na MME 55 semanas coincide com a de 13 meses. O MACD está muito negativo mas pode ficar ainda mais. No gráfico diário, o RSI está negativo e o MACD parece querer virar para baixo. O suporte essencial na MME 250 dias está agora cerca de 1.1830 – muito perto da cotação actual de fecho da semana. Se o suporte não aguentar, nem os mínimos do ano (1.1760) teremos que considerar uma “viagem” até 1.1640, ou seja 61.8% de retracção da subida entre 1.07xx e 1.29xx !! Talvez um overshooting do USD possa levar até esse teste, ainda ao longo deste mês.
Pelo contrário, se a cotação não ultrapassar os mínimos recentes, tal será muito bullish para o Euro que tem ali uma boa resistência em 1.2170/80 – forte está a luta entre touros e ursos !!
Uma nota final para o gráfico semanal: muito cuidado - está super sobrevendido, com o MACD a apontar para uma subida, ou melhor, uma recuperação, a qual poderá ser em tempo ou em pips...


E o nosso ciclo semanal normal fica em:
1.1750 - 1.2070, sendo o ponto pivot 1.1940
O ciclo alargado está em:
1.1680 - 1.2180 (mais volátil)

Atenção a esta pequena actualização,

Resistências: 1.19 / 1.1930 / 1.1960 / 1.2010-20 / 1.2050 / 1.2080 / 1.2130 / 1.2170-80
Suportes: 1.1880 / 1.1850 / 1.1830 (MME 250) / 1.18 / 1.1760-50 / 1.1720 / 1.1680

Quanto às posições abertas do Euro no IMM, contratos de futuros em Chicago, quase nem houve mexida de posições em relação à última semana, reflectindo o ambiente de dúvida extrema. É possível que nos próximos tempos assistamos a um certo equilíbrio, embora o bias do mercado esteja agora um pouco mais favorável ao USD.

Longos / Curtos
Large Speculators 16% 10%
Small Speculators 34% 32%
Industry Hedgers 50% 58%



Muito obrigado a todos, uma óptima semana de negócios é que se pode desejar

Um grande abraço

djovarius
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