Caldeirão da Bolsa

Crise com poucas soluções

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Camisa roxa

por fsma » 18/12/2007 13:22

Não creio que essa legislção a que aludiu obrigasse os bancos a emprestar mas simplesmente a não discriminar os clientes tendo em conta a sua origem geográfica. Imagine que os bancos simplesmente definissem como sua política não emprestar dinheiro a pessoas que vivam em zonas identificadas como socialmente pobres. Naturalmente tal política seria discriminatória e o estado teria que legislar no sentido de abolir tal critério geográfico. As pessoas devem ser avaliadas pelos rendimentos e histórico bancário e não pelo aspecto social da zona onde vivem.
 
Mensagens: 67
Registado: 4/12/2007 1:07

por Camisa Roxa » 18/12/2007 13:21

[quote="JAM"Foi mesmo assim? Obrigar os bancos a conceder crédito?

Eu olho para Portugal, os bancos não são obrigados a nada e concediam créditos a torto e a direito, como provam o numero crescente de bens em leilões. parece que agora há mais contenção em crédito de elevado valor, como a habitação por exemplo.[/quote]

Nos EUA foi mesmo assim... Começou tudo nos anos 70 com aquela lei. Caso contrário nunca teria existido crise do subprime simplesmente porque o subprime ainda hoje não teria acesso a crédito. O subprime rebentou apenas lá. Na Europa os níveis de endividamento ainda estão longe dos dos americanos.

A crise chegou cá por contágio e serviu para abrir os olhos aos bancos europeus de que é necessário restringir mais as condições de concessão de crédito...

Mesmo cá em Portugal, as empresas do tipo Cofidis, apesar de terem um certo nível de incumprimento, este é ainda insuficiente para colocar sequer em causa a sua rentabilidade...
Imagem
Free Minds and Free Markets
... forecasting exchange rates has a success rate no better than that of forecasting the outcome of a coin toss - Alan Greenspan (2004)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2475
Registado: 5/11/2002 11:27
Localização: Leiria

por Branc0 » 18/12/2007 13:14

Camisa Roxa Escreveu:é a única hipótese! para acabar de vez com as bolhas! aliás, se já se tivesse feito isso no passado não estávamos agora ainda com mais medo de tomar essas medidas!


Sempre houve bolhas e sempre vai haver bolhas. Não foram os bancos centrais que originaram a corrida às Tulipas na Holanda.

Quanto ao excerto que colocaste em cima vou tentar procurar a lei. Recuso-me a acreditar que uma entidade privada seja "obrigada" a emprestar dinheiro nestas condições. Do excerto que colocaste o espirito da lei parece mais numa optica de não descriminar o que não será a mesma coisa.
Be Galt. Wear the message!

The market does not beat them. They beat themselves, because though they have brains they cannot sit tight. - Jesse Livermore
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2558
Registado: 8/8/2007 14:38
Localização: Lisboa

por Sei lá » 18/12/2007 13:11

Camisa Roxa Escreveu:o subprime foi fruto por um lado de leis socialistas que obrigaram a que os bancos americanos concedessem crédito a pessoas de baixos rendimentos que em condições normais não teriam acesso a esse crédito por representarem elevado risco de incumprimento e por outro lado ao excesso de liquidez nos mercados que derivou da tentativa dos bancos centrais evitarem recessões anteriores


Foi mesmo assim? Obrigar os bancos a conceder crédito?

Eu olho para Portugal, os bancos não são obrigados a nada e concediam créditos a torto e a direito, como provam o numero crescente de bens em leilões. parece que agora há mais contenção em crédito de elevado valor, como a habitação por exemplo.
O mercado cega... nem uma ida a Cuba resolve. Cuba?!? :shock: Phone-ix!! Eles são socialistas pá!!!!
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 942
Registado: 19/7/2007 0:21
Localização: 14

por Camisa Roxa » 18/12/2007 13:04

djovarius Escreveu:Assim, a recessão iria ocorrer, sendo profunda e dolorosa, mas todos os sistemas ficariam expurgados de bolhas, exageros e vigarices.
Quem teria de falir, falia, enquanto os que pouparam, os que tiveram comportamentos mais racionais, liderariam a recuperação económica.


é a única hipótese! para acabar de vez com as bolhas! aliás, se já se tivesse feito isso no passado não estávamos agora ainda com mais medo de tomar essas medidas!

os juros têm de subir e estoirar com o que tiver que ser estoirado! STOP REWARDING THE IDIOTS!
Imagem
Free Minds and Free Markets
... forecasting exchange rates has a success rate no better than that of forecasting the outcome of a coin toss - Alan Greenspan (2004)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2475
Registado: 5/11/2002 11:27
Localização: Leiria

por djovarius » 18/12/2007 12:56

Bom dia a todos,

A propósito de várias reflexões e leituras a propósito da problemática crise (choque) de crédito, começo a chegar a algumas conclusões, sendo a principal que desta feita há muita confusão e ninguém sabe realmente qual a melhor solução para a saída da crise.
É que apesar de não ser uma situação inédita, há contornos novos que passam por ser uma crise global (ou que afecta a esfera financeira global, melhor dizendo) com causas inteiramente novas.

Mas, já se notam duas correntes de opinião, dois grupos principais que defendem soluções opostas, embora não seja possível antever qual será a melhor solução.

Pessoalmente, já percebi que afinal a escassez de liquidez já há muito passou. Provavelmente nem foi tão grave. O que há é uma forte crise de confiança, daí que os Bancos deixassem o mercado interbancário quase moribundo.
Se eu, Banco comercial, tenho necessidades de caixa para cobrir os buracos, por que razão vou emprestar ao vizinho cujo barracada nem sequer conheço bem !?
Lógico, isto aplica-se a quem foi apanhado pelo descalabro dos derivativos de alto risco.

Muito bem, e que correntes de opinião são aquelas a que aludi acima?

A primeira, afirma que o FED deve baixar os juros agressivamente, algo que forçaria os outros BC`s a fazer o mesmo devido ao receio de forte queda do USD. Em vez de injectar liquidez inutil, o Banco Central deve assumir que vem mesmo aí uma recessão económica. Essa baixa de juros agressiva já seria uma antecipação à futura recessão, evitando que ela fosse muito forte e prolongada. No actual quadro, esta liquidez abundante não teria efeito para criar uma nova bolha.
Ainda assim, os defensores desta tese afirmam que a inflação monetária ia traduzir-se num certo aumento dos preços ao consumidor, o qual poderia ser combatido depois, quando as Economias voltassem aos trilhos, quando voltasse a estabilidade financeira.

A segunda tese defende exactamente o oposto. Subir já os juros básicos, mesmo cedendo liquidez ao sistema.
A ideia, socialmente mais cruel, seria provocar o estouro das pessoas singulares ou colectivas, que em primeiro lugar nunca deviam ter assumido os riscos que assumiram através de créditos amplamente facilitados.
Assim, a recessão iria ocorrer, sendo profunda e dolorosa, mas todos os sistemas ficariam expurgados de bolhas, exageros e vigarices.
Quem teria de falir, falia, enquanto os que pouparam, os que tiveram comportamentos mais racionais, liderariam a recuperação económica.

Para já, os Bancos Centrais procuram combater qualquer destas teses, através de brutais cedências de dinheiro à Banca. Hoje tivemos mais um exemplo da quantidade impressionante que se tornou necessária, sinal de que a Banca não está a passar por bons momentos.

Em todo o caso, são dificeis os tempos próximos.
Com estas soluções, só me resta dizer:
Se correr, o bicho pega
Se ficar, o bicho come

Abraço

djovarius
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9230
Registado: 10/11/2002 19:32
Localização: Planeta Algarve

por Camisa Roxa » 18/12/2007 12:53

Branc0 Escreveu:Eh pa! Qual foi a lei que passou no congresso americano que obrigava a dar empréstimos sem verificar os rendimentos?

Calma lá com isso...


The Community Reinvestment Act (CRA) was established by Congress in 1977. The Act requires that deposit-taking financial institutions offer equal access to lending, investment and services to all those in an institution’s geographic assessment area-at least three to five miles from each branch. In the case of large banks with many branches, the geographic area may encompass an entire county or even a state.

Before the CRA, many bankers excluded low-income neighborhoods and people of color from their lending products, investments, and financial services - a practice known as “redlining”. Community activists coined the term when they discovered that the failure of banks to make loans in some low-income neighborhoods was so geographically distinct, that it was easy to draw red lines on maps to delineate the practices.

In the 1970s, activists in Chicago and across the country brought strong pressure on banks to lend equitably to all those in their communities. Since its passage, the CRA has been used across the United States to win tens of billions of dollars in new lending, investments, and services for communities. The National Community Reinvestment Coalition tracks more than $1 trillion dollars in community reinvestment pledges nationally. These pledges are explicit investments in equitable development goals, and finance many tools in this toolkit.


é o que eu digo: as pessoas querem tudo, põem-se a tentar regular o mercado, mas o mercado é soberano!

obrigaram os bancos a emprestar, o pessoal deixou de pagar e agora pagam todos!
Imagem
Free Minds and Free Markets
... forecasting exchange rates has a success rate no better than that of forecasting the outcome of a coin toss - Alan Greenspan (2004)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2475
Registado: 5/11/2002 11:27
Localização: Leiria

EUA - a pátria do socialismo do séc. 21

por fsma » 18/12/2007 12:49

"[...]o subprime foi fruto por um lado de leis socialistas que obrigaram a que os bancos americanos concedessem crédito a pessoas de baixos rendimentos [...]

aaahh :shock: :roll:
 
Mensagens: 67
Registado: 4/12/2007 1:07

EUA - a pátria do socialismo do séc. 21

por fsma » 18/12/2007 12:49

"[...]o subprime foi fruto por um lado de leis socialistas que obrigaram a que os bancos americanos concedessem crédito a pessoas de baixos rendimentos [...]

aaahh :shock: :roll:
 
Mensagens: 67
Registado: 4/12/2007 1:07

por Branc0 » 18/12/2007 12:31

Eh pa! Qual foi a lei que passou no congresso americano que obrigava a dar empréstimos sem verificar os rendimentos?

Calma lá com isso...
Be Galt. Wear the message!

The market does not beat them. They beat themselves, because though they have brains they cannot sit tight. - Jesse Livermore
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2558
Registado: 8/8/2007 14:38
Localização: Lisboa

EUA - a pátria do socialismo do séc. 21

por fsma » 18/12/2007 12:28

"[...]o subprime foi fruto por um lado de leis socialistas que obrigaram a que os bancos americanos concedessem crédito a pessoas de baixos rendimentos [...]

aaahh :shock: :roll:
 
Mensagens: 67
Registado: 4/12/2007 1:07

por Camisa Roxa » 18/12/2007 12:19

JAM Escreveu:Desculpem lá a ignorância, mas esta crise que se vive não foi despoletada pelo "subprime"?

O "subprime" não resultou de falta de regulação e de controlo efectivo de produtos financeiros de risco?

Desta vez estou de acordo com o Branc0 em relação à recessão que se evitou após o rebentamento da bolha tecnológica.


o subprime foi fruto por um lado de leis socialistas que obrigaram a que os bancos americanos concedessem crédito a pessoas de baixos rendimentos que em condições normais não teriam acesso a esse crédito por representarem elevado risco de incumprimento e por outro lado ao excesso de liquidez nos mercados que derivou da tentativa dos bancos centrais evitarem recessões anteriores

mas a recessão da bolha tecnológica foi evitada injectando mais crédito e mantendo as taxas de juros artificialmente baixas. Ou seja, evitou-se uma recessão a curto prazo e continuou a alimentar-se um cataclismo financeiro!

a intervenção dos bancos centrais foi criando uma bola de neve em que resolviam alguns problemas imediatos mas criavam outros muito mais complicados.

é como digo, a maioria das pessoas à mínima dor não quer a cura, prefere uma anestesia, o problema é quando passa a anestesia!
Imagem
Free Minds and Free Markets
... forecasting exchange rates has a success rate no better than that of forecasting the outcome of a coin toss - Alan Greenspan (2004)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2475
Registado: 5/11/2002 11:27
Localização: Leiria

por Sei lá » 18/12/2007 11:08

Desculpem lá a ignorância, mas esta crise que se vive não foi despoletada pelo "subprime"?

O "subprime" não resultou de falta de regulação e de controlo efectivo de produtos financeiros de risco?

Desta vez estou de acordo com o Branc0 em relação à recessão que se evitou após o rebentamento da bolha tecnológica.
O mercado cega... nem uma ida a Cuba resolve. Cuba?!? :shock: Phone-ix!! Eles são socialistas pá!!!!
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 942
Registado: 19/7/2007 0:21
Localização: 14

por Branc0 » 18/12/2007 10:43

Acho que agora estas a ser demasiado radical :). O "facilitismo" que referes permitiu aos EUA passar pelo rebentamento da bolha tecnológica sem entrar numa recessão séria.

Se conseguirem fazer o mesmo agora acho que o facilitismo valeu a pena. Ainda há muita coisa por acontecer e todos os cenários são possíveis.
Be Galt. Wear the message!

The market does not beat them. They beat themselves, because though they have brains they cannot sit tight. - Jesse Livermore
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2558
Registado: 8/8/2007 14:38
Localização: Lisboa

Re: Crise com poucas soluções

por Camisa Roxa » 18/12/2007 10:35

Keyser Soze Escreveu:Ainda é cedo para dizer que a teoria económica está em xeque. Mas é certo que está sob pressão. Basta verificar a falta de consenso entre os economistas na análise da actual crise para verificar que se pode estar perante um momento de mudança de paradigma. Depois de keynesianos e monetaristas, falta saber quem dominará nos tempos da globalização.


a resposta é simples: o problema é da falta de liberalização dos mercados! Os bancos centrais mundiais ainda vivem no tempo do socialismo, da intervenção activa no mercado

Não sabem que as crises e recessões servem para purgar o mercado de ineficiências e são saudáveis para a e economia.

Na ânsia de tanto evitar recessões, injectando liquidez massiva ao longo das últimas décadas nas economias e mantendo as taxas de juro artificialmente baixas, mais não fez do que criar bolhas gigantescas que tentaram varrer para debaixo do tapete

O problema é que o lixo já não cabe debaixo do tapete e agora está a rebentar na cara desses mesmos bancos centrais

Em economia como em tanta coisa na vida, os remédios mais difíceis são normalmente os mais eficazes! A via do facilitismo apesar de resolver aparentemente os problemas cria a médio e longo prazo efeitos colaterais muito piores que o problema inicial
Imagem
Free Minds and Free Markets
... forecasting exchange rates has a success rate no better than that of forecasting the outcome of a coin toss - Alan Greenspan (2004)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2475
Registado: 5/11/2002 11:27
Localização: Leiria

por Branc0 » 18/12/2007 10:28

Já que falamos em crise...

Reuters Escreveu:WASHINGTON (Reuters) - The U.S. economy is showing early signs of stagflation as growth threatens to stall while food and energy prices soar, former U.S. Federal Reserve Chairman Alan Greenspan said on Sunday.

ADVERTISEMENT
In an interview on ABC's "This Week with George Stephanopoulos," Greenspan said low inflation was a major contributor to economic growth and prices must be held in check.

"We are beginning to get not stagflation, but the early symptoms of it," Greenspan said.

"Fundamentally, inflation must be suppressed," he added. "It's critically important that the Federal Reserve is allowed politically to do what it has to do to suppress the inflation rates that I see emerging, not immediately, but clearly over the intermediate and longer-term period."

The U.S. central bank has lowered its benchmark interest rate three times since mid-September as a housing downturn, tightening credit conditions, and steep food and energy prices threaten to push the U.S. economy into recession.

But cutting rates can have the unwanted side effect of pushing up prices, so the Fed finds itself in a tricky position of trying to revive growth without spurring inflation.

Last week, U.S. data showed that wholesale inflation rose at the highest rate in 34 years, while consumer prices rose the most in more than two years.

Greenspan repeated his assessment that the probability of a U.S. recession had moved up toward 50 percent but noted that corporate America's debt levels were in good shape, which should help cushion the blow from tightening credit terms.

"The real story is, with the extraordinary credit problems we're confronting, why the probabilities (of recession) are not 60 percent or 70 percent," he said.

"Because of the decline in long-term interest rates for a protracted period of time, American business was able to fund a significant part of its short-term liabilities and take out low-cost, long-term debt, so the credit needs have not been all that large," he said.

Greenspan has drawn some criticism for keeping the trendsetting federal funds rate at a low 1 percent from June 2003 through June 2004, which some argue contributed to a housing bubble that is now bursting spectacularly.

Greenspan said real estate prices will stabilize only when the overhang of unsold new-construction homes begins to ease, and estimated that financial losses could be in the range of $200 billion to $400 billion as securities tied to failing subprime mortgages lose value.

He warned against any sort of government bailout plan for homeowners that interfered with the normal functioning of markets for home prices or interest rates, saying it would "drag this process out indefinitely." Offering cash to stricken homeowners instead would cause less long-term damage, he said.

"It's only when the markets are perceived to have exhausted themselves on the downside that they turn," he said. "Trying to prevent them from going down just merely prolongs the agony."

(Reporting by Emily Kaiser; editing by Steve Orlofsky)
Be Galt. Wear the message!

The market does not beat them. They beat themselves, because though they have brains they cannot sit tight. - Jesse Livermore
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2558
Registado: 8/8/2007 14:38
Localização: Lisboa

Crise com poucas soluções

por Keyser Soze » 18/12/2007 10:20

Crise com poucas soluções

Vivem-se tempos interessantes para quem gosta de economia. A crise financeira internacional, que está a colocar a cabeça em água a banqueiros centrais e ministros das finanças, sublinha a tons vivos uma realidade que se adivinhava: a teoria económica está a ter dificuldades para encontrar respostas para o mundo em mudança.

Bruno Proença

Na última semana, houve mais um episódio ilustrativo. Os banqueiros centrais das economias mais desenvolvidas anunciaram uma acção concertada para resolver a crise financeira. Qual foi a primeira resposta? Os mercados assobiaram para o lado e não ligaram nenhuma. Por um lado, as bolsas continuaram a cair e, na Europa, a Euribor a três meses continuou a bater recordes, sinal de que os agentes económicos decidiram seguir a sua vida e tomar decisões independentemente dos sinais dos reguladores. Isto é a prova de que, neste momento, os banqueiros centrais sofrem de baixa credibilidade. Começa a alastrar como a peste a ideia perigosa de que os instrumentos ao seu dispor – manobrar as taxas de juro e injectar dinheiro no mercado – têm pouco efeito para resolver os problemas. Ou seja, há a impressão de que os responsáveis pela política monetária combatem incêndios florestais com extintores.

O final da década de setenta e início da de oitenta marcaram o enterro da política económica de inspiração keynesiana – John Maynard Keynes foi o mais importante economista do século passado e defendia a utilização da despesa pública para resolver as recessões. Com a crise petrolífera aconteceu o que na altura era impensável, segundo as teorias económicas dominantes: crise económica com desemprego elevado e inflação em alta. Supostamente, acontecia uma coisa ou outra. As duas não. O período ficou conhecido como estagflação – desemprego e inflação em alta em simultâneo – e mostrou que as receitas keynesianas não resolviam o problema.

A partir daqui, as teorias monetaristas – e a sua fusão com alguns princípios de Keynes – vieram substituir as keynesianas enquanto ideias dominantes. Mas os últimos sinais começam a desenhar um quadro conhecido. A actual crise financeira conjugada com a alta do petróleo está a conduzir novamente à estagflação. No entanto, as velhas curas monetaristas estão revelar-se menos eficazes. Com a globalização dos mercados financeiros e dos sistemas de informação, a capacidade de regulação dos bancos centrais está a diluir-se. O dinheiro circula em produtos financeiros cada vez mais sofisticados e os bancos centrais ainda não conseguiram alargar a sua rede de controlo.

A isto soma-se outra novidade. O forte crescimento das economias emergentes como a China e a Índia, bem como os novos combustíveis amigos do ambiente, estão a puxar pelos preços das várias matérias-primas e dos produtos alimentares. Tudo componentes com forte peso na inflação. Portanto, mais combustível para a fogueira.

Ainda é cedo para dizer que a teoria económica está em xeque. Mas é certo que está sob pressão. Basta verificar a falta de consenso entre os economistas na análise da actual crise para verificar que se pode estar perante um momento de mudança de paradigma. Depois de keynesianos e monetaristas, falta saber quem dominará nos tempos da globalização.
____

Bruno Proença, Subdirector
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 69298.html
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 3299
Registado: 8/2/2006 17:32

Anterior

Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: Google [Bot], Hawk66, mjcsreis, niceboy, OCTAMA, PAULOJOAO, SA Traffic e 47 visitantes