Caldeirão da Bolsa

Resposta a Alquimista

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Resposta a Alquimista

por O Alquimista » 21/1/2015 13:32

Amigo Cem,

Certamente já te apercebeste que quem frequenta os mercados financeiros consegue demonstrar A e o seu contrário, não em termos de verdade/falsidade, mas em termos de "exemplos de A/exemplos do contrário de A". Vem isto a propósito da tua frase
Historicamente este sistema de trading que usei consegue retornos anuais na casa média dos 20% para alavancagens de 1.0 e volatilidades consideradas médias. As ações de maior retorno não foram as que melhor se portaram ao longo do ano, pelo contrário, no caso da carteira em causa houve até a curiosidade da maior rentabilidade individual ter sido precisamente obtida na pior ação, o BES! Conclusão óbvia: os retornos do sistema nada têm a ver com a performance dos ativos que constituem a carteira mas sim com o acerto das tendências ascendentes ou descendentes que o sistema de trading consegue detetar numa fase prematura do seu arranque no respetivo movimento direcional.


Primeiro: olhando para o meu sistema de investimento diria precisamente o contrário (utilizando a alavancagem de 1.0). Mas, lá está, será uma questão inerente ao próprio sistema: há uns que dão mais e há outros que dão menos. No meu caso, os retornos da carteira dependem da performance dos activos onde seja implementado, pois o sistema que sigo nada tem de mágico. Dois exemplos provenientes de duas carteiras que publico neste fórum:
- na carteira primitiva foi adquirida em Outubro de 2014 uma acção e no fim do ano, quando fiz o mark-to-market, registava uma valorização próxima dos 30%. Repito: foi adquirida em Outubro de 2014 (imagine-se o ganho que não seria se me tivesse alavancado, e não precisaria de muito para já ter duplicado o capital).
- no FI Alquimia 2015 foi, além do mais, adquirida, neste mês, uma acção que neste momento, caso fizesse o mark-to-market, teria uma valorização pouco inferior a 10%.
Segundo: se tivesses usado a pertinente alavancagem, com o sistema que usaste em 2014 terias duplicado o capital. Portanto, parece-me que não é uma questão de sistema de negociação propriamente dito (quando entrar ou sair do mercado de uma pura perspectiva de AT ou AF), mas de uso de alavancagem. E nesta sede não há boa ou má alavancagem, apenas bom ou mau uso dela.

Relembro que o grande objectivo deste fundo é duplicar o investimento no prazo de um ano sem recorrer, como tive oportunidade de dizer aquando da sua criação, àquilo que designo por alavancagem artificial (que não seja natural ao próprio instrumento: neste sentido o fx cash e cfd proporcionam uma alavancagem artificial; por sua vez, um contrato de soja negociado em bolsa tem alavancagem "natural").

Vejo que também tens o objetivo de dobrar o capital no final do ano. A diferença é que tu largaste as acções e vais tentar usar a alavancagem natural, eu quero ir primordialmente pelas acções, passando também por fundos, etf e futuros. Uma acção já está na carteira, ao lado, imagine-se, de dois etf. Curiosamente, a carteira não tem nenhum instrumento (futuro) com que seria mais fácil alcançar o desiderato dada a alavancagem. Chegarei lá? Lá estou eu com a mania de correr descalço e sem doping.

Uma palavra final: tu disseste que querias duplicar o capital e certa "bancada" nem tugiu nem mugiu. Se fosse o Alquimista a dizer tal "barbaridade" há algum tempo, nem quero imaginar que objectos seriam arremessados da assistência. Nota-se pois uma saudável evolução: "Ai não vão pela palavra? Então irão pelo exemplo!".

No final do ano faremos contas. A não ser que consigamos o objectivo antes.

Abraço e boa sorte!
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Resposta a Alquimista

por Cem pt » 21/1/2015 4:22

“Cem pt Escreveu:

Recentemente dediquei-me em exclusivo ao trading de “commodities” para além da minha profissão do dia-a-dia, um tipo de Mercado “sui generis” onde as grandes alavancagens podem gerar dias de elevados lucros e risco de pesadas perdas na carteira “hedge fund” de caráter pessoal.

Negociar ações, para quem tiver como objetivo uma valorização rápida da sua conta pessoal, é realmente um desperdício de tempo!

Não admira portanto que tenha passado a ler alguns “sites” que se dedicam exclusivamente a esta modalidade do trading para acompanhar as novidades que possam ter os assuntos ligados a esta atividade apaixonante, para mim a verdadeira Fórmula 1 onde verdadeiras fortunas se constroem e destroem em sessões verdadeiramente mirabolantes e avassaladoras em termos de resultados.

Um dos meus “sites” preferidos nesta modalidade é o “Inside Futures” onde se podem encontrar artigos e conselhos excelentes sobre a melhor forma de abordar a negociação dos futuros de mercadorias.

Fica como exemplo um artigo abaixo que selecionei do CTA Don Dawson, vale a pena reter alguns dos seus prudentes avisos. (...)”


Amigo Cem,

Ao ler a frase que sublinhei fiquei a pensar se esse alegado desperdício sucede (isto em abstracto, como é evidente):
a) por causa das acções que são seleccionadas para investir;
b) por causa do método que se usa, em toda a sua vertente (técnica de trading, timeframe, etc.);
c) porque se pensa que se tem um bom plano;
d) outros.

Estranho esse sentimento vindo de ti porque há algum tempo destacaste o alfa da tua carteira com o psi20 e este levava uma banhada, e não era preciso recorrer ao curto no bes, que então qualifiquei de outlier.

É curioso mencionares o Don Dawson, não quanto à mensagem que transmite ( para mim é sempre mais do mesmo: há algum tempo neste fórum eram colocadas citações e citações de um outro autor mas o colega forista deve ter-se chateado porque não mais o fez), mas quanto a uma outra situação: se já reparaste, ele integra o site online trading academy e esta organização tem uma newsletter gratuita que semanalmente envia onde são publicados vários textos escritos pelo Don e seus colegas. Um desses colegas é o Sam Seiden, que citei a propósito já não sei de quê, mas a reacção da bancada também foi...enfim, "mais do mesmo". Voltando ao Don: os seus artigos sobre as características dos respectivos mercados/futuros são, sem dúvida, muito importantes.

Seria engraçado ver-te abrir um tópico no caldeirão com esta nova aventura.

Para finalizar, uma pergunta: agora que entraste nos futuros, vais passar a usar stops? Verdadeiramente, não entraste pois já negociavas por ex. a soja.

Abraço e boa sorte.



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Amigo Alquimista:

Para não estar a poluir o assunto que expuseste no excelente tópico do “Winning the loser’s game” do LTCM, já que seria incorreto da minha parte misturar assuntos de carteiras pessoais com princípios genéricos da prática do trading, tomei a iniciativa de te responder desta forma uma vez que abordo também aqui alguns temas que me parecem de elevada importância para quem se quiser dedicar ao trading profissional.

Indo direto às questões que colocaste, respondo também de forma concisa e rápida e em seguida faço algumas considerações que considero importantes a quem se dedicar ao trading de carteiras alavancadas, como é o caso deste portefólio exclusivamente dedicado aos futuros no ano de 2015, e espero que da mesma forma extensiva aos anos seguintes se tudo correr conforme o ambicioso plano que tracei no arranque deste ano.

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Assim, o desperdício de tempo de negociar ações decorre exclusivamente da conjunção de 2 fatores cruciais:

1 - Possuíres e usares um sistema de trading ou um método de negociação que comprovadamente retorne a longo prazo uma rentabilidade anualizada sistematicamente positiva. Tomando como exemplo o sistema de trading que utilizei o ano passado: em 9 ativos financeiros diferentes (6 ações, 2 “commodities” e 1 par cambial) no final do ano a carteira terminou positiva em todos eles, mas para isso tive de usar posições longas, neutras e curtas ao longo do ano, conforme o total líquido obtido em todas as 99 trades de 2014:

- TDSA: +3.90%
- EurUsd: +5.87%
- Banif: +7.96%
- BCP: +9.10%
- BPI: +10.83%
- CTT: +13.78%
- Soja: +16.50%
- Crude Oil: +27.74%
- BES: +100.12%

2 - As ações têm apenas um fator de alavancagem igual à unidade. Como tal o seu retorno potencial é reduzido, melhor dizendo, limitado. Historicamente este sistema de trading que usei consegue retornos anuais na casa média dos 20% para alavancagens de 1.0 e volatilidades consideradas médias. As ações de maior retorno não foram as que melhor se portaram ao longo do ano, pelo contrário, no caso da carteira em causa houve até a curiosidade da maior rentabilidade individual ter sido precisamente obtida na pior ação, o BES!

Conclusão óbvia: os retornos do sistema nada têm a ver com a performance dos ativos que constituem a carteira mas sim com o acerto das tendências ascendentes ou descendentes que o sistema de trading consegue detetar numa fase prematura do seu arranque no respetivo movimento direcional.

Desta forma concluo que se estiver mais ou menos seguro que consigo detetar uma boa tendência num estágio relativamente inicial e seguir o mais que puder o princípio do “go with the trend”, sei que isto nem sempre é fácil de seguir na prática pela maioria dos traders, podemos multiplicar os retornos previstos se usarmos uma alavancagem razoável, como é o caso dos futuros , desde que seja condizente com a performance histórica do método de negociação utilizado, tendo em conta o “drawdown” da carteira e o “Optimal f”.

Só interessará nesse caso procurar acertar o sentido do movimento e aproveitar o fator multiplicador da alavancagem, “easy task”!

Se tiveres as ferramentas certas no método de negociação que usas e a isso corresponder a alavancagem otimizada assegurada dos contratos que vais colocar em risco, passas a gerir um negócio que é simplesmente um dos mais promissores do mundo em termos da rentabilidade esperada.

Passando ao caso pessoal da carteira de futuros que aqui estou a introduzir, na realidade passei a possuir uma máquina potencial de fazer dinheiro, embora sujeita obviamente a riscos significativos, mas já lá vamos.

Esta carteira alavancada creio que possui um potencial de retorno anualizado que poderá ficar no intervalo dos 80% aos 100% (pode parecer impossível, mas tenho de ver para crer que não possa ser verdade!) uma vez que usa uma alavancagem média de 4.3 que multiplica por cerca de 20% ao ano para ativos não alavancados. Há que ter em conta que a carteira vai ainda por cima acumulando mais e mais contratos em termos de money management à medida que o saldo suba de valor de forma mais ou menos constante ao longo do ano, o efeito mágico da exponenciação a trabalhar.

Uma das razões que refleti para avançar com este tipo de estratégia de trading, para formar a convicção de que a melhor carteira possível na obtenção de grandes retornos deveria ser recorrendo a contratos de futuros bem diversificados, está também relacionada com o ponto de vista de que as ações seguem muito o seu índice natural, ou seja, uma carteira com uma maioria de ações sobe ou desce maioritariamente quando o seu índice de referência sobe ou desce quase sempre em sintonia, possui uma correlação muito positiva nos seus ativos constituintes.

Por outro lado uma carteira composta por futuros pouco correlacionados deverá possuir um risco conjunto de “drawdown” bastante mais otimizado ou suavizado, uma vez que mistura índices de ações com metais, cereais, pares cambiais e energia.

Uma vez que se trata de uma carteira atualmente com 6 dígitos, resolvi incluir calmamente 10 contratos de futuros diferentes. Os seus valores à partida e a todo o instante, na altura em que tenho de aumentar (ou diminuir!) o número de contratos em função do avanço do saldo global da carteira, representam cada um 10% do valor da carteira.

Em função do inverso da volatilidade histórica recente de cada “commodity” aqui ficam para curiosidade as alavancagens consideradas em cada componente da carteira:

- EurUsd: x 13.1
- JpyUsd: x 7.1
- Ouro: x 4.5
- Trigo: x 4.0
- Soja: x 3.6
- Milho: x 3.1
- Petróleo: x 2.5
- Prata: x 2.1
- Euro Stoxx 50: x 2.0
- Gás Natural: x 1.2

Isto representa uma alavancagem média ponderada de x 4.3.

Outra questão que levantaste: uso ou não uso stops, uma vez que agora se tratam de ativos em média bem alavancados?!

Resposta: não, continuo a não utilizar stops! Trata-se de uma loucura / teimosia ou dum risco ponderado que medi à partida?

É obviamente um risco, umas vezes vou levar uma banhada mas na maioria das situações espero acumular um pecúlio suficiente que me resguarde de situações mais “estranhas” que inevitavelmente ocorrerão.

Até agora neste ano de 2015, num total de 11 negócios iniciados, todos do tipo tendencial, os resultados de retorno YTD são meio loucos em relação ao capital dedicado a cada um dos futuros (10% do capital total), como se pode constatar:

- EurUsd: +57.39% (posição atual: curta)
- Petróleo: +32.97% (posição atual: curta)
- Trigo: +18.90% (posição atual: curta)
- Euro Stoxx 50: +7.83% (posição atual: longa)
- Soja: +7.59% (posição atual: curta)
- Gás Natural: +5.11% (posição atual: curta)
- Ouro: 0.00% (posição atual: neutra)
- Milho: -6.00% (posição atual: curta)
- JpyUsd: -9.52% (posição atual: neutra)
- Prata: -29.60% (posição atual: neutra)

- Rentabilidade da carteira global YTD até 20 de janeiro: +8.47%
- Maior “drawdown” registado até à data presente, em 2015: 1.68%

Há quem possa fazer um sério reparo: “Ah, ah! Aí está, um erro de palmatória! Afinal perdeste na Prata 29.60%, isso não é criminoso numa carteira quando dizem que só se deve perder em cada negócio cerca de 2% do capital total?”

Bem, é e não é! Se a carteira fosse dedicada só a um único futuro é óbvio que havia algo muito errado na sua composição, mas neste caso cada um dos futuros representa apenas 10% da carteira total e portanto a maior perda da carteira na realidade representou 29.60% x 10% da carteira = 2,96%.

Numa carteira alavancada que permite obter ganhos e perdas mais acentuados que o normal, como é o caso, eu diria que o sistema de trading não deverá em princípio permitir perdas em trades individuais superiores a 5%.

Reconheço contudo que num caso ou outro mais excecional esse limite poderá vir a ser ultrapassado uma vez por outra, uma vez que o não uso de stops terá certamente esse inconveniente.

No entanto, pelas minhas contas baseadas em estatísticas, isso poderá acontecer uma vez em cerca de cada 50 perdas, um valor que espero ser facilmente absorvido pelos enormes ganhos que claramente se compensarão no lado das trades vencedoras, uma vez que o sentido correto das tendências dominantes serão o grande “plus” que representará a estratégia dominante que deverá conduzir ao rápido crescimento do valor da carteira!

Um caso muito curioso é o que se regista para já no risco global da carteira: apesar da maior perda individual, no caso referido da Prata, se ter obtido uma perda de 2.96% do valor total do portefolio, a maior perda sofrida até agora na evolução do capital total, devido à compensação dos ganhos dos seus restantes componentes, foi até agora de apenas 1.68% conforme o maior “drawdown” registado até agora em 2015 no seu conjunto!

Trata-se duma situação de risco suavizada que se deve à mistura da baixa correlação dos vários tipos diferentes de futuros, o que permitirá por enquanto admitir a possibilidade de chegar à conclusão que poderia estar a usar uma maior alavancagem em cada um dos futuros da carteira.

Por enquanto ainda vai sendo cedo para pensar em aumentar riscos, há que dar tempo ao tempo e para já com este andamento posso sonhar em ter uma carteira que poderá atingir o tal objetivo de dobrar o capital no final do ano, aguardemos…

Quanto à “banhada” da gestão ativa da carteira medida pelo “Alpha”, na verdade o ano de 2014 foi excecional. Foi bom demais, para ser correto, e estou convencido que dificilmente tal performance de +48.41% anuais seria irrepetível naquele tipo de carteira composta maioritariamente por ações. Com toda a probabilidade dificilmente eu conseguiria repetir aquela performance em condições similares, mas por acaso em 2014 aconteceu.

O certo é que para já, em 2015 e ainda numa fase muito prematura do ano, comparando a performance atual da carteira com o índice global das “commodities” (Reuters – Jefferies CRB) o andamento vai mais ou menos no mesmo sentido uma vez que ainda nem passou um mês e o “Alpha” consegue estar para já positivo em mais de 10% (=+8.47% - (-4.78%) = 13.25%), um cenário que é um bom augúrio de que há métodos e métodos para nos posicionarmos ou podermos negociar de forma mais “correta” nos mercados financeiros.


Abraço e bons negócios.
O autor não assume responsabilidades por acções tomadas por quem quer que seja nem providencia conselhos de investimento. O autor não faz promessas nem oferece garantias nem sugestões, limita-se a transmitir a sua opinião pessoal. Cada um assume os seus riscos, incluindo os que possam resultar em perdas.


Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


O day trader trabalha para se ajustar ao mercado. O mercado trabalha para o trend trader! - Jay Brown / Commodity Research Bureau
 
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