Batatas e professores
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Batatas e professores
Batatas e professores
Quando vamos à mercearia da esquina comprar batatas nunca nos questionamos como é possível que o Senhor Joaquim as tenha ali à nossa espera. Se numa pequena aldeia onde todos se conhecem é fácil saber o que cada um consome e do que gosta, numa grande cidade, onde existe muita mobilidade, gente que vem e que parte, súbita mudança de hábitos por vias da publicidade, da moda ou de um qualquer efeito mediático, é impraticável tentar fazer o cálculo do que cada um vai comprar num determinado dia. E no entanto as cidades funcionam muito bem nesta matéria. A menos que aconteça algum desastre as batatas nunca faltam.
Este facto torna-se ainda mais notável quando sabemos que nas grandes urbes modernas, a cada momento, só existe comida disponível para poucos dias. Aliás todos nos recordamos das greves de camionistas, pois ao fim de pouco tempo deixa de haver iogurtes e se a coisa se prolongar por mais de uma semana também as batatas começam a escassear.
Então como funciona? Podemos imaginar alguém sentado a um computador determinando quantos quilos de batatas vão para cada mercearia do país. Teria de começar com um número aleatório, mas depois com uma análise regular das sobras poderia até conseguir manter algum equilíbrio. Mas já seria muito difícil gerir um acréscimo de pedido ou uma mudança súbita de apetites. Mais fácil, e é assim que funciona, cada mercearia faz o seu pedido em função de um conhecimento local do consumo dos seus clientes. Se, por exemplo, muita gente começa a preferir arroz em vez de batatas, então o Senhor Joaquim logo altera as suas encomendas pois não quer perder clientes.
Neste domínio a economia planificada revela-se muito desvantajosa face a uma economia que se auto-organiza em função de simples leis de mercado de oferta e procura.
Extraordinário é que desta banalidade de base não se retirem todas as consequências. Faz sentido que um grupo de burocratas sentados na 5 de Outubro decidam onde colocar cada professor no país inteiro? Dando azo às maiores barbaridades, injustiças e evidentes erros clamorosos? Ou não seria mais fácil que cada escola abrisse o seu próprio concurso limitado e local para os professores que precisa?
Como tantas vezes acontece em Portugal, televisões e políticos, consumiram nestas últimas semanas demasiado tempo a tratar do acessório e raras vezes alguém ousou tocar no essencial. Já que o problema não está obviamente num determinado programa informático, mas sim no próprio sistema de colocação de professores. Ainda para mais quando se sabe que o actual procedimento é devastador em questões fundamentais. Por exemplo, na fidelização e relação dos professores com os seus alunos, na estabilidade existencial e profissional dos docentes, na qualidade e distinção dos estabelecimentos de ensino. Como pode uma escola manter um elevado nível de exigência se não pode escolher o seu corpo docente?
A esquerda tem preconceitos quanto aos mecanismos de base, já que identifica a universalidade com o centralismo. A direita que privilegia sempre a hierarquia, o comando e a liderança, também prefere centralizar o exercício do poder e teme a anarquia, ou seja, os sistemas auto-organizados. Uns e outros têm vindo a manter no domínio da educação, mas também em tantas outras áreas, processos primitivos que claramente não funcionam. Depois desculpam-se com os funcionários, com os computadores ou até com o azar que é sempre o melhor argumento para quem não quer assumir responsabilidades.
Muitos dos problemas que afligem Portugal devem-se ao atraso do pensamento de quem manda.
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Quando vamos à mercearia da esquina comprar batatas nunca nos questionamos como é possível que o Senhor Joaquim as tenha ali à nossa espera. Se numa pequena aldeia onde todos se conhecem é fácil saber o que cada um consome e do que gosta, numa grande cidade, onde existe muita mobilidade, gente que vem e que parte, súbita mudança de hábitos por vias da publicidade, da moda ou de um qualquer efeito mediático, é impraticável tentar fazer o cálculo do que cada um vai comprar num determinado dia. E no entanto as cidades funcionam muito bem nesta matéria. A menos que aconteça algum desastre as batatas nunca faltam.
Este facto torna-se ainda mais notável quando sabemos que nas grandes urbes modernas, a cada momento, só existe comida disponível para poucos dias. Aliás todos nos recordamos das greves de camionistas, pois ao fim de pouco tempo deixa de haver iogurtes e se a coisa se prolongar por mais de uma semana também as batatas começam a escassear.
Então como funciona? Podemos imaginar alguém sentado a um computador determinando quantos quilos de batatas vão para cada mercearia do país. Teria de começar com um número aleatório, mas depois com uma análise regular das sobras poderia até conseguir manter algum equilíbrio. Mas já seria muito difícil gerir um acréscimo de pedido ou uma mudança súbita de apetites. Mais fácil, e é assim que funciona, cada mercearia faz o seu pedido em função de um conhecimento local do consumo dos seus clientes. Se, por exemplo, muita gente começa a preferir arroz em vez de batatas, então o Senhor Joaquim logo altera as suas encomendas pois não quer perder clientes.
Neste domínio a economia planificada revela-se muito desvantajosa face a uma economia que se auto-organiza em função de simples leis de mercado de oferta e procura.
Extraordinário é que desta banalidade de base não se retirem todas as consequências. Faz sentido que um grupo de burocratas sentados na 5 de Outubro decidam onde colocar cada professor no país inteiro? Dando azo às maiores barbaridades, injustiças e evidentes erros clamorosos? Ou não seria mais fácil que cada escola abrisse o seu próprio concurso limitado e local para os professores que precisa?
Como tantas vezes acontece em Portugal, televisões e políticos, consumiram nestas últimas semanas demasiado tempo a tratar do acessório e raras vezes alguém ousou tocar no essencial. Já que o problema não está obviamente num determinado programa informático, mas sim no próprio sistema de colocação de professores. Ainda para mais quando se sabe que o actual procedimento é devastador em questões fundamentais. Por exemplo, na fidelização e relação dos professores com os seus alunos, na estabilidade existencial e profissional dos docentes, na qualidade e distinção dos estabelecimentos de ensino. Como pode uma escola manter um elevado nível de exigência se não pode escolher o seu corpo docente?
A esquerda tem preconceitos quanto aos mecanismos de base, já que identifica a universalidade com o centralismo. A direita que privilegia sempre a hierarquia, o comando e a liderança, também prefere centralizar o exercício do poder e teme a anarquia, ou seja, os sistemas auto-organizados. Uns e outros têm vindo a manter no domínio da educação, mas também em tantas outras áreas, processos primitivos que claramente não funcionam. Depois desculpam-se com os funcionários, com os computadores ou até com o azar que é sempre o melhor argumento para quem não quer assumir responsabilidades.
Muitos dos problemas que afligem Portugal devem-se ao atraso do pensamento de quem manda.
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