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Caldeirão da Bolsa

Prepotência infinita

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Visitante » 7/5/2004 13:27

Quando li o post num site privado, decidi partilhá-lo convosco, por retratar precisamente o meu sentimento e ser uma imagem real do que se vive hoje

Desta forma, informo tb que não foi o próprio que postou mas um leitor e participante bastante assiduo do caldeirão

Desculpem não colocar no final do post o meu nick

económico
Visitante
 

Exmo Sr. Cónego...

por Scubawarrior » 7/5/2004 13:14

....sou católico e estou profundamente orgulhoso por ouvir alguém que é sacerdote da igreja católica vir a terreiro expor de forma brilhante o seu pensamento que concordo em absoluto.


Muito obrigado Senhor Cónego e votos de muita saúde





cumps
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Fear blind us the opportunity, greed blind us the danger!
 
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Talvez em Novembro....

por Ferreirinha » 7/5/2004 13:04

algo vá mudar.... :)
Ferreirinha
 

Valves

por valves » 7/5/2004 12:54

Excelente ... aliás devo mesmo dizer que a Hierarquia da Igreja Catolica tem se pautado de grosso modo por uma intervenção muito equilibrada e muito sensata dos problemas internacionais que assolam o mundo de hoje.
Aqui no Caldeirão no Longo Prazo estamos todos ricos ... no longuissimo prazo os nossos filhos estarão ainda mais ricos ...
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por Visitante » 7/5/2004 11:47

Excelente. Sou ateu, mas gostei.Parabéns e que se cumpram os seus (nossos) desejos.
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Prepotência infinita

por Visitante » 7/5/2004 11:37

O terrível atentado contra os Estados Unidos, tão presente ainda na memória e na consciência do mundo, está expondo certos aspectos importantes de nossa vida e do nosso mundo. Quem dera fôssemos capazes de ler com sabedoria este sinal dos tempos.

Primeiramente, quanto à fugacidade e debilidade de todas as coisas. Os estadunidenses, do alto de sua riqueza e da prepotência do seu país, jamais esperavam que alguém os agredisse com tanta ousadia e sucesso. E, no entanto, eis o Gigante do Norte, ferido, uivando feito um urso agoniado, tão vulnerável e frágil como tudo neste mundo que passa! Aos estadunidenses e a nós, é importante recordar que tudo passa, que não há segurança nem grandeza absolutas... Só o Senhor é Deus!

Uma segunda lição, dolorosa: desde a queda do Muro de Berlim e a derrota do Iraque na Guerra do Golfo, anunciava-se uma nova ordem no mundo, um período de paz e prosperidade, sob a liderança estadunidense... O lobo e o cordeiro poderiam, enfim, viver juntos: globalização, internet, áreas de livre comércio... até Deus tornar-se-ia globalizado pelo indiferentismo e o relativismo, presentes no lado de cá e no lado de lá do oceano... Agora, o sonho acabou! O que vemos é um mundo dilacerado pela violência, pelas guerras, pela brutal diferença entre países ricos e pobres, pela injustiça e tirania das leis do comércio globalizado... Que surpresa: o velho pecado continua presente no coração do homem... homem velho, dividido, até que se abra para o único que nos dá a paz – o Cristo Jesus, que fala no Evangelho e também no íntimo de nossa consciência! Como, de repente, tornou-se cortante a advertência sálmica: “Se o Senhor não construir a nossa casa, em vão trabalharão seus construtores, se o Senhor não vigiar nossa cidade, em vão vigiarão as sentinelas...” Que mundo estamos construindo, que ordem mundial, que sociedade, pisando os verdadeiros valores?

Uma terceira lição, prática, bíblica, antiqüíssima: a paz é fruto da justiça! Não teremos paz sem uma ordem mundial justa! De onde vieram aqueles aviões malditos e aqueles terroristas insanos? Vieram da prepotência, primeiro dos ingleses do velho império, depois, de seus sucessores, os estadunidenses, com sua política imperialista e parcial pelo mundo a fora. O governo dos Estados Unidos sempre falou em liberdade e democracia, mas na prática, defende e sustenta regimes cruéis e despóticos, desde que lhe interesse. De modo particular, durante todos esses anos, teve uma política francamente desfavorável aos povos árabes. Além disso, sempre foram os estadunidenses os primeiros esteios da atual ordem econômica, fabricante de miseráveis pelo mundo a fora. Resultado: a pobreza, a ignorância, o desespero, a amargura, o fanatismo, caldo pronto, substancioso para nutrir o terrorismo! Sem justiça, sem diálogo, sem tratamento respeitoso e equânime entre as nações, não haverá paz!
Ao lado dessas três lições, algumas observações tristes, muito tristes...

O povo estadunidense e seu Presidente sofrem de um complexo messiânico-megalomaníaco inacreditável: eles se acham o Bem, a encarnação da justiça do mundo, os mocinhos puros e perfeitos, lutando contra o mundo mal! Seria cômico, se não fosse trágico e muito perigoso! Eles dizem, com um cinismo impressionante: “o governo afegão é culpado porque hospeda um terrorista!” Esquecem que eles ajudaram os ditadores assassinos da América Latina, esquecem da operação Condor, do bombardeio do palácio presidencial chileno, da tortura que a inteligência dos Estados Unidos ensinou a nossos militares... Esquecem dos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila onde, com a conivência dos Estados Unidos, 17.800 palestinos (mais do triplo dos mortos deste atentado atual) foram brutalmente assassinados... Esquecem das duas bombas atômicas sobre o Japão, do calvário do povo do Iraque, que não tem culpa pelo tirano Sadam Hussein... Os estadunidenses não são o Bem, nem Bush é o delegado de Deus para fazer justiça na terra. Aliás, dá medo ver como se usa aqui o nome de Deus, como se repete freqüentemente “Deus abençoe a América”... qual Deus? O de Jesus Cristo, aquele que disse que eram abençoados os pobres, os que têm fome, os que choram, os que têm misericórdia, os mansos, os que são perseguidos? Foi de doer na alma escutar o maior pregador estadunidense, o Pastor protestante Billy Gram dizer, em pleno culto ecumênico, que as duas torres derrubadas, símbolo do poderio econômico estadunidense, poderiam cair, mas o poderio dos Estados Unidos não cairiam! Idolatria pagã igual a essa não tem nada a ver com o Evangelho! É a teologia da prosperidade, tão famosa por lá e tão propagada pelas novas seitas protestantes por aqui! Até o nome da operação de vingança é prepotente, blasfemo: “justiça infinita”! Só a justiça de Deus é infinita porque é infinitamente paterna, amorosa, compassiva e salvífica! A justiça pura, cega é injusta. Os romanos já diziam que a justiça rígida é suma injustiça, porque fria e inumana!

Uma última observação triste, muito triste: como, no mundo, somente os grandes valem! Quanta bajulação internacional! Nunca se viu minutos de silêncio pela África que morre de fome e aids, não se cantou mundo a fora o hino dos palestinos pelas vítimas de Sabra e Chatila, a CNN não se condoeu pelas criacinhas do Iraque, pelos famintos do mundo pela opressão das nações ricas... Entre as nações, como entre as pessoas, vale quem tem: a vida de um estadunidense ou de um europeu ocidental ou de um membro do G-7 vale mais que mil terceiromundistas subnutridos! Ainda bem que aos olhos de Deus as coisas não funcionam assim: o Senhor se compadece do pobre e conhece os soberbos de longe!

Fique-nos uma advertência ainda: o bem, o mal, onde estão? No coração de cada um de nós, ricos ou pobres, estadunidenses ou árabes, cristãos ou islâmicos... o bem e o mal estão no coração do Presidente Bush e no coração do terrorista Osama bin Ladem... A linha entre o bem e o mal não passa entre um homem e outro, mas entre um lado e outro do coração de cada um de nós... Que a luz de Cristo nos ajude a fazer a opção pelo bem, a verdade, a justiça e a paz!

Cónego Henrique Soares da Costa
Bons negocios
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