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Caldeirão da Bolsa

AmLat - Resumo da semana

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

AmLat - Resumo da semana

por djovarius » 28/3/2003 22:56

Olá, tudo bem? Vamos ao que realmente importa. Esta semana, os investidores começaram a fazer contas à vida em caso de guerra prolongada, levando a correcções nos mercados, ainda que moderadas. Depois da euforia, os analistas pedem cautela perante a possibilidade de uma guerra mais longa do que o previsto. Resta saber se o mundo vai mesmo cair em recessão generalizada. Todos os cenários são possíveis neste momento. E se é verdade que a América Latina estava bem posicionada para a retomada do crescimento, não é menos verdade que é uma das regiões que mais sofrerá no caso de uma crise generalizada, até porque as Finanças da maioria dos países, apesar de alguma estabilidade recente, estão ainda numa posição frágil, com endividamento e sobretudo juros mais altos do que o padrão recente que se verifica na maioria do Hemisfério norte. Para já, há a certeza que Brasil, México e Chile, serão os principais prejudicados caso o conflito se prolongue no tempo. Um menor crescimento económico seria a consequência de menos exportações, sobretudo para os EUA. Finalmente, existe a incógnita chamada petróleo, a acompanhar com muita atenção.

Como não podemos contar com a ajuda do nosso “viajante do tempo” que fez negócios arrasadores um atrás do outro, até ser detido (foi stopado do mercado, assunto já bem debatido hoje no nosso quente Caldeirão), não teremos alternativa senão tentar obter a percepção sobre o que se passa no dia a dia, sabendo que a qualquer momento poderemos ser confrontados com várias surpresas. Para já quem está em alta é o grande Carlos Fino, agora ainda mais famoso graças ao eclodir da guerra em Bagdad. A partir de lá, foi ouvido cá no Brasil, numa longa entrevista em que ele explicou tudo o que se passa, mas com um sotaque ligeiramente “brasileiro forçado”, logo ele que nunca esteve aqui. Foi um momento engraçado de um excelente profissional.

No imediato, há quem facture milhões com o sofrimento alheio. Sempre foi assim em tempos difíceis. Uma empresa brasileira está a produzir a todo o vapor fardamento (incluindo botas) para o exército Americano. Não tem mãos a medir, pois esses uniformes ainda vão para a zona do Golfo Pérsico. Enquanto isso, os vizinhos do Iraque também estão a comprar por aqui. São toneladas de frangos, sinalizando a intenção de manter elevados “stocks” de produtos alimentares. As exportações brasileiras continuam a bom ritmo, mas o investimento directo estrangeiro caiu a pique, tendo o Governo avisado que já é culpa da guerra. Apesar disso, o Real continua a ganhar face ao dólar, tanto pelo sucesso das exportações quanto pelo sucesso da política fiscal, com o executivo a anunciar um superavit primário do orçamento na ordem de 6% do PIB, relativamente a Janeiro e Fevereiro. Os juros continuam a subir e a sufocar o consumo interno. A taxa de desconto mantém-se nos 26,5%, mas pode subir mais a qualquer momento. Motivo? A guerra, claro.

E o México, que viu a sua moeda cair bastante nos últimos tempos, chegou a cotar 11,23 pesos por cada USD, já aliviou graças às exportações de petróleo mais caro que trouxeram mais divisas, as quais permitiram ao Governo intervir no câmbio. É mais um caso de uma Economia dependente dos vizinhos, talvez até demais. Enquanto isso, a Venezuela foi protagonista de uma confusão, esta semana. Apesar do Governo garantir que já produz os mesmos 2,8 milhões barris de petróleo que produzia antes da greve geral, antigos administradores da estatal garantem que só se produz a metade. Isso explicaria as dificuldades financeiras que levaram as autoridades a sugerir que a Venezuela pode precisar de fazer o “swap” da dívida pública, sobretudo dos títulos com prazos muito curtos. Para alguns investidores contactados pelo Governo, isso não será um problema, para outros, cheira a preparação para um calote parcial da dívida. Na quarta-feira, as obrigações do país andaram na montanha russa, mas estabilizaram entre 15 a 16% de yield, o que não configurando expectativas de calote imediato, dão margem para alguma preocupação. A dívida externa total, não é assim tão grande, são cerca de 22 mil milhões de dólares, quase 80% do total em débito. Os optimistas garantem que a exportação de petróleo aos preços actuais vai ajudar bastante à recuperação do tempo perdido devido à greve geral.

E a Argentina vai liberar o dinheiro retido nos Bancos. Já o havia feito em relação às pequenas quantias, agora serão as maiores. Motivo de festa? Nenhum, porque a maioria do dinheiro sai convertida em obrigações do tesouro a 10 anos. Os tribunais terão ainda muito trabalho pela frente. Segue o tango...

Termino fazendo uma referência breve à SAG, empresa do PSI 20, em Lisboa, que apresentou resultados razoáveis, tendo ganho € 6 milhões à conta da Unidas, grande rent-a-car brasileira. Sem problemas cambiais, os lucros serão muito maiores, até porque a Unidas está bem presente em todo o país, de norte a sul, sendo inovadora em termos de “corporate fleet rental”. Os lucros em reais serão bons, se o cambio ajudar.

Para já, parece que sim, o Real sobe e a Bolsa de São Paulo aguenta-se bem. Os investidores estão confiantes de que a economia local vai ser das mais bem sucedidas após a guerra.

Ficam os câmbios médios indicativos do Real – hoje, sexta-feira e do BOVESPA (números prov.)

IBOVESPA – 11.396 pts – o índice desceu 0,2 % na semana
US$ 1 = R$ 3,36 – o dólar desceu 1,1 % na semana
€ 1 = R$ 3,60 – o Euro subiu 0.3% na semana
Obs.) Para quem está a chegar ao Brasil, de férias ou negócios, o câmbio turismo aponta para um valor de R$ 3,51 aprox.

P.S. – Quero dar um abraço ao Rato por ter conseguido desfazer aquele terrível negócio. Quando li o post quase que me deu uma solipanta, logo hoje que o DAX me deu uma alegria. Mas, tudo está bem quando acaba bem. 8-)

Um grande abraço, bom fds

djovarius
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